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Com apenas 21 anos, Vladyslav Bukhov conquistou a medalha de ouro nos 50 metros livres no Campeonato do Mundo de Desportos Aquáticos, em Doha, em apenas 0,01 segundos.

Na altura, Bukhov era relativamente desconhecido no mundo da natação de elite. No entanto, deixou o Catar como uma das maiores surpresas do campeonato, superando os dois ex-campeões, Cameron McEvoy e Ben Proud, na final.

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Em entrevista à CNN Sports antes da etapa de natação do Mundial de Desportos Aquáticos de 2025 em Singapura, o jovem de, agora, 22 anos revelou o quão longo foi o caminho até à medalha de ouro que conquistou no ano passado.

"As pessoas olham e veem que sou campeão mundial. Mas o que elas não veem é o quão longo é o caminho e a jornada até aquela medalha e pódio", disse Vladyslav Bukhov.

Apesar de nadar desde os sete anos, o ucraniano só começou a competir aos 15.

"Experimentei todos os desportos quando era criança. A natação só se tornou o meu foco principal durante a adolescência", lembrou.

A fuga da invasão russa de 2014

Em 2014, antes da atual guerra na Ucrânia, forças paramilitares russas invadiram a cidade natal do nadador, Donetsk, na região de Donbass, no leste do país.

Com apenas 11 anos, Bukhov foi forçado a deixar a sua casa, juntamente com a família, e viajar cerca de 10 horas até Kiev.

“Foi um momento muito assustador para todos nós”, disse o nadador. “Eu era muito novo na altura, então não entendia completamente o que se estava a passar".

“A minha maior memória é apenas a tristeza de ter que deixar o lugar onde morava e mudar-me para um sítio completamente novo.”

Depois de quase oito anos na capital do país, a dor de fugir de Donetsk começou a parecer uma lembrança distante para Vladyslav Bukhov. No entanto, as memórias voltaram à tona em fevereiro de 2022, quando as forças russas cruzaram a fronteira a leste da Ucrânia e cercaram Kiev poucos dias depois.

"Achei que tínhamos deixado toda a luta para trás. Quando acordei naquela manhã e ouvi a notícia de que Kiev tinha sido cercada, tive dificuldade em acreditar que a minha família e eu estávamos na mesma situação novamente."

Treinar em zona de guerra

Três anos depois, a vida na Ucrânia ainda não voltou ao normal.

Para atletas de elite, que dependem de uma rotina e estabilidade, o treino e a preparação tiverem que ser fortemente adaptados.

"É impossível treinar normalmente. Não conseguimos fazer as coisas simples do dia a dia, quanto mais todas as coisas que os atletas profissionais têm de fazer", disse Bukhov.

“As sirenes de ataque aéreo interrompem constantemente as nossas vidas, seja na piscina, no ginásio ou apenas a tentar dormir à noite. Não conseguimos fazer nada sem esse medo constante.”

Nos últimos meses, o atleta afirma que os ataques com drones e mísseis contra Kiev parecem estar a aumentar com frequência.

"A Rússia tem nos bombardeado quase todas as noites. Na semana passada, um míssil atingiu uma área próxima em Kiev e mais de 30 pessoas morreram".

"É claro que te assusta, porque todas as noites, quando vais para a cama, não sabes se vais viver ou morrer, se vais acordar na manhã seguinte. Cada dia tornou-se uma lotaria".

Vladyslav Bukhov conta que já foram várias as ocasiões em que estava na piscina, com os seus colegas de equipa, e as sirenes começaram a tocar, forçando-os a correr para os abrigos, ainda enrolados a toalhas.

"Nunca sabemos quanto tempo temos na piscina antes de ter que sair, então é uma questão de fazermos o máximo que podemos, enquanto der".

Representar a nação em tempos de guerra

"Como atleta, sinto-me ainda mais orgulhoso agora. Estou a competir por mais do que apenas a minha própria glória", disse o jovem de 22 anos.

Mesmo antes da guerra, Bukhov diz que sempre deu tudo para ver a bandeira ucraniana hasteada no pódio. Porém, agora a paixão é ainda mais forte.

"Quando viajo para o exterior para competições, sou um dos poucos sortudos que consegue ausentar-se temporariamente da guerra. … Pessoas normais não têm descanso dos bombardeamentos e das sirenes, então tento fazer a minha parte à minha maneira."

“Digo a mim mesmo que se eu nadar rápido e continuar a quebrar recordes, as pessoas em casa terão uma pequena distração da realidade e sentirão orgulho de que a Ucrânia ainda tem sucesso, apesar de tudo".

Aspirações para o mundial

Vladyslav Bukhov quer voltar à sua melhor forma no Mundial de Desportos Aquáticos, algo que não conseguiu nos Jogos Olímpicos de Paris, no verão passado.

Após ter sido coroado campeão mundial poucos meses antes dos Jogos, o ucraniano teve dificuldades em continuidade ao desempenho inovador, ficando em 11º lugar nos 50 metros livres.

"Nas Olimpíadas, fiquei muito dececionado. Fiquei um pouco doente e não consegui dar o meu melhor nem atingir os meus próprios padrões", disse.

"Estou a ir para Kallang com um objetivo, nadar mais rápido do que nunca... Vamos ver onde isso me deixa no pódio."

A própria viagem até Singapura é outro lembrete das consequências da guerra. Com o espaço aéreo da Ucrânia fechado, Bukhov terá que apanhar um comboio de nove horas até à fronteira polaca, antes de chegar à cidade de Chelm. De lá, fará outra viagem de comboio de três horas até Varsóvia, onde finalmente embarcará num voo para Singapura.

"Não é o ideal, mas já estamos habituados", disse Bukhov. "A jornada será longa, então preciso de garantir que vale a pena."