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O país tornou-se o único no mundo onde raparigas estão proibidas de frequentar a escola secundária e o ensino superior. A proibição é parte de uma campanha mais ampla de repressão aos direitos das mulheres, que inclui regras severas sobre como se devem vestir, com quem podem circular e onde podem ir.

As madraças: única alternativa para muitas

Sem escolas regulares abertas para raparigas acima dos 12 anos, a única opção educativa disponível para muitas são as madraças — escolas religiosas onde o currículo é controlado pelos Talibã e consiste maioritariamente em estudos islâmicos. Só algumas madraças privadas, como a Naji-e-Bashra nos arredores de Cabul, conseguem incluir disciplinas como ciências e línguas, graças ao financiamento das famílias.

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O número de madraças cresceu exponencialmente: mais de 22 mil novas escolas religiosas foram abertas nos últimos três anos, segundo dados oficiais. Estas instituições são promovidas pelo regime como modelos adequados para raparigas, ensinando-as sobretudo sobre os papéis tradicionais da mulher como mãe e cuidadora.

Currículo ideologicamente controlado

Organizações de direitos humanos, como o Afghanistan Human Rights Center, denunciam que os conteúdos lecionados foram alterados para alinhar com a ideologia extremista do Talibã, promovendo a violência, intolerância, e o apagamento de conceitos como democracia, igualdade de género e direitos humanos.

O próprio ministro do Ensino Superior do regime, Nida Mohammad Nadim, chegou a justificar a proibição do ensino superior feminino dizendo que áreas como engenharia e agricultura “não condizem com a cultura afegã” e que muitas raparigas "se vestiam como se fossem para casamentos", ignorando o hijab imposto.

Raparigas que desafiam o sistema: o exemplo de Nargis

Apesar do perigo, algumas mulheres tentam manter viva a educação feminina através de escolas secretas, conta a CNN. Nargis, de 23 anos, é uma dessas mulheres. Antes da queda do governo apoiado pelos EUA, estudava economia, trabalhava e aprendia inglês à noite. Sonhava ser empresária, estudar em Oxford e fundar uma escola para raparigas. Mas tudo isso colapsou com a chegada do Talibã.

Quando as escolas fecharam, as suas irmãs mais novas ficaram devastadas. Nargis decidiu ensiná-las em casa, usando os seus antigos manuais. Com o tempo, mais raparigas começaram a aparecer. Hoje, cerca de 45 alunas frequentam aulas clandestinas na casa de Nargis, ao amanhecer, antes dos guardas talibãs estarem ativos.

Apesar de já ter sido detida e de mudar constantemente de local por motivos de segurança, Nargis continua a ensinar matemática, ciência, inglês e informática. Tem pouco ou nenhum apoio — os materiais escolares são escassos e muitas partilham os mesmos livros e cadernos.

Ajuda internacional em declínio

Até recentemente, programas como os financiados pela USAID mantinham em funcionamento estas “escolas comunitárias” clandestinas. Mas a nova administração norte-americana de Donald Trump, que cortou cerca de 1,7 mil milhões de dólares em ajuda ao Afeganistão, levou à suspensão de muitos desses programas. O curso universitário online que Nargis frequentava também foi cancelado, o que ela descreve como o fim não só dos seus estudos, mas dos seus “sonhos e esperanças”.

O futuro sombrio da educação feminina

Nargis continua determinada, mas vive em constante medo de ser apanhada e presa novamente. Questiona-se muitas vezes sobre o sentido de tudo isto, já que as mulheres afegãs estão proibidas de trabalhar, circular livremente ou sequer sonhar com carreiras em áreas como medicina ou direito. “Tenho uma educação, mas estou em casa como a minha mãe, que nunca foi à escola. Para quê tanto esforço? Para que trabalho? Para que futuro?”