Tenho um amigo que usa a expressão “vi” ou “li” na Internet o que, hoje em dia, significa muito pouco.
A Internet é um conjunto enorme (e cada vez maior), de ligações entre computadores, através de protocolos a que chamamos de “aplicações”. Ler na Internet através de uma aplicação como o WhatsApp não é a mesma coisa do que ler através do Facebook ou do X (ex-Twitter).
Na primeira, só têm acesso à mensagem as pessoas que o utilizador escolhe, tipicamente na casa das dezenas, e cada uma delas pode responder ao autor sem que as outras saibam. Na segunda, o autor manda para a sua “bolha” (as pessoas com quem está ligado) e as respostas são lidas por toda a gente dessa “bolha” (em média umas centenas); na terceira hipótese, o autor manda o texto para um universo muito maior (milhões) e nem sabe quem o leu, a menos que essa pessoa responda, e aí todos os aderentes podem ler o autor original e as respostas e ainda podem reenvia-lo para as suas bolhas. Estas regras têm muitas exceções, mas o conceito básico é esse.
Como sabemos. existem milhares de aplicações que permitem um contacto múltiplo, ao ponto se ser impossível ao autor da primeira publicação saber quantas vezes é lida, reproduzida na íntegra ou num contexto oposto.
A ideia inicial de ligar computadores uns aos outros chamava-se ARPA e era uma rede de computadores que tinham acesso ao código que estabelecia a ligação de acesso, e a uma linha telefónica – sim, se bem se lembram, o computador era ligado a um telefone comum, que transmitia os dados sobre a forma de bipes, assim à maneira do código morse.
Podia passar o dia a descrever as redes, as plataformas, as restrições e outras características que, entretanto, tornaram a Internet o modo mais comum de comunicar umas com as outras, quer peer-to-peer (duas pessoas) quer aos milhões de cada vez. Se pensarmos que a DARPA se desenvolveu na década de 1960, é impressionante ver como cresceu e, sobretudo, como mudou de objetivos. Inicialmente destinava-se a comunicações militares e académicas, para depois passar para a função de entretenimento – conversa fiada, engate, pornografia, amizades, espetáculo, conferências, tertúlias, contrabando, jogos lúdicos ou de casino – não me consigo lembrar de todos os objectivos da Internet de hoje.
A ideia inicial não podia ser melhor: qualquer pessoa falar com uma pessoa qualquer, em todas as partes do mundo, sem passar por nenhum tipo de supervisão, controle ou censura. Não faltou que achasse que a Internet ia acabar com a censura e as ditaduras, uma vez que era impossível controlar o sistema de milhões de nódulos que ligavam todos a todos. Com o aumento de capacidade dos circuitos passaram a usar-se imagens, fixas ou animadas. Por exemplo, a Netflix era um negócio que alugava filmes pelo correio. O utente encomendava, recebia uma cassete, depois um CD, depois um DVD, devolvia à procedência na mesma embalagem e pedia mais. Em 2007 acabou com a parte “física” e tornou-se exclusivamente digital – o chamado streaming de filmes através da net. Assim chegou a 130 países!
Mas, ao permitir todo o tipo de conteúdos, a Internet passou automaticamente a transmitir maus conteúdos e a formar circuitos “piratas” para negócios de drogas, pedofilia, chantagem, espionagem e todas as atividades que eram ilegais fisicamente e quase impossíveis de detetar, e muito menos travar.
Por outro lado, a penetração a 100% nos jovens causou-lhes todo o tipo de aberrações. Não só ficam ligados horas a fio a ver disparates e atividades impróprias mesmo para adultos, como de deixaram influenciar em todo o tipo de comportamentos. O número de jovens que se suicidam aumentou: nos Estados Unidos da América, o único país para o qual temos dados, em 2001, suicidaram-se nove em cada 100 mil jovens.
Mesmo, sem considerar este extremo aterrador, está provado que o uso exagerado da Internet (atualmente através dos telemóveis) diminui a capacidade de atenção, baixa os níveis escolares e contribui em grande parte para o que podemos chamar de estupidez dos jovens.
A coisa chegou ao ponto de certos países começarem a limitar legalmente o uso da Internet. Neste é proibida para jovens nos Países Baixos, França, Itália e Hungria,enquanto a Suécia, Coreia do Sul, Austrália e Espanha estão a preparar leis. Quanto à China, os limites não são só etários, mas também políticos.
Proibir os jovens de usar a Internet ou os adultos de ver certos conteúdos é extremamente difícil, mesmo para um país totalitário como a China - (A Coreia do Norte não tem telemóveis nem parabólicas e apenas uma estação de rádio e TV).
E é este o estado das coisas. Pelos meus cálculos, daqui a dois anos estamos a falar da praga da Inteligência Artificial...
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