Em entrevista à SIC Notícias, Paulo Ramalheira Teixeira, antigo presidente da autarquia de Castelo de Paiva, explicou que a "7 de janeiro de 1998 tomei posse e desde aí que defendi e exigi que se fosse feita uma nova ponte. Com a passagem do tempo fomos pedindo audiências aos ministros. Nunca fui recebi pelos ministros, apenas pelos secretários de Estado. A 5 de novembro de 1999, há um secretário que faz alusão à estrutura da ponte no Parlamento: que a Câmara e o presidente sentiam insegurança ao passar em cima da ponte, em relação ao tabuleiro".
"Não tenho dúvidas que o gabinete do ministro sabia. As queixas eram em relação ao pavimento. Não dava para passar um veículo ligeiro e um pesado", frisou.
"Eu fui enganado durante três anos, fui enganado sucessivamente. Há uma secretário de Estado que em 1999 diz que 'há o projeto todo pronto, está em orçamento', depois à um secretário de Estado que fala na Assembleia da República. Até 2001, Castelo de Paiva foi abandonado pelo governo central", acusou.
Teixeira explicou que depois da queda esteve cerca de sete horas na Procuradoria Geral de República (PGR) sob inquérito, tendo apresentado todos os documentos.
Depois da tragédia "até foi a SIC que descobriu 'nas gavetas' um vídeo de 1986, que ficou guardado até 2001, de inspeções subaquáticas que mostravam os buracos nos pilares da estrutura", explicou Teixeira, referindo que na sua altura esta questão "era política. Passei várias dificuldades porque não era ouvido em Lisboa, só após a queda da ponte, aí sim, fizeram o que exigíamos", afirmou.
Apesar de classificar a atitude do Estado como "negligente", Ramalheira Teixeira defende o antigo ministro Jorge Coelho, afirmando que "ele teve uma atitude muito digna, foi uma atitude pioneira, mas a culpa morreu solteira, algo que ele não cria, quando se demite na madrugada".
Ramalheira Teixeira relembra esta ação em artigo de opinião publicado no Observador, referindo que "o Estado português viria a pagar indemnizações às famílias das vítimas, num gesto de reparação civil e moral. Contudo, no plano judicial, a investigação arrastou-se e terminou sem condenações efetivas: “a culpa morreu solteira”. Ficou a sensação amarga de que, apesar de se ter assumido responsabilidade política e de se ter compensado financeiramente os familiares, ninguém respondeu criminalmente pela tragédia, deixando uma marca indelével de falha coletiva no sistema de prevenção e justiça".
A Tragédia de Entre-os-Rios foi um desastre ocorrido na noite de 4 de março de 2001, com o colapso da Ponte Hintze Ribeiro, que fazia a ligação sobre o Rio Douro entre as localidades de Castelo de Paiva e Entre-os-Rios, que resultou na morte de 59 pessoas.
Comentários