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A embarcação, um navio de guerra de 700 toneladas que partira de Goa com destino a Lisboa, transportava um tesouro impressionante — barras de ouro e prata, moedas, sedas e centenas de pedras preciosas —, bem como o vice-rei português, o arcebispo de Goa e cerca de 200 pessoas escravizadas oriundas de Moçambique, explica a revista científica Live Science.
Já danificado por uma tempestade e praticamente desarmado, o navio foi facilmente tomado por piratas comandados por Olivier "La Buse" Levasseur, perto da ilha de Reunião, tendo sido depois levado para a antiga ilha pirata de Île Sainte-Marie, onde acabou por afundar.
Ao longo de 16 anos, Brandon Clifford e Mark Agostini, do Center for Historic Shipwreck Preservation, recuperaram mais de 3.300 artefactos, incluindo imagens religiosas e objetos em madeira e marfim oriundos de Goa, elementos que, juntamente com o estudo da estrutura da embarcação e documentação histórica, sustentam a identificação do navio.
Os investigadores norte-americanos acreditam acreditam que se tratam dos destroços do Nossa Senhora do Cabo, um navio de guerra português afundado em 1721 após um ataque de piratas no Oceano Índico. A embarcação, carregada com um valioso tesouro, terá sido capturada ao largo da Ilha da Reunião e levada para a então famosa base pirata de Île Sainte-Marie, hoje conhecida como Nosy Boraha, ao largo da costa nordeste de Madagáscar.
O estudo decorre há mais de 16 anos e aponta para uma das descobertas arqueológicas mais relevantes da chamada "Idade de Ouro da Pirataria". Segundo os investigadores, os vestígios recolhidos — mais de 3.300 artefactos — incluem objetos religiosos de madeira e marfim oriundos de Goa (colónia portuguesa na Índia à época), como uma imagem da Virgem Maria, parte de um crucifixo e uma placa de marfim com a inscrição “INRI” - abreviação em latim para a frase "Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum", que significa "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus" em português. Essa inscrição era colocada na cruz de Jesus, conforme relatos dos evangelhos, para identificar o motivo de sua condenação à morte . Estes objetos reforçam a ligação ao navio português que partira de Goa com destino a Lisboa.
O Nossa Senhora do Cabo, com 700 toneladas, transportava não só ouro, prata, pedras preciosas e sedas, mas também o vice-rei português cessante, o arcebispo de Goa e cerca de 200 pessoas escravizadas de Moçambique. De acordo com registos históricos, a embarcação terá sido gravemente danificada por uma tempestade antes do ataque, tendo mesmo largado parte do seu armamento. No dia 8 de abril de 1721, já debilitado, foi facilmente capturado por um grupo de piratas liderados por Olivier Levasseur, conhecido como “La Buse” ou “O Abutre”, e John Taylor.
A estimativa do valor da carga ultrapassa, segundo os investigadores, os 132 milhões de euros em valor atual. Após o saque, o navio terá sido afundado junto à costa de Île Sainte-Marie, local estratégico pela sua proximidade às rotas comerciais e pela ausência de autoridades coloniais, o que fez dele um refúgio habitual de corsários europeus.
Apesar de o vice-rei ter sido mais tarde resgatado, o destino do arcebispo e das pessoas escravizadas permanece desconhecido. Os investigadores alertam, no entanto, que o local ainda guarda muitos segredos. Calcula-se que existam entre sete a dez naufrágios naquela baía, dos quais pelo menos quatro serão embarcações piratas ou suas presas. A equipa acredita que futuras escavações podem revelar mais pistas sobre este período turbulento da história marítima.
Apesar de os resultados estarem publicados na revista Wreckwatch, o estudo ainda não foi revisto por pares. Os investigadores sublinham o potencial arqueológico inexplorado da região, onde poderão estar submersos até dez navios da mesma época. A investigação continua, apesar das dificuldades técnicas causadas pelos sedimentos e pela areia que cobrem os destroços.
Inicialmente, o artigo falava de uma cruz incrustada de ouro e rubis que alegadamente estaria a bordo do navio no momento da sua captura. Esta cruz é mencionada num livro sobre o naufrágio, mas o Live Science apurou entretanto que poderá tratar-se de um mito.
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