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São quase cinco da tarde e o dia está prestes a terminar para as crianças que passaram o dia a aprender a surfar. Guiadas pelos treinadores e monitores, preparam-se para lanchar e ir embora, amanhã avizinha-se um novo dia de aprendizagens.
Tiago Fonseca, de 24 anos, é um dos treinadores que se dedica a ensinar o desporto a quem o quiser aprender. A paixão por ensinar prevalece durante o ano inteiro, mas no verão é especial.
Na escola de surf “Ondas d’Aventura”, um negócio familiar fundado há 25 anos, realizam-se campos de férias todos os anos. Durante as férias escolares, Tiago torna-se monitor e adapta as aulas de surf aos mais novos.
“Nós adoramos as crianças. Por nós até fazíamos mais campos de férias no inverno, mas nem todos podem, então acabam por vir só os miúdos que querem mesmo evoluir no surf e levam mesmo o desporto a sério”, conta ao 24notícias.
A herança do surf
O surf entrou na vida de Tiago muito cedo, e aos 24 anos já conta com 22 de experiência nas ondas. Começou a ajudar no negócio de família aos 14 anos, como monitor, e pouco depois começou a dar aulas.
“O meu pai sempre me empurrou desde miúdo, logo a partir dos dois anos. A partir daí, comecei a crescer no desporto porque sempre me interessei muito e fui tirando cursos”.
A “Ondas d’Aventura”, fundada em 2000 pelo pai, Hélder, juntamente com o melhor amigo, foi uma das primeiras escolas de surf em Portugal. Começou em Carcavelos e atravessou o Tejo até às praias da Caparica, onde está situada hoje, nas dunas da Praia do Castelo.
“Na altura, ainda não haviam licenças. Eles começaram a ensinar na base de dois a dois e quando surgiram as licenças e os cursos de treinador, tiraram logo”, conta Tiago.
Questionado sobre a influência do pai na decisão de se tornar treinador de surf, Tiago admite que começou, acima de tudo, por amor ao desporto.
“Eu podia ter seguido outro caminho, mas eu sempre adorei o surf. Foi mesmo porque eu quis”.
No mar e em terra
O surf não é o único desporto que aqui se aprende. Entre as atividades do campo de férias, estão também o stand up paddle e o bodyboard. Em terra, os jovens praticam também o skate e o waveboard.
“Podemos fazer um bocadinho de tudo. Depende das condições do mar e da evolução dos miúdos”, explica.
As idades começam a partir dos cinco anos, e os níveis de experiência variam de aluno para aluno. Há quem venha todos os anos, e há mesmo quem escolha ficar por cá.
“Nós temos miúdos que levam o surf muito a sério, e depois temos outros que são mais pequenos e não os podemos pressionar tanto. Começam numa brincadeira, acabam por gostar e voltam todos os anos. Temos alunos que já vêm há mais de 12 anos e até temos treinadores que eram nossos alunos, tiraram o curso de treinador e ficaram cá connosco”, conta.
Johnny, o cão surfista
Quem também tem presença confirmada todos os anos nos campos de férias é Johnny, o cão surfista. Foi adotado em bebé pelo proprietário da escola, quando passava por uma má fase.
Johnny tinha esgana canina e quase foi abatido, mas graças ao seu dono, conseguiu prosperar e hoje, adora surfar.
Um futuro com vista mar
No fim do verão, Tiago vai iniciar uma nova etapa na sua vida, mas o mar ficará por perto.
“Vou iniciar o curso de fuzileiros na Marinha. Quero testar os meus limites e procurar outros patamares, mas nunca vou largar o surf. É continuar até ter a idade do meu pai, espero eu”, diz entre risos.
Tiago já fez vários cursos — todos relacionados com desporto e nutrição, mas acabou sempre por escolher dar aulas de surf.
“Conseguimos viver financeiramente bem com o surf. Antigamente não, mas hoje em dia, sim”.
Ainda assim, admite que a maior gratificação que o trabalho lhe traz não é financeira.
“Já tivemos muitos alunos com ansiedade e depressão e o surf acabou por lhes dar uma alegria, e encontraram um resguardo nas ondas. As pessoas nunca se vão esquecer de quem foi a primeira pessoa com quem se meteram em pé. Vão sempre recordar-se de nós e da ajuda que prestámos. O surf ajuda muito, o surf em si é alegria”.
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