
Um responsável de uma comunidade islâmica, que prefere não ser identificado, ironiza: “É um cartaz que nem sequer se dirige a nós, que manifesta ignorância: nós não somos imigrantes e não temos nada a ver com a Inquisição, que era destinada sobretudo a judeus…”
Na Amadora, o imã Abdul Azim, 29 anos, nascido em Portugal e filho de pais oriundos de Moçambique, confirma o episódio, que se deu por volta das 23h30 de segunda, 29. “Só conseguimos ver na câmara de vigilância que se trata de um indivíduo, todo vestido de preto.”
Foi quando começaram a chegar as pessoas para a oração de Fajr (da alvorada), que começa às 6h30, que os responsáveis da mesquita deram conta do cartaz. “Não dá para ver quem o colocou, porque só temos uma câmara dentro da mesquita, não há nenhuma no exterior”, explica o responsável do culto.
Azim tem a ideia de que a maior parte das pessoas não entendeu a mensagem xenófoba e ameaçadora do cartaz: “A Amadora é uma cidade com muitos imigrantes e muitos deles são africanos ou do sudeste asiático e ainda estão cá há pouco tempo. Sabem que há uma onda de racismo crescente, mas ainda não a entendem completamente.”
No seu caso pessoal, tendo a mãe vindo muita nova para Lisboa, em 1978, e o pai cinco anos depois, Abdul Azim lamenta o sucedido: “Sabemos que existe esta discriminação em relação à religião. Hoje é um cartaz, amanhã sabe-se lá o que virá…”
Assegurando que há uma boa relação da comunidade e dos responsáveis da mesquita com os vizinhos, o imã diz que a mesquita é normalmente frequentada por 50 a 60 pessoas em cada uma das cinco orações diárias. Na sexta-feira, à oração de Zuhr (meio-dia), a mais importante da semana, acorrem cerca de 600 pessoas, distribuídas pelas várias salas da mesquita.
A comunidade apresentou queixa na esquadra da PSP da Amadora. David Munir, o imã da Mesquita Central de Lisboa, confirma que também os responsáveis da Mesquita Central de Lisboa apresentaram queixa na esquadra vizinha e que o cartaz foi colocado também na noite de segunda para terça – e descoberto de manhã cedo, antes da oração da manhã. O mesmo terá acontecido com a mesquita de Odivelas.
No Centro Cultural Colinas do Cruzeiro, que desenvolve actividades no âmbito da educação e da cultura, a opção foi não apresentar queixa, uma vez que foi a primeira vez que um tal episódio sucedeu, diz o xeque Zabir Edriss. Com um pequeno espaço de oração e uma “relação tranquila” com os vizinhos, o Centro é uma escola com aulas de formação religiosa para os mais pequenos e aulas de árabe e cultura islâmica, além de português para estrangeiros.
O Reconquista é um grupo que, de acordo com o seu site oficial, “sintetiza valores tradicionais, nacionalismo e populismo” e que o seu fundador quer tornar “numa força real de mudança cultural e influência política”. No ano passado, o grupo promoveu uma marcha contra a “data fatídica” do 25 de Abril e uma outra “marcha pela remigração” que pedia, num cartaz “Portugal aos portuguezes”[sic]. Pôs também a circular um conjunto de vídeos em que sustentam a tese de que está em curso uma “tentativa deliberada” de substituição dos portugueses por estrangeiros muçulmanos.
Comentários