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A entrega foi feita por três membros da comissão instaladora — Renata Cambra, António Grosso e Nuno Geraldes — e marca o culminar de uma campanha nacional de recolha de assinaturas iniciada em setembro de 2024. A recolha decorreu nas ruas, locais de trabalho, escolas e manifestações, numa mobilização que o coletivo considera um “ato de organização coletiva e coragem política”.
“Não nos resignamos à crise da representação, nem ao avanço da extrema-direita”, afirmou Renata Cambra, porta-voz do TU, à saída do Tribunal. “Queremos um partido enraizado nas lutas reais da classe trabalhadora, da juventude e dos setores oprimidos — não uma força que viva apenas de e para eleições.”
O TU nasceu da iniciativa de militantes oriundos do Movimento Alternativa Socialista (MAS) e apresenta-se como uma alternativa à esquerda do PS, com uma orientação assumidamente socialista, feminista, antirracista e ligada aos movimentos sociais. A fundação do partido ganhou novo fôlego após as eleições legislativas de 18 de maio, marcadas pela queda do Bloco de Esquerda e da CDU e pela ascensão do Chega, afirmam em comunicado.
“Cada assinatura representa um gesto de confiança”, destacou António Grosso, também membro da comissão e conhecido pela sua atuação na associação Coração Silenciado, que luta pelos direitos das vítimas de abusos na Igreja. “Muitos disseram-nos: ‘fazem falta’. E têm razão.”
Nuno Geraldes, dirigente sindical e ativista no setor dos call centers, sublinhou que o TU não espera apoio dos “grandes meios nem dos poderosos”, mas aposta na força dos trabalhadores: “Não aceitamos continuar a pagar a crise dos outros.”
O coletivo organizou no domingo, 15 de junho, uma festa de encerramento da campanha na sua sede em Lisboa, onde foram homenageados os voluntários e apoiantes que tornaram possível a recolha de assinaturas.
A legalização formal do partido aguarda agora validação pelo Tribunal Constitucional, mas o TU promete continuar ativo nas ruas, nos protestos e nas lutas sociais. “A entrega no Tribunal não é um ponto final”, concluiu Renata Cambra. “É o início de uma nova fase na construção de uma alternativa revolucionária em Portugal”.
"Por uma nova etapa na reorganização da esquerda revolucionária em Portugal": Trabalhadores Unidos escrevem carta aos camaradas que têm rompido com o Bloco de Esquerda:
Dirigindo-se aos antigos bloquistas como "Camaradas" referem: "Lemos com atenção e respeito a vossa carta de rutura com o Bloco de Esquerda. Sabemos, por experiência própria, o quanto custa romper com uma organização à qual se entregaram anos de militância e esperança. Muitos de nós viemos desse mesmo processo — e compreendemos, sem paternalismo nem julgamento, o peso dessa decisão. Por isso vos escrevemos: não apenas para manifestar solidariedade, mas para abrir um diálogo político fraterno e consequente".
"Partilhamos grande parte das críticas que fazem ao Bloco. O seu esvaziamento democrático, a centralização burocrática da direção, o desprezo pelas vozes críticas e a degradação nas relações com os próprios trabalhadores da organização não são desvios acidentais. São o reflexo inevitável de um projeto reformista em declínio, que abdicou há muito da luta pela transformação radical da sociedade e escolheu o caminho da adaptação ao regime. A chamada “geringonça” foi, nesse sentido, a viragem decisiva: ao tornar-se muleta de um governo PS, sem sequer batalhar por condições ou exigências mínimas, o BE suspendeu a luta de classes e escolheu o “realismo” das salas de reuniões ao confronto com os exploradores. Esse caminho não podia senão conduzir à estagnação, ao desencanto e ao colapso", acrescentam.
"Compreendemos que haja entre vós diferentes posições. Alguns procuram reconstruir um projeto coerente à esquerda do Bloco. Outros hesitam entre continuar como independentes ou ajudar a formar um novo partido. Outros, talvez, consideram ter encerrado o seu ciclo de militância partidária. Mas dirigimo-nos em particular aos que compreendem que a crise que enfrentamos — social, ecológica, económica e política — exige mais organização, mais luta, e não menos", dizem ainda.
Fazem assim "um apelo fraterno, direto e urgente": Aos militantes de base, aos quadros locais e regionais que saíram — não fiquem isolados. Não deixem que a desilusão se torne desmobilização. O Trabalhadores Unidos convida-vos a vir conhecer o nosso partido, discutir connosco e intervir ao nosso lado nas lutas concretas — nos sindicatos, nas greves, nas escolas, nas ruas, nas campanhas contra a extrema-direita, na defesa dos serviços públicos. Há espaço e necessidade para cada uma e cada um de vós".
"Precisamos de um partido dos trabalhadores e da juventude, democrático e combativo, feminista, antirracista e internacionalista. Que lute sem vacilações por um governo dos trabalhadores e do povo pobre. Que não tema dizer que o socialismo é não só necessário, mas possível — e que se constrói desde já, com os pés bem assentes na luta concreta, mas com os olhos postos no horizonte da revolução. Queremos fazê-lo convosco", afirmam.
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