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Mas o Tradidanças não é sobre celebrar apenas a tradição de São Pedro. Num recinto rodeado de verde, juntam-se manifestações populares de todo o mundo.
Quem cá chega tem a oportunidade de, durante uma semana, participar em conversas, caminhadas, oficinas, bailes, concertos e feiras. A convivência e espírito de comunidade são a alegria desta festa, conta Filipa Pereira, programadora do Tradidanças, ao 24notícias.
Filipa Pereira faz parte da organização do festival desde 2018, a partir do trabalho na ATASA – Associação Turística e Agrícola da Serra da Arada, e todos estes anos permitiram-lhe perceber que a verdadeira missão do folk é a partilha: “Começámos com um projeto muito mais pequeno, mas o objetivo foi sempre dar palco à música tradicional contemporânea e preservar os valores da diversidade e do encontro que este território oferece".
Para a produtora, o objetivo principal da associação, como do festival, é "promover São Pedro do Sul para que as pessoas que vêm ao Festival voltem e tenham vontade de visitar o património natural e cultural desta zona". Além de uma plataforma de conhecimento, este espaço é também um lugar de encontro de tradições de todo o mundo", explica.
Caminhando pelo recinto, viajamos ao forró e à capoeira do Brasil, às danças escocesas e da Catalunha, percorremos a Europa e regressamos ao minho, com grupos e associações dedicadas à preservação do material etnográfico das suas terras. "Em particular em Carvalhais, gostávamos muito que fosse um espaço que aproveitasse os pontos de interesse do território, ligando a ideia da prática [da dança] à tradição. A isso somam-se todas as restantes atividades para desenvolvimento pessoal e das crianças, sustentabilidade e ecologia".
Acima de tudo, neste lugar não é preciso saber dançar ou cantar, todos são bem-vindos. Simao é voluntário no Tradidanças há três anos e este ano está a tratar da montagem “e de tudo o resto que é preciso”. O que o faz regressar no ano seguinte é o ambiente “acolhedor”, sem pressões nem exigências: “A malta vem para se divertir, aproveitar, e dançar, claro!”
"Há publico que vem só para aproveitar a natureza, e isso basta", acrescenta Filipa.
De boca em boca e de pé em pé
Em todas as ‘salas de aula’ criadas pelo Tradidanças, transmite-se a ideia de que o património imaterial é basilar da nossa cultura, como seres pensantes, sociais e artísticos. Cada um pode participar, entrar e sair quando quiser, dançar e ouvir o que lhe apetecer. O chão vai sendo preenchido por quem passa, e recebe quem precisa de se sentar e beber água, pelo calor do sol e da dança.
Andreia, Lili e Maria lembram a importância de revisitar a ancestralidade e a tradição. Já são voluntárias há alguns anos, e nesta edição decidiram juntar-se com um projeto de bordar postais.
Utilizam material reciclável para incentivar os pais e filhos a “estar off-line e fazer um detox digital”. Seguindo a filosofia deste festival, o Viagem em Mim e o Ser Em Processo, projetos em que participam, lembram a “necessidade de reconectar com o eu ser criativo”.
Parte da magia da história oral e da tradição popular é a forma como ela é transmitida entre gerações. Andreia acredita que “até os adultos e adolescentes têm a curiosidade em participar nestas atividades” e partilhá-las com a família. Quando a inteligência artificial parece ter todas as respostas, aqui há tempo para criar e desligar.
Esta premissa incentivou a criação de espaços intergeracionais para pais, filhos e avós. Aprender a dança das abelhas, ouvir contos e assistir a teatro de marionetes e, ainda, construir aves-raras, são outras propostas para as famílias durante estes cinco dias.
São também realizadas, ao longo do dia, oficinas de desenvolvimento pessoal que curam. Quando vos falava da energia deste sítio, ela começa aqui: na necessidade de encontrar um espaço onde as pessoas se motivam a ser melhores.
“Este é um espaço ideal para libertar as energias”, notou Simão, “e ainda melhor se vieres numa boa fase da tua vida”. Contou também ao 24noticias que chegou a vir sozinho, “porque sabes o que te espera, vens, fazes, conheces pessoas, e vives o festival”.
Aproveitar o verde, e construir a partir dele
O Tradidanças é também sobre sustentabilidade e natureza. O primeiro dia de festival contou com duas conversas sobre compostagem e o ciclo da semente, no espaço da ecologia ativa. De manhã, pelas 10h, os participantes fizeram uma caminhada terapêutica pela natureza, um privilégio deste espaço, cheio de verde.
Falou-se ainda de alimentação infantil, do ritual comunitário, dos trajes tradicionais e da marmelada de mirtilo da Paula Costa - e que boa que era. “Ouvimos as pessoas e percebemos que o espaço tinha de crescer", contou Filipa Pereira, "o Tradidanças está em período de crescimento e tem vontade de expandir".
Outros artistas encantaram as ruas da cidade, trazendo aos moradores, que têm desconto na aquisição do bilhete, um pouco do que se produz dentro do recinto. "O nosso objetivo é prestar serviço à comunidade, incluindo a Igreja e o resto da região no programa. E temos tido muitos elogios por isso".
A Eira é um espaço em frente ao recinto, junto à Igreja, de livre acesso e onde a comunidade é envolvida no projeto. Durante a tarde do primeiro dia, Celina da Piedade deu uma oficina de canto. Disse estar "surpreendida com a quantidade de gente, encantada e comovida" com o ambiente e a participação.
"Quando venho para norte percebo como o cancioneiro alentejano é uma linguagem musical que cativa", comenta. "Esta terra afeiçoou-se ao facto de ter um festival folk e o movimento ganhou as suas próprias pernas e asas, cresce e floresce, e é uma honra fazer parte disso".
Da Galiza , um grupo pede para tirar foto com Celine da Piedade, diz ter vindo apenas para aproveitar a música. Deixaram-se ficar para o final do dia, que terminou com o concerto dos Toques do Caramulo, do Orfeu’AC.
"Queremos que este seja um local viável para ter uma oferta regular, principalmente para as crianças. Mas somos uma associação sem fins lucrativos, com o apoio da Câmara de São Pedro do Sul, e a pandemia também não ajudou. Ainda assim, o caminho vai se fazendo, e nos próximos dias isto vai encher muito", exclamou a programadora, convidando o resto do país a embarcar numa caminhada pela riqueza cultura de São Pedro.
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