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Em 1981, Guilherme Valente fundou a Gradiva, editora pioneira na publicação de livros de divulgação científica em Portugal. Agora, o editor "entendeu ter chegado a hora de se jubilar".
"Foram 45 anos de dedicação a essa galáxia a que se chama livro, à descoberta de autores, à invenção de títulos. A Gradiva, editora multifacetada, abriu-se a uma ideia original e singular na edição portuguesa, a de uma entusiástica e surpreendentemente bem sucedida divulgação científica, que despertou vocações e fez nascer cientistas. Foi também extraordinariamente bem-sucedida na ficção, editora do Nobel da literatura Kazuo Ishiguro, de Ian McEwan e de outros grandes nomes da ficção contemporânea", pode ler-se no comunicado divulgado.
Realçando que "tudo isso teve a mão e a mente de Guilherme Valente", a Gradiva realça que foi também dele a responsabilidade de editar "Eduardo Lourenço, reunindo e recuperando toda a sua obra, tal como já fizera com a de António José Saraiva, figura indelével da cultura portuguesa, e está a fazer com os livros do tão lúcido e criativo Umberto Eco ou com a obra singular de Luís Filipe Thomaz, magistral autor da história da expansão portuguesa".
No campo dos autores nacionais, destaque ainda para José Rodrigues dos Santos, "de quem Guilherme Valente percebeu os méritos e os efeitos, esteio, em boa verdade, de duas décadas da vida editorial portuguesa, atraindo leitores, criando tráfego nas livrarias, projetando a ficção portuguesa em mais de 20 países".
Gradiva vai continuar a ser "o que foi sempre"
Além da saída do editor, há ainda outra mudança. "Ciente do património editorial que edificou, do seu valor literário e científico, Guilherme Valente fez uma escolha para o futuro que agora começa: integrar a Gradiva num projeto editorial que garanta a autonomia da sua editora como empresa e seja fiel à identidade editorial que a caracteriza". Nesse sentido, a escolha recaiu na Guerra e Paz editores e em Manuel S. Fonseca.
"Se eu tivesse menos dez anos veria seguramente a crise que vivemos – crise de cultura, de conhecimento, de exigência intelectual, de leitura de obras de qualidade, que é por isso uma crise da verdade e de liberdade – como um desafio e um estímulo para novos combates. Hoje vejo-a como uma razão reforçada para entregar o bastião do que fizemos na Gradiva a quem reúne condições de talento, entusiasmo e, digamos, vitalidade, para prosseguir o mesmo combate e os mesmos ideais. Tal como nós, sem cedências ao lixo, editando agora o que é preciso e for viável editar hoje", começa por explicar Guilherme Valente.
"Passo, pois, a obra e o desafio a um Amigo que é um Editor, um dos raros a quem atribuo esse título e essa dignidade: Manuel S. Fonseca, à sua culta e dinâmica Guerra e Paz. Fica com o melhor da Gradiva, os livros imperdíveis, vivos e actualíssimos do nosso fundo editorial singular. Contando com o apoio, a competência, de várias das pessoas admiráveis que fizeram comigo o que milagrosamente pudemos fazer. A Gradiva continuará a ser, assim, na sua essência, sem solução de continuidade, o que foi sempre", garante.
Manuel S. Fonseca, o editor da Guerra e Paz, reagiu também a esta nova etapa. "O desafio que Guilherme Valente me põe nas mãos parece-me um sonho. Publiquei, em tempos, um belo ficcionista americano, Delmore Schwarz, o escritor favorito de Lou Reed. O título do livro era: Nos Sonhos Começam as Responsabilidades. A minha responsabilidade é, a partir de hoje, hercúlea. Assumo um compromisso: manter a identidade da Gradiva como uma casa editorial de referência. E tenho, para ser fiel ao espírito de Guilherme Valente, de fazer nascer novos projetos editoriais como novíssimos foram, até agora, a Ciência Aberta, os Feynman, os Steiner, os magníficos Fiolhais e Buescu, projetos e autores de que o Guilherme foi o demiurgo".
Assim, resta agora o passo final: "a Gradiva e a Guerra e Paz formalizarão, em breve, o acordo que entrega à Guerra e Paz a gestão da Gradiva. Desse ato darão a devida notícia".
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