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Um dos maiores complexos, o KK Park, localizado junto ao rio Moei, na cidade de Myawaddy, cobre 210 hectares e possui hospital, restaurantes, bancos e vilas para a gestão do espaço. Embora pareça um campus tecnológico, trata-se da linha da frente de uma indústria multibilionária de fraude online, que utiliza trabalhadores escravizados e está marcada por violência extrema e tortura.
Segundo dados do Australian Strategic Policy Institute (Aspi), o número de centros de fraude em Myanmar junto à fronteira tailandesa mais do que duplicou desde o golpe militar de 2021, passando de 11 para 27 complexos, com uma expansão média de 5,5 hectares por mês. Imagens de drones e fotografias captadas pelo The Guardian mostram construção ativa e novas infraestruturas em locais como Tai Chang e Shwe Kokko, incluindo docas flutuantes e antenas de satélite para contornar cortes de eletricidade e internet.
Os relatos de vítimas libertadas revelam tortura e punições severas. Entre elas está Mateo, das Filipinas, que passou seis meses preso no KK Park, obrigado a enganar centenas de homens americanos em redes sociais e punido com armas de choque e trabalhos forçados se não cumprisse metas. Outros sobreviventes sofreram perdas de membros, cegueira ou incapacitação permanente.
Especialistas alertam que estes centros tornaram-se uma parte essencial da economia de conflito da junta militar birmanesa, permitindo-lhe manter relações com milícias armadas que lucram com estas operações, sem que o governo militar consiga agir de forma significativa sem comprometer o seu poder.
Organizações internacionais de ajuda e direitos humanos criticam a subestimação global destes centros de fraude, alertando que este fenómeno se pode expandir para outros países, como Sri Lanka e Nigéria. Apesar de algumas operações de resgate já terem libertado cerca de 7.000 pessoas, os especialistas afirmam que este é apenas “uma gota no oceano” do problema.
Como destacou uma das vítimas: “Para eles, o dinheiro é mais importante que a vida humana. Não se preocupam com os outros — o que importa é o dinheiro. Parece que todo o mal do mundo existe dentro desses complexos”.
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