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Lecornu, que ocupava a pasta da Defesa há três anos, afirmou que a sua abordagem será guiada pela “humildade”, mas enfrenta uma tarefa difícil: conquistar apoio suficiente num parlamento fragmentado para aprovar o Orçamento do Estado. Caso contrário, arrisca-se a ter o mesmo destino de Bayrou e do seu antecessor Michel Barnier, que resistiu apenas três meses no cargo.“Vamos conseguir… nenhum caminho é impossível”, disse Lecornu no seu primeiro discurso após a nomeação.

Esta é já a terceira mudança de primeiro-ministro em apenas um ano, reflexo da instabilidade que marcou a política francesa desde as eleições antecipadas convocadas por Emmanuel Macron, que não produziram maioria clara. O parlamento continua dividido entre três blocos — esquerda, extrema-direita e centro — e será necessário chegar a acordo sobre o orçamento nas próximas semanas.

Protestos e desconfiança da oposição

Enquanto Lecornu iniciava reuniões com líderes partidários, dezenas de milhares de manifestantes saíam às ruas em todo o país, bloqueando estradas e praças sob forte dispositivo policial — mais de 80 mil agentes foram destacados.

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Apesar do discurso de mudança, Lecornu é visto como um símbolo de continuidade. Próximo de Macron desde 2017, chegou a ser descrito como o “filho espiritual de Macron”.

Boris Vallaud, líder parlamentar socialista, comentou: “Fazia parte de um governo que caiu esta semana. Compreende o nosso ceticismo. O que os franceses pedem é uma verdadeira mudança de política”.

A esquerda radical, La France Insoumise, apresentou de imediato uma moção de censura, embora sem garantias de apoio alargado. Já Jordan Bardella, líder do Rassemblement National (extrema-direita), avisou que Lecornu se encontra “numa posição muito precária”: “Se não houver prova de uma verdadeira mudança, será apresentada uma moção de censura e Lecornu cairá.”

Também Sébastien Chenu, vice-presidente do partido de Marine Le Pen, disse ser “muito surpreendente” acreditar que Lecornu, aliado de Macron, possa realmente romper com a linha política do presidente.

Popularidade baixa

Segundo Gaël Sliman, da empresa de sondagens Odoxa, citado pelo jornal britânico The Guardian, inquéritos rápidos revelaram que Lecornu estreia-se com as piores taxas de aprovação de um novo primeiro-ministro nos últimos anos.

O próprio reconheceu a necessidade de “ser mais criativo e sério” na forma como o governo trabalha com a oposição e anunciou que, nos próximos dias, vai dirigir-se diretamente aos franceses para explicar a sua estratégia. Prevê-se que demore várias semanas a formar governo.