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Quando faltarem poucos minutos para as 19h00 deste sábado, 12 de julho, no Estádio Nacional, no pulmão verde do Jamor, em Oeiras, um misto de emoções e recordações toldará a alma de 46 jogadores em representação de dois países.
Portugal e Irlanda defrontam-se, pela primeira vez, oficialmente, num encontro (test match) da janela internacional de verão. Será o primeiro e único da seleção portuguesa de râguebi e o segundo, e igualmente último, dos irlandeses.
Ao som de “Irland Call”, um hino patriótico irlandês (a seleção de râguebi irlandesa junta as duas Irlandas, República da Irlanda e Irlanda do Norte), as cordas vocais dos homens da seleção do trevo escrevem a emoção da estreia de três jogadores com a mítica e desejada camisola verde: Shayne Bolton, Alex Kendellen e Hugh Davin.
A “Portuguesa”, logo de seguida, será acompanhada pelas já esperadas lágrimas, uma imagem de marca de quem se alinha para ouvir e cantar o Hino Nacional. Quatro jogadores, Pedro Ferreira (no XV inicial), Martim Souto, Francisco Almeida e Guilherme Costa, em estreia absoluta pelos Lobos, demonstrarão dotes pela primeira vez, enquanto Nuno Sousa Guedes, fará a 50.ª aparição neste palco.
A primeira vez "a sério"
Depois de se terem encontrado no verão de 2023, no Algarve, num jogo treino de preparação para o campeonato do mundo de râguebi, França2023, as duas seleções sobem ao relvado do Estádio Nacional para um encontro “a sério”, contabilizável para o ranking da World Rugby.
A Irlanda, número 3 da hierarquia mundial, apresentar-se-á desfalcada da maioria das suas estrelas que levaram a seleção a sagrar-se bicampeã do Torneio das Seis Nações (2023 e 2024).
James Low, Hugo Keenan, Bundee Aki, Gibson-Park, Josh van der Flier, Tadhg Furlong, Jack Conan, Andrew Porter ou James Ryan, estrelas planetárias que dispensam apresentações, estão entre os 16 irlandeses que estão ao serviço dos British & Irish Lions na digressão pela Austrália, uma viagem feita ao Hemisfério Sul feita pela seleção dos jogadores das Ilhas Britânicas a cada quatro anos, desde 1888.
Portugal, 18.ª seleção do mundo, está igualmente privado de alguns dos habituais titulares, embora esse número possa ser contado pelos dedos de uma mão. Raffaele Sorti, Rodrigo Marta (hoje será um dia especial a nível pessoal – casamento), José Madeira e Samuel Marques estão impedidos de jogar devido a lesão.
As recordações de uma Taça de Campeões do Celtic de Glasgow
Craig Casey, que terá no braço a braçadeira de capitão da Irlanda, deixou elogios à seleção portuguesa.
“Sabemos o quão perigosos podem ser. Sousa Guedes é pura classe, tem uns pés absolutamente elétricos. (Simão) Bento é um jogador muito bom também. Joguei contra (Vincent) Pinto quando jogou na seleção sub-20 francesa. O n.º 7 (Nicolas Martins) é um perigo, ótimo a transportar a bola e no breakdown. E olhamos para o 12 (Tomás Appleton), o capitão”, identificou na conferência de imprensa após o Captain’s Run, na manhã de sexta-feira, no relvado do Estádio Nacional.
Esta não é a primeira vez que está frente a frente com Portugal. O médio-formação irlandês esteve no tal jogo treino com os Lobos, no Algarve, num “dia muito quente”, recordou Casey.
Agora, dois anos depois, “sabemos o quão especial é para Portugal, mas também é especial para nós”, disse, referindo-se ao primeiro jogo oficial entre as duas nações.
Sobre a sangria sofrida pela Irlanda e cedência de jogadores aos Lions, encontra um bom reverso da medalha. “É uma oportunidade para caras novas colocarem as mãos no ar”, sublinhou.
“Os treinadores que estão na Austrália estão a olhar para quem está aqui (em Portugal e no tour de verão). E estamos a mostrar-nos aos treinadores quando começarem a preparar a janela de novembro. É isso que queremos fazer”, acrescentou. “É um grande privilégio vestir esta camisola”, acrescentou.
O jogo no Estádio Nacional reaviva memórias de outras bolas e outros feitos. “Os Lisbon Lions”, recordou. “Têm uma placa na parede. Celtic (de Glasgow, Escócia), 1967, vencedores da Taça dos Campeões contra o Inter de Milão”, assinalou, orgulhoso.
“É fantástico jogar num estádio assim. Tem classe. Histórico, obviamente, a envolvência, tem um lado completamente aberto, é um estádio completamente diferente de qualquer um em que já joguei e a relva é muito boa”, elogiou Craig Casey.
“Os defesas (portugueses) são uma ameaça”. Os elogios do treinador irlandês
Na véspera, Paul O’Connell, treinador interino (Andy Farrell, treinador principal e Simon Easterby, adjunto e o homem que comandou a Irlanda no Seis Nações 2025) discorreu sobre as mudanças nos 23 irlandeses no encontro com Portugal.
“Estamos a dar uma oportunidade a jogadores e esperamos que esta experiência os motive. São jogadores muito bons por mérito próprio, a experiência será boa para eles como jogadores e não acho que isso afetará o desempenho da equipa”, antevê.
Os Lobos permanecem na retina de O’Connell desde o tal treino de preparação para o Mundial França2023. “Ainda hoje falamos dessa sessão, não esperávamos que fossem tão bons”, frisou o treinador interino irlandês.
“Para além disso, adorámos vê-los no mundial. Alguns dos jogadores que não sabíamos o nome, ficámos a saber depois desse treino e adorámos segui-los”, reconheceu.
A espionagem da seleção portuguesa continuou até à atualidade. “Foi maravilhoso vê-los jogar contra a África do Sul (julho de 2024) e contra a Escócia (novembro 2024)”, recordou ao pronunciar-se sobre os jogos internacionais dos Lobos.
“Vimos os três ensaios que marcaram contra a África do Sul”, especificou.
“Quando os observo, gosto do que vejo. Gosto da atitude perante o jogo”, elogiou. “Tal como nós, gostam de jogar no espaço”, identificou. “Os defesas (três de trás) são uma verdadeira ameaça”, vincou Paul O’Connell.
“É o que é”. Portugal e o único test match de verão
Do outro lado do banco estará Simon Mannix, selecionador de Portugal. As preocupações, essas, são outras. “Para os países em desenvolvimento, como nós, é um privilégio incrível jogar contra estas equipas”, assinalou o neozelandês que comandou a seleção portuguesa ao apuramento para o campeonato do mundo Austrália2027.
“Há sempre lições a retirar”, destacou em conversa com o 24notícias. “É um jogo de râguebi, temos de ser competitivos e tentar competir”, asseverou.
O histórico duelo com a Irlanda tem um sabor agridoce, contudo. “É o nosso único jogo nesta janela internacional de julho”, lamentou Mannix. “É uma situação um pouco única, não temos outro jogo, mas temos que nos adaptar”, salvaguardou.
“As Nações do Tier 2 (segundo plano, onde está Portugal) sempre foram sobre adaptar e superar situações difíceis. Sabemos isso”, apontou.
“Tivemos um bom tempo juntos, uma experiência incrível para os nossos jogadores jovens que treinaram contra os Lions (no Algarve)”, recordou.
“Treinar com os Lions não é um privilégio, é uma das situações mais únicas que um jogador de râguebi pode encontrar. Estava feliz pelos jovens jogadores. Foi uma ótima experiência para todos os envolvidos, equipa, treinadores, jogadores”, confessou.
No entanto, deixou cair uma nódoa de tristeza na alegria vivida. “Foi pena, por ser uma situação única, que não tivéssemos mais jogadores, os que jogam em França e os das principais equipas portuguesas, seja por estarem lesionados ou forçados a férias pelos clubes (obrigados a cumprir protocolos)”, voltou a lamentar.
“Se perguntar a qualquer anglo-saxónico qual é a coisa mais importante, não são os All Blacks, são definitivamente os British & Irish Lions”, atirou Simon Mannix.
“Tentar preparar o jogo (com a Irlanda) foi desafiante. Fisicamente, por causa do estado dos nossos jogadores e do regime de treinos, os jogadores franceses tiveram de cumprir quatro semanas de descanso e o treino foi um pouco limitado. Os jogadores portugueses jogaram o campeonato 10 ou 11 semanas de seguida”, explicou.
“Tentámos encontrar a balanço e a disponibilidade de todos os nossos jogadores. Por varias razões não tivemos todos disponíveis. É o que é. É a primeira vez que a seleção portuguesa é posta à prova? Não. Sabemos que isso acontece e não faremos disso desculpa. O que sabemos é que teremos uma equipa para dar tudo”, exclamou.
50 jogos de Sousa Guedes e o primeiro de Pedro Ferreira. Duas camisolas para guardar
Nuno Sousa Guedes, 30 anos, cumprirá a 50.ª internacionalização ao serviço da seleção nacional de râguebi. Pedro Ferreira, 27, cumpre o sonho diante a poderosa, mas despida, Irlanda. Fará o primeiro jogo como Lobo.
Nestes grandes e históricos embates internacionais, no râguebi como em qualquer outro desporto, por vezes, os “artistas” trocam e oferecem as camisolas de jogo. Mas a tradição pode deixar de sê-lo no duelo Portugal-Irlanda.
Pedro Ferreira equipar-se-á pela primeira vez com a camisola dos Lobos. Cumpre um sonho e quer que esse momento e essa memória permaneça para sempre junto de si.
“A minha vontade é que cheguem as sete da tarde de sábado (início do jogo no Estádio Nacional)”, notificou na tarde de ontem, após o Captain’s Run.
Reconhecendo o natural nervosismo na observância do ritual da primeira vez que representará Portugal nos seniores, partilha um desejo curioso sobre o destino a dar ao equipamento depois dos 80 minutos de jogo. “Essa camisola será minha. Não há ninguém que vá ficar com ela”, confessou, a sorrir.
Sousa Guedes coloca idêntico desejo no mesmo tabuleiro das vontades no exato jogo em que coloca a marca de 50 jogos atrás das costas.
“Acho que esta camisola não vou entregar a ninguém. Vou guardá-la”, riu. A justificação recua ao França2023. “Ofereci as minhas camisolas todas do Mundial. Foram todas para a família e amigos”, relembrou.
“Nestes jogos, sempre que há um pedido do outro lado, custa-me recusar. Sou incapaz de recusar, mas se calhar saio rápido de campo”, antecipou, terminando a conversa com uma sonora gargalhada.
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