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"À direita, temos mais uma estação de bicicletas. Mais uma vez, está vazia", aponta João Ferreira, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, enquanto pedalava pela cidade à conversa com o 24notícias.

A frase repetiu-se ao longo do percurso, revelando uma fragilidade no serviço público de partilha de bicicletas da cidade de Lisboa, "Gira". Entre os vários problemas que o serviço apresenta, os militantes que participaram na ação de campanha da CDU, "Vamos pedalar por uma cidade mais verde", destacaram as inúmeras estações com bicicletas disponíveis que aparecem indisponíveis na aplicação.

"Isto é um desincentivo tremendo. Por um lado, é uma demonstração de que, contrariamente àquilo que alguns dizem, as pessoas usam as bicicletas e usam as ciclovias, mas o que constatamos é que poderiam usar muito mais, e não usam porque o sistema não permite", afirma o candidato.

João Ferreira considera ainda que existem "muitas bicicletas com problemas mecânicos", e uma aplicação "com bloqueios sucessivos".

"O sistema está saturado e é pouco fiável", diz. "Não se compreende como é que uma cidade que chegou a ser capital da inovação, e que faz questão de sublinhar o seu papel no desenvolvimento de empresas tecnológicas não consegue ter uma aplicação para a gestão de um sistema de bicicletas que funcione".

O grande problema das ciclovias lisboetas

No entanto, as críticas à mobilidade sustentável na capital não ficaram apenas pelo "Gira". A ação de campanha, que o candidato considera importante por marcar presença em várias zonas da cidade, serviu também para demonstrar, in loco, um conjunto de problemas que as ciclovias apresentam.

Durante uma curta pausa do percurso, na Praça de Espanha, João Ferreira apontou diversas críticas que foi recolhendo no passeio até ali. Entre elas, a falta de conectividade entre partes importantes da rede de ciclovias e situações de falta de segurança.

"Nós fizemos uma parte da ciclovia que acabou em cima de um passeio e em contramão. O problema claramente precisa de ser resolvido", afirma.

João Ferreira defendeu que a expansão da rede de ciclovias em Lisboa deve partir da auditoria realizada durante o atual mandato. Considera que, apesar de ter sido encomendada com o objetivo de “travar o desenvolvimento da rede”, o estudo acabou por se revelar um “instrumento útil” que identifica prioridades claras.

Segundo o candidato da CDU, a auditoria aponta os principais eixos que carecem de ligação urgente, bem como os troços que, ao serem concluídos, asseguram a conectividade entre diferentes zonas da cidade.

“Deve ser um ponto de partida, uma base de trabalho”, sublinhou, defendendo que a prioridade deve estar nas ligações que mais impactam a segurança e a coerência da rede.

Mas para João Ferreira, a promoção da mobilidade sustentável em Lisboa passa não só pela expansão da rede de ciclovias, mas também pela criação de programas de ensino de bicicleta desde o ensino básico. Considera essencial disponibilizar iniciativas que ensinem crianças, adultos e até pessoas mais velhas a circular em segurança, assim como recuperar apoios municipais à compra de bicicletas.

O reforço da segurança rodoviária é apontado como “uma medida fundamental”, exigindo ações de acalmia de tráfego, novas Zonas 30 e residenciais e a redução da velocidade máxima em algumas vias. Embora estas propostas tenham sido aprovadas no atual mandato, João Ferreira critica o facto de muitas terem ficado “na gaveta”.

Na sua perspetiva, a mobilidade sustentável é central para enfrentar a degradação da qualidade do ar e do ambiente em Lisboa. Sublinha que zonas residenciais, escolas e hospitais estão hoje entre as áreas com piores índices de poluição.

“Não conseguiremos melhorar as condições de mobilidade e ambientais da cidade sem retirar pessoas do automóvel para o transporte público e para os meios suaves”, alertou.

Habitação sem interesses

Na habitação, o programa da CDU propõe aumentar a habitação municipal e cooperativa e combater a especulação imobiliária. Questionado sobre prazos para cumprir a proposta, João Ferreira esclareceu que o partido pretende dinamizar 5 mil fogos a preços acessíveis num mandato — uma meta que considera realista face ao que está já previsto pela Carta Municipal de Habitação.

"Como? Uma parte terá de ser promoção direta da Câmara Municipal, ou seja, construção, pela Câmara Municipal em terrenos seus. Uma parte deve ser, do nosso ponto de vista, o resultado de parcerias entre o município e o Estado Central, que tem responsabilidades também na promoção da política de habitação. Aliás, as maiores responsabilidades são do Estado Central, não tanto dos municípios", defende.

Outras soluções incluem parcerias com cooperativas, o fomento de novas soluções cooperativas “fora de uma lógica especulativa”, e ainda parcerias público-comunitárias que possam “retirar da equação da formação do preço o fator especulativo do preço do solo”.

João Ferreira sublinhou ainda a importância do zoneamento inclusivo, obrigando futuros promotores imobiliários a reservar parte das novas construções para arrendamento a preços acessíveis.

“Os promotores imobiliários que queiram desenvolver novas habitações passam a ter uma condicionante, que é reservar uma parte daquilo que construírem para arrendamentos a preços acessíveis", explica.

O candidato recordou também que em Lisboa existem 48 mil casas vazias, das quais 30 mil “não pagam sequer fatura de água” e apenas 6 a 7 mil têm IMI agravado.

“A Câmara deve utilizar os instrumentos que tem ao seu dispor, seja penalizações, seja incentivos, para que essas casas sejam colocadas no mercado de arrendamento ou de venda, ajudando com isso a baixar os preços também”, defendeu.

Questionado sobre a definição de renda acessível, João Ferreira clarifica: “Naquilo que é construção direta do município ou do Estado central, o valor da renda é fixado […] num valor que represente não mais de 30% a 35% do orçamento familiar".

Nos transportes, o investimento deve ser a dobrar

Outra das propostas que está no programa da CDU é a redução do Passe Navegante Metropolitano de 40 para 30 euros. A médio prazo, o partido quer também caminhar para o transporte público gratuito. Ainda assim, João Ferreira garante que “a gratuidade não é neste momento uma prioridade”. O objetivo imediato é melhorar a quantidade e a qualidade da oferta, atualmente insuficiente, que representa o principal bloqueio à utilização do transporte público.

No caso da Carris, sob gestão da Câmara, a CDU propõe duplicar o investimento médio anual, passando dos atuais 27 para 54 milhões de euros, assegurando que esta verba “seria suficiente para melhorar de forma significativa o serviço da Carris”.

O candidato sublinha ainda a necessidade de uma reformulação global da rede, que não acontece desde 2007. Segundo João Ferreira, a rede deve ser planeada para reduzir o tempo de deslocações, minimizar transbordos e reforçar horários e percursos, especialmente fora das horas de ponta, à noite e fins de semana, garantindo um transporte público mais fiável e eficiente.

Mais árvores e mais espaços verdes

Também a estrutura verde Lisboa é uma prioridade no programa da CDU, e João Ferreira quer garantir que cada cidadão esteja a “não mais de 10 minutos a pé ou 300 metros de um espaço verde”. O foco, segundo o candidato, deverá ser o núcleo central da cidade, onde essa meta é mais difícil de cumprir.

Para isso, prevê criar e renovar espaços verdes, aumentar a permeabilidade do solo e densificar as árvores de alinhamento.

O candidato reconheceu que a meta não pode ser totalmente alcançada durante um mandato, mas que é fundamental iniciar o reforço da estrutura verde já neste horizonte temporal.

Questionado sobre a polémica em torno do corte de jacarandás na cidade, João Ferreira considerou que se tratou de uma ação simbólica, mas com efeito negativo.

“Numa zona que não tem grande disponibilidade de árvores e de espaços verdes, o caminho apontado pela Câmara Municipal foi reduzir em vez de aumentar”.

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