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Quando o pedófilo Epstein apareceu enforcado na cadeia, em Agosto de 2019, debateu-se se teria sido suicídio ou se alguém o teria "suicidado", para evitar que no julgamento em fase preparatória expusesse os nomes de homens poderosos que também tinham beneficiado com o seu esquema de abuso de miúdas em escala industrial. A polémica morreu com o fim do processo e a condenação a 20 anos de prisão da sua namorada permanente e angariadora de jovens, Ghislaine Maxwell.

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Uma das celebridades arrastada pelo escândalo foi o Duque Andrew Windsor, filho de Isabel I, afastado da Casa Real britânica e despojado de todos os seus títulos. Segundo o “Daily Telegraph”,  em 2022 Andrew terá pago uma indemnização milionária a Virgínia Gufre, que o levou a tribunal. Gufre ofereceu esse dinheiro a organizações de assistência e acabou por se suicidar em Abril deste ano.

Seria este o fim da história, mais uma das muitas que têm vindo a público nos últimos anos.

Sempre se falou nas instâncias governamentais e nas colunas de mexericos que haveria no Ministério da Justiça (DOJ, em inglês) um extenso “Dossier Epstein” com centenas de pessoas envolvidas e profusamente ilustrado com fotografias, não compremetedoras por si, mas que juntas dão uma ideia impressionante da quantidade de ricos e famosos que viajava com Epstein no seu avião particular, alcunhado de “Lolita Express e frequentava as suas diversas casas.

Até que no dia 23 de Junho, numa audição no Comité de Apropriações da Câmera dos Representantes, a Ministra da Justiça, Pam Bondi, afirmou que as investigações do seu ministério mostravam que se tinha realmente suicidado e que não havia nenhum “Arquivo Epstein.”

Ao contrário do que seria de esperar, as declarações de Bondi causaram um estrondo na opinião pública. No programa “All In”, no canal CNBC, o autor, Cris Hayes, disse que uma sondagem mostrava que 75% dos republicanos e 85% dos democratas queriam ver o Arquivo Epstein Publicado. As razões da curiosidade são variadas, mas, num país extremamente dividido, o consenso é impressionante.

Os republicanos MAGA, a sólida base de Trump, estão convencidos que o Arquivo revela os nomes de muitos democrtatas de alto calibre que privavam com Epstein. Mas também estariam republicanos, inclusive Trump, cujas fotografias com Epstein não mostram nenhuma “irregularidade”, mas confirmam que os dois eram amigos, ocasionais que fosse, e frequentram juntos muitas festas. Contudo, Trump tem uma tendência para tornar más notícias sobre ele ainda piores. Na sua rede “Truth Social” postou o seguinte: “Há um ano o nosso País estava MORTO e agora é o MAIS APRECIADO no Mundo inteiro. Vamos continuar assim e não percamos Tempo e Energia com Jeffrey Epstein, uma pessoa que não interessa a ninguém".

Geralmente a base MAGA de Trump aceita como certo tudo o que ele diz, mesmo quando se contradiz, mas desta vez a reação foi diferente. A base sabe que seria fácil Trump mandar publicar a lista e se não o faz é por qualquer razão suspeita. 

A Ministra da Justiça (Attorney General) Pam Bondi, parece culpada de uma mentira descarada, pois é evidente que, estando Epstein preso para ser julgado, tem de haver uma pasta com pormenores das suas actividades. A Ministra apareceu inúmeras vezes no canal Fox e, quando lhe foi perguntado à queima-roupa se vai publicar o Arquivo, deu uma resposta enviesada: “Vamos lutar sempre para manter a América novamente segura, e fazemo-lo como uma equipa. Temos (por exemplo) prosseguido uma guerra contra as drogas.”

(Quem, como eu, já entrevistou ministros, conhece a manha que usam quando a pergunta não lhes convém, dando uma resposta enviesada.)

Os comentários nas redes são de uma ironia maldosa; há quem proponha que se crie uma comissão de inquérito dirigida por Matt Gaetz, (o ex-congressista que foi considerado demasiado incompetente para o cargo de Ministro da Justiça, por, entre outras coisas, ter acusações que envolvem menores) e que essa comissão chame a depor Ghislaine Maxwell, que, como dissemos, está a cumprir pena.

Trump, sempre a expor alegremente o peito às balas, disse numa troca com jornalistas no relvado da Casa Branca: “Esse arquivo foi fabricado por Comey (ex-Director do FBI que ele despediu), por Obama e pela malta do Biden. O que quer que Bondi ache credível, deve ser publicado.”

Desta vez, por razões que não consigo explicar, o eleitorado não está a acompanhar o Rei. Exemplo de post que teve 30.000 likes em duas horas: “Mano, ele acha os apoiantes completamente atrasados”.

Esta semana saíram duas sondagens feitas por empresas conservadoras. O “Democracy Institute”, que costuma acertar sempre, diz que 67% dos MAGA é a favor de que Trump publique o Arquivo, sendo 71% novos votantes, e, no total, 63% é a favor da publicação.

O advogado MAGA Robert Barnes comentou: “Os que estão mais preocupados com a ocultação do Arquivo são jovens, independentes, trabalhadores, e votaram em Trump em 2024 pela primeira vez. São os mesmos que não gostaram do ataque aéreo ao Irão e da situação na Ucrânia. Se o Trump perde estes eleitores, O Partido Republicano está lixado em 2026.”

O Director do FBI, Kash Patel, tem procurado ficar fora da polémica, tipo desaparecido em combate, mas o seu Chefe de Gabinete, Dan Bongino, teve uma discussão muito pública com Pam Bondi no programa “Fox & Friends” em que, pateticamente, se queixou que trabalha demais. 

Trump ficou furioso com Bongino por não alinhar na tese de Bondi de que o Arquivo não existe. No programa da CNN de Kaitlan Collins desta segunda feira,  juntaram-se vários radialistas, políticos e influenciadores MAGA, tais como Roger Stone, Marjorie Taylor Greene e Candance Owes, todos a achar que o fumo é para esconder o fogo. 

O mais selvagem e famoso dos radialistas MAGA,  Alex Jones, gritou no seu progama da semana passada: “Como nacionalistas populistas, conservadores com bom senso, ou o que quer que nos queiram chamar a nós Cristãos, não vamos cair em jogadas mentais tipo Jedi (do Star Wars)  ou inventar coisas sobre o Epstein. 

A famigerada congressista Marjorie Taylor Greene, sempre mais trumpista do que Trump, avisou que as coisas podem correr muito mal se a Casa Branca não apresentar algum material novo sobre Epstein. 

Dá para compreender porque é que um grupo de fanáticos de repente perde a fé no seu guru por causa de um fait divers, se comparado com as tropelias que ele já fez?

Acho que o Michael Cohen, aquele advogado do Trump que se virou contra ele no processo da actriz Stormy Daniels, é que explicou bem a coisa no Substack Meidastouch: “Quando até os mais leais vendedores de teorias conspirativas se viram contra o Trump por causa do Arquivo Epstein, não é por quererem que se faça justiça, é por vingança. Por serem tomados por parvos.”

O Trump “cairá” por causa deste caso? Claro que não. Contudo, lembrem-se: se ele “cair” quem o vai substituir é o J.D. Vance, igualmente reacionário e muito mais coerente…