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Eu sei que é agosto e quem está de férias não quer ouvir falar de trabalho e quem está a trabalhar não quer ouvir falar de férias, nem de pessoas de férias que não querem ouvir falar de trabalho.
Porém, nos dias que correm fica difícil, já que um pouco por todo o lado vamos ouvindo e lendo sobre leis laborais. Sobre as alegadas intenções do Governo para as alterações às leis do trabalho. E o que vamos lendo e ouvindo parece, do ponto de vista de quem está na base da cadeia laboral, não ser muito positivo. Pelo contrário, dá a ideia de se estar a reforçar determinados preconceitos que existem e são muito bem aproveitados pela Esquerda, sobre a Direita.
É uma confusão e um preconceito comuns, encarar a vida de uma perspectiva binária: É de Direita, é rico, logo defende os ricos e os patrões. É de Esquerda é pobre, logo defende os pobres e os empregados. Na vida real, Esquerda e Direita grande parte das vezes pretendem o mesmo, divergem e diferem é no caminho a seguir para atingir os objetivos.
Apesar desta forma de ver a vida muito impulsionada por preconceitos, há também muitas vezes um risco real de lhes corresponder. A Direita é exímia em escorregar nisso. Seja por considerar que tem de corresponder para se sentir Direita, seja por inaptidão a comunicar o que pretende para o país, ao país.
Esta reflexão vem a propósito do imbróglio mediático em que o Governo se envolveu com o anteprojeto “Trabalho XXI”. A comunicação social pegou no que considerou mais relevante e polémico, fez as interpretações que quis, a oposição cavalgou a polémica com entusiasmo e, à partida, poderemos estar a falar de uma potencial reforma que antes de ser já foi.
Independentemente de nem todas as medidas estarem a ser noticiadas ou devidamente justificadas, e independentemente de ainda existir amplo espaço para negociação tanto com os partidos como em sede de Concertação Social, já tudo foi rotulado de insensível e de ataque a esta ou outra parcela da população, como são o caso de medidas como o alargamento dos contratos a termo, o fim das restrições ao outsourcing ou as alterações nas licenças parentais.
Aqui pode e deve fazer a diferença a presença, no Governo e no Parlamento, de uma Direita que barre os preconceitos e os desfaça, sendo coerente com a sua matriz identitária. Na relação entre trabalhadores e empresas (patrões) há um natural desequilíbrio de poder tendo em conta a posição de cada uma das partes. E é por isso que, por vezes, é necessária uma moderação estatal, que evite uma intensificação do desequilíbrio tal que, em última análise, afete o país como um todo.
Como relembrava Nuno Melo, numa entrevista à Antena 1, ainda no período de campanha, uma das essências do partido a que preside é precisamente não olhar para a vida e para a política somente com as lentes dos dinamismos do mercado e aos fluxos da oferta e da procura. É o CDS-PP, como partido inspirado na democracia-cristã e portanto representante da Direita social, que deve assegurar aos portugueses que as preocupações da vida difícil que levam serão ouvidas e tidas em conta.
É no CDS que os portugueses podem descansar que têm uma Direita que sabe que é preciso ter uma economia pujante para o país avançar e que para isso há que trabalhar em parceria com as empresas, mas também que estas são feitas de pessoas que querem ver reduzida a sua taxa de dias de cão. A Direita tem de estar aqui para aliar os interesses das pessoas aos do país e isso passar por almejar ser um facilitador. Esse trabalho sem dúvida que se faz através de reformas que não podem ser parcialmente surdas.
É importante reconhecer que esta postura pode não ser coerente quando se apresentam ideias, por exemplo, que dificultam o teletrabalho, uma modalidade muito apreciada pelas novas gerações de trabalhadores. Gerações estas que valorizam de forma intensa questões como a sustentabilidade ambiental, a saúde mental e o tempo de qualidade com a família, esferas em que está amplamente documentado que o teletrabalho pode trazer benefícios significativos, desde que acompanhado de uma regulamentação que potencie esses efeitos em vez de dificultar o seu acesso. Ao serem confrontados com propostas que parecem contrariar estas prioridades no anteprojeto apresentado pelo Governo, é natural que estas gerações olhem para elas com desconfiança.
Este é apenas um dos exemplos que mostram porque é fundamental ter no Governo um partido da índole do CDS-PP, que deve ser capaz de ouvir, compreender e colocar estas preocupações no centro da discussão antes que reformas com potencial sejam descartadas. A relevância política da Direita social dependerá também da sua capacidade para transformar propostas inicialmente impopulares numa oportunidade para construir soluções equilibradas que, neste caso, conciliem os legítimos interesses de trabalhadores e empresas.
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