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A forma como o desporto é consumido e trabalhado mudou nos últimos anos. A integração de mais tecnologia em diferentes dinâmicas e a utilização de métricas e estatísticas que alimentam vários fóruns online estão na base desta transformação.
Atualmente, no futebol já não se discute só uma decisão polémica do árbitro ou um golo falhado, mas olha-se para dados como os golos esperados (xG) ou a área coberta por uma jogador durante os 90 minutos. Na Fórmula 1, a discussão já não é só a escolha mais acertada de pneus para uma corrida, mas a altura mais correta para um piloto fazer a pit-stop de acordo com a previsão que nos aparece no ecrã de quanto tempo e lugares poderá perder.
Esta evolução tem criado uma série de oportunidades para várias modalidades tirarem proveito dos milhões de dados que geram por minuto e para várias empresas tecnológicas com plataformas que ajudam a transformar número em informação que pode ser relevante para qualquer tipo de fã.
Julie Souza é a responsável por toda a área de Desporto da Amazon Web Services (AWS) e no re:Invent 2025, a conferência anual da tecnológica em Las Vegas, partilhou alguns exemplos claros de como vários desportos estão a adaptar-se aos novos tempos e o que isso significa para equipas, para atletas e para fãs.
“Nós estamos a ver a aplicação de tecnologia em três áreas principais. A primeira é a retirar insights (perceções) de dados de performance. Cada jogo de futebol gera 3,6 milhões de data points (dados), e na Fórmula 1 os carros geram 1,1 milhões de data points por segundo. É um volume de dados muito grande e há vários casos de estudo sobre o que fazer com eles. Depois há a forma como fazes chegar esse dados aos fãs quando estão a ver estatísticas de um jogo da NFL, da Bundesliga ou da NBA. E, por último, há os dados dos próprios fãs e como é que utilizamos isso para criar experiências mais interativas, mais customizadas que aumentem a ligação com o desporto”, explica.
Mais insights, sem perder o imprevisível elemento humano
Tem havido vários argumentos sobre se a tecnologia está a retirar um pouco a magia do desporto. Se os dados e os modelos levam diferentes equipas a optar por uma determinada decisão, o que acontece às jogadas de génio? A decisão de um treinador de pôr um jogador que não tem tido uma boa performance nos últimos meses e marca o golo decisivo, a opção por uma tática que vai contra tudo o que parece lógico, ou o jogador que repetidamente escolhe fazer um drible de outro mundo, mesmo sabendo que há uma probabilidade alta de perder a bola.
“Existem pessoas da velha guarda que querem confiar no instinto. E o que eu digo é para colocarmos alguma matemática junto desse instinto. Vamos ver se os números dizem que isso é mesmo algo que está a ser observado em campo. Contudo, rejeito completamente a ideia de que os dados devem guiar todas as decisões. O elemento humano, seja instinto de um jogador ou experiência de um treinador, fazem parte de qualquer desporto e a ideia é criar mais ferramentas que possam fomentar isso numa variedade de formas”, explica a responsável da AWS.
É neste momento que a AWS procura desempenhar um papel junto de várias organizações como as já mencionadas. Seja através da sua plataforma de cloud, que pode albergar vários dados e tecnologias, seja através de serviços como o Amazon Bedrock, que deixa aceder a vários modelos de IA e pensar em funcionalidades que podem ser úteis tanto na vertente de competição, como na própria administração das várias operações de um desporto.
Julie Souza destaca o exemplo da Fórmula 1 com um impacto direto no dia-a-dia da modalidade. “Nós desenvolvemos um agente IA que ajuda a encontrar problemas entre as mais de 500 plataformas que estão a ser utilizadas simultaneamente, em cada corrida. Antes, quando acontecia algo, o processo de triagem demorava pelo menos 45 minutos e, agora, com o agente demora cerca de 4 minutos”.
A criação de uma nova estatística na NBA
Ken DeGennaro é o executivo da área de Media Operations & Technology na liga de basquetebol norte-americano, sendo responsável por toda a tecnologia utilizada na transmissão dos jogos em televisão e no digital.
À conversa no re:Invent 2025, explicou que a NBA, como liga em mais rápido crescimento no mundo inteiro, está constantemente à procura de se adaptar à forma como o desporto é consumido e discutido.
Atualmente, as estatísticas de cada jogador e de cada equipa geram muitas vezes mais interação em redes sociais do que as próprias jogadas e, por isso, um dos desafios prioritários para si é como pode criar mais indicadores estatísticos, que ajudem fãs a ter uma maior compreensão do jogo (de preferência ficando mais tempo numa transmissão). Está aqui a origem de uma parceria assinada com a AWS este ano.
“Nós construímos juntos uma plataforma chamada Inside The Game, que capta 29 data points do corpo dos jogadores, 60 vezes por segundo, e utiliza essa informação para construir modelos de IA que ajudam a desenvolver estatísticas e serviços. Um destes indicadores chama-se gravidade, e o que faz é medir a atenção que cada jogador atrai para si em termos de pressão defensiva. Imaginemos jogadores como Stephen Curry ou o Giannis Antetokounmpo, que fazem precisamente isto e libertam espaço para os seus colegas lançarem mais livres em campo. O jogo não são só três pontos e afundanços”, diz.
O futuro terá mais tecnologia (e mais narrativas)
“Eu acho que as estatísticas preditivas vão fazer-nos inclinar um pouco mais para o ecrã. Será que o que eu acho ou que os números dizem que vai acontecer, vai mesmo acontecer? Nós gostamos de nos sentir inteligentes quando estamos a ver um desporto. E se me sentir assim, vou querer mais desse sentimento e ver o desporto ainda mais. Provavelmente, vou-me tornar um melhor fã e até trazer pessoas do outro espectro: as que não sabem nada”, partilha a Julie Souza.
No entanto, mais dados não têm de significar só mais estatísticas. No caso da NFL, através da tecnologia da AWS, vários jogos com transmissão na Disney+, em vez de terem a silhueta dos jogadores, têm a forma de monstros da popular saga “Monstros e Compania”, funcionando como uma melhor introdução do desporto a milhões de crianças.
No modelo de negócio, a executiva da AWS também acredita que poderá haver algumas mudanças, nomeadamente no que diz respeito à personalização da experiência de visualização e de aglomerar os segundos ecrãs que captam a nossa atenção durante um jogo ou corrida.
“Eu quero escolher o meu tipo de câmara, o áudio que estou a ouvir, quero poder fazer uma aposta numa plataforma, seguir em minha equipa numa fantasy league em tempo real, quero falar com os meus amigos, quero comprar a camisola do meu jogador favorito, encomendar Uber Eats 20 minutes antes do intervalo e comprar o bilhete para o próximo jogo. Em todas estas dinâmicas, há dados, margem para personalização e criação de novos espaços publicitários para serem monetizados”.
Trata-se de um sinal da economia da atenção dos dias de hoje, ao qual o desporto não consegue fugir. A concorrência já não são outros desportos ou outros programas de televisão, mas todas as atividades e ecrãs que nos fazem desviar o olhar mesmo na altura de uma jogada imperdível. Estima-se que até 2032, a integração de IA no desporto será um mercado de 32 mil milhões de dóláres, portanto se os dados nos ajudarem a perder menos desses momentos, sem retirar o elemento humano da equação, há um caminho a percorrer.
O 24notícias e o The Next Big Idea estiveram presentes na conferência re:Invent, em Las Vegas, a convite da Amazon Web Services (AWS).
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