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George Retes viu os planos para o aniversário da filha de três anos desmoronarem-se quando foi detido sem explicação por agentes federais, conta à CNN Internacional.
Durante três dias, esteve preso, ferido e sem contacto com a família, num centro de detenção em Los Angeles, sem nunca ter sido formalmente acusado de qualquer crime. Retes, de 25 anos, trabalhava como segurança contratado numa das estufas da Glass House Farms, em Camarillo, onde ocorreu a rusga.
Tinha preparado com entusiasmo a festa da filha: um insuflável, doces, presentes e a família reunida no parque. “Estava tão entusiasmado por vê-la fazer três anos, só queria vê-la feliz no seu dia”, disse, emocionado. “E doeu tanto não poder estar lá.”
No dia da rusga, Retes saiu de casa sem saber o que se estava a passar. Ao chegar à quinta, encontrou protestos, confusão e uma barreira de agentes da imigração. Tentou explicar que era cidadão americano e que apenas queria entrar para trabalhar. “Pensei que não haveria problema se me identificasse e dissesse o que estava a tentar fazer.”
No entanto, os agentes recusaram-se a ouvi-lo. Voltou ao carro, mas a tensão aumentou: os agentes rodearam o veículo e começaram a dar ordens contraditórias. “Mandavam-me sair do carro, recuar, estacionar… tudo ao mesmo tempo.” Quando tentou afastar-se, a situação tornou-se violenta: “Partiram o vidro do lado do condutor e borrifaram-me com spray de pimenta na cara. Lembro-me de sentir um pedaço de vidro cortar-me a perna.”
Depois de o arrastarem para fora do carro, foi atirado ao chão. “Tive um agente ajoelhado nas minhas costas e outro no pescoço”, contou, lembrando que já tinha lesões da sua missão no Iraque, em 2019. Ofegante por causa do gás, gritou que não conseguia respirar, mas foi algemado e levado sem que lhe dissessem o motivo da detenção.
Durante horas, foi transferido entre locais sem saber onde estava nem porque estava preso. “Sentei-me ali durante horas a perguntar por que estava ali, porque estava a ser preso, e ninguém me soube responder. Nem sequer sabiam quem me tinha prendido.”
Foi depois levado para o Metropolitan Detention Center, em Los Angeles, onde foi colocado numa cela sob vigilância de risco de suicídio, com luzes permanentemente acesas, sem acesso a cuidados médicos e sem possibilidade de contactar a família. “Estava sozinho com os meus pensamentos. Pensava se algum dia iria sair, se alguém sabia sequer o que me tinha acontecido. Só pensava que nunca mais ia ver os meus filhos.”
Mesmo com a perna ferida e a pele a arder por causa do spray, não lhe foi permitido tomar banho nem recebeu qualquer assistência médica. “Nunca me deram hipótese de tomar um duche, e apesar de ter pedido ajuda para a ferida, nunca fui tratado.”
Só três dias depois foi libertado, sem qualquer acusação formal. Quando perguntou aos guardas se tinha sido preso sem motivo, respondeu apenas com silêncio: “Então basicamente estive preso sem razão e perdi o aniversário da minha filha por nada?”, questionou.
Ao sair, foi recebido pela mulher e levado até casa dos pais, onde os filhos o esperavam. “Assim que vi a minha mulher, soube que era real, que finalmente estava fora.” Os filhos correram para os seus braços, gritando “papá”. “Foi a melhor sensação de sempre. Nunca vou esquecer. Foi tão bom poder abraçá-los.”
Apesar do alívio, o impacto emocional permanece. “Ninguém merece ser tratado assim. Não devia importar se sou veterano, se sou cidadão americano, a cor da minha pele ou se sou imigrante.”
Disse ainda ter pedido desculpa à filha por ter faltado ao seu dia especial. “Ela é tão pequena, nem consegui explicar-lhe porque faltei. É algo com que vou ter de viver para o resto da minha vida.”
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