
Netanyahu está sozinho. Itamar Ben-Gvir, o muito extremista ministro da Segurança, determinante para a continuidade da atual coligação de governo em Israel, ao constatar que a possibilidade de acordo para cessar-fogo está forte como nunca, tratou de avisar que Netanyahu não tem mandato para terminar a guerra sem que o Hamas esteja totalmente derrotado. Netanyahu fica entalado entre o plano de paz que Trump (com lideranças árabes e muçulmanas) quer impor, e a guerra que os extremistas que sustentam o governo israelita exigem que prossiga.
O plano de Trump é encabeçado por um slogan — 48 reféns em 48 horas — e tem 21 pontos: impõe a libertação de todos os 48 reféns, mortos e vivos, nos primeiros dois dias de vigência do acordo. Em troca, entre cem e duzentos prisioneiros palestinianos a cumprir penas perpétuas em prisões israelitas devem ser libertados. E mais: exige a entrega de armas pelo Hamas, também a retirada israelita de Gaza e o fim dos combates, a instalação de uma força multinacional que garanta a segurança e, logo a seguir, a criação de uma autoridade internacional que funcione transitoriamente como governo de Gaza e da Cisjordânia, em colaboração com a Autoridade Nacional Palestiniana. Sabe-se que o nome do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair foi referido na reunião de Trump com os líderes árabes, como possível líder dessa autoridade de transição. Admite-se que o genro de Trump integre esse grupo de transição.
Netanyahu já teve nestes dias de engolir a pílula amarga do impedimento da anexação da Cisjordânia pelo Estado judaico. Trump prometeu aos aliados árabes que a vai impedir. O presidente dos EUA está a repetir: "Estamos muito perto de um acordo em Gaza, que libertará os reféns e trará a paz". Trump já terá recebido, através de interlocutores árabes, designadamente do Qatar, o sim do Hamas a este plano americano.
Agora, nesta segunda-feira, na Casa Branca de Washington, Netanyahu vai receber as instruções de Trump para abandonar a guerra e a matança que tem sido engrenagem de garantia de sobrevivência política. Netanyahu vai certamente tentar dar a volta ao presidente dos EUA. Não parece provável que Trump aceite dar essa cambalhota e desprezar o que prometeu aos árabes. Os negócios nos Acordos de Abraão são uma miragem tão desejada pelo trumpismo que, desta vez, Netanyahu vai sentir que agora já é um fardo, mesmo para Trump, e deve perder o comando da engrenagem devastadora que está a usar vai para dois anos.
Em todas as guerras há um dia em que elas chegam ao fim. Há esperança de que este final de setembro fique para a história como o tempo do fim da guerra de Gaza – ainda que sobre uma montanha de problemas difíceis e até perigosos para tratar.
Comentários