
A classificação das pessoas em gerações é, evidentemente, um conceito artificial; todos os anos há pessoas de todas as gerações a viver as realidades do seu tempo. A questão é que, com a aceleração exponencial da tecnologia, essas pessoas precisam de se actualizar cada vez mais depressa ou, para colocar essa questão de uma maneira mais realista, as pessoas sentem que se tornam obsoletas mais depressa e mais vezes durante a sua vida. Aprendem a viver num mundo que muda quase radicalmente em pouco tempo, obrigando-as a mudar de especialidade duas, três vezes, quando “antigamente” uma especialidade (ou um emprego) era para a vida.
Coloquei “antigamente” entre aspas porque é difícil definir o que é antigo, embora seja fácil ver o que já passou. Os especialistas, para facilitar a conversa, dão nomes às tais gerações, que correspondem às décadas em que as pessoas nasceram. É uma classificação tão artificial como a dos anos; convencionou-se que um ano é uma rotação completa da Terra à volta do Sol, e depois convencionou-se contar os anos a partir de um acontecimento – no caso das sociedades católicas indexado ao nascimento de Jesus Cristo (sendo que não se sabe com precisão quando nasceu, nem o dia, nem o mês, nem sequer o ano!).
Adiante. No mundo ocidental é um lugar comum chamar de “A Grande Geração” aos nascidos entre 1901-1927, “Geração Silenciosa” entre 1928-1945 (agora com idades entre os 80 e 97), “Babyboomers” entre 1946-1964 (dos 6O aos 80), “Geração X” para os bebés entre 1965-1980 (agora entre os 45 e os 60), “Milenares” entre 1981-1996 (entre 30 e 45 anos), e Geração Z entre 1997-2012 (13 a 29 anos), “Geração Alfa” entre 2013-24, e este ano nascem os primeiros da "Geração Beta”.
Esta classificação é completamente aleatória, não se baseia em nenhuma premissa científica, mas tornou-se a maneira mais prática de fazer comentários, como nesta coluna. Não sei se é aceite no mundo Oriental – desconfio que a China deve ter uma própria, baseada nos acontecimentos políticos que agitaram o Império do Meio durante séculos.
Porque, de facto, não é tanto a idade que interessa, mas sim a situação material (crises, pestes, guerras) e a compreensão do mundo que estas gerações enfrentaram. Isto vem a propósito de inúmeros artigos, como este, que têm aparecido na comunicação social e nas redes sobre o que está a acontecer à Geração X, as pessoas de “meia idade” que têm de se adaptar a uma estrutura social e técnica completamente diferente daquela em nasceram.
Uma situação é a chamada “gig economy”, o grande número de trabalhos que se tornaram temporários e/ou sem um contrato com o empregador. Aquilo a que os comunistas chamam de “precaridade do trabalho”. Esta situação, na grande maioria dos casos, só se tornou possível com o desenvolvimento das plataformas digitais. Glovo, Uber e Bolt são bons exemplos; não têm sequer uma sede material onde as pessoas possam falar cara a cara com alguém. Quando a Geração X entrou no mercado de trabalho, estava a acabar o sistema em que uma pessoa trabalhava numa empresa com contrato e contacto com um responsável. As gerações seguintes já começaram a trabalhar com computadores e telemóveis, não tiveram de se adaptar.
Outra questão é a dificuldade de uma pessoa de meia idade encontrar trabalho. As empresas preferem pessoas mais novas, mais “dóceis” e melhor adaptadas ao mundo digital. A experiência é pouco valorizada. Esta situação – a dificuldade de arranjar trabalho depois dos 50 – já acontecia há muito tempo, mas agora é mais difícil pela velocidade a que tudo muda. E, apesar da plena posse das suas faculdades uma pessoa com 50 anos não é tão ágil nem se adapta tão facilmente como um jovem.
Outro factor a levar em consideração é que a Geração X está numa fase em que tem de tomar conta dos filhos e, muitas vezes, dos filhos e dos pais. Precisa de casas maiores e o preço de alugar ou comprar tem aumentado a um ritmo muito maior do que no “antigamente”. Como se pode ler no artigo do “The Economist” acima citado, “esta geração tornou-se adulta num período de punk rock e uma economia baseada na procura, aprendeu a codificar em BASIC e passou pela recessão de 1990-91, a bolha informática, a crise financeira de 2008 e a pandemia do COVID. Agora com 40-50 anos, estão a navegar carreiras e perspectivas de reforma formadas por tecnologias e choques económicos impossíveis de prever".
Como será quando a próxima geração chegar a estas idades? Terá estes problemas e talvez outros que, precisamente, não são previsíveis. Mas estão mais habituados à mudança. O mundo não pára, antes pelo contrário, acelera. Problemas à escala mundial que dantes se mantinham uma vida inteira, hoje estão esquecidos numa semana, substituídos por outros. Se isso é bom ou mau, que venha o diabo e escolha.
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