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A psicóloga clínica Catarina Perpétuo, autora do livro Filhos, Haja Quem os Entenda!, foi a convidada do Explica-me Isto para ajudar os pais a perceber o que pensam, sentem e fazem os filhos e, sobretudo, o que está nas entrelinhas desse processo.

Catarina Perpétuo começa por explicar que a confusão começa ainda antes de os pais terem os filhos nos braços. "Os pais criam um bebé na sua imaginação, e uma família também. Mas o bebé real nunca é o da fantasia. Esse confronto é inevitável e essencial para integrar o bebé na identidade de pai e de mãe”.

O livro, e a conversa, olham para a infância não como um campo de obediência, mas de relação. Ser pai ou mãe, diz Catarina Perpétuo, é aprender a estar disponível, não apenas no tempo, mas na presença emocional. “Os limites não servem para controlar, servem para conter. Ajudam a criança a organizar-se, a perceber o que é real e o que é imaginário. Uma criança sem limites não é livre, está perdida no meio de um mundo que não entende.”

A psicóloga fala também daquilo que chama “os labirintos da parentalidade” — as zonas de sombra onde os pais se perdem entre o medo de falhar e a exigência de serem perfeitos. E se se costuma dizer que quando nasce uma mãe, nasce a culpa, Catarina Perpétuo explica-nos que muitas as crianças também se sentem culpadas pelas asneiras que fazem e que importa ter atenção a essas reações.

Entre o “sim” e o “não”, entre a autoridade e a ternura, Catarina Perpétuo insiste numa ideia: a parentalidade é uma relação em que ambos crescem. E onde é preciso ter atenção às entrelinhas: “Às vezes, o comportamento da criança é uma linguagem. Quando há birras, agressividade, recusa de comer ou medo da escola, o que está em jogo não é o ato em si, é o que ele representa. O que é que a criança está a tentar dizer que ainda não sabe pôr em palavras?”

A autora recorda que “a alimentação, o sono ou o comportamento” são muitas vezes espelhos emocionais, modos de a criança expressar tensões internas. Lembra que importa escutar as crianças para além do que estamos a ver no momento, perceber o que nos querem dizer na forma como reagem.

No livro e na entrevista, Catarina Perpétuo faz também um alerta: a parentalidade contemporânea tende a oscilar entre a culpa e o controlo, dois extremos que impedem o verdadeiro encontro com o filho. “Os pais não controlam tudo. Mas podem deixar dentro da criança uma presença — uma voz que a consola, uma noção de responsabilidade, uma curiosidade pelo mundo. É isso que a acompanha quando os pais não estão.”

Em suma, ser pai ou mãe, afinal, é aprender a suportar o mistério, o da infância, e o de si próprio. A conversa com a também professora universitária foi sobre a  parentalidad como uma experiência humana complexa, atravessada por amor, medo, culpa e descoberta.

Os filhos não vêm com manual de instruções e o livro Filhos, Haja Quem os Entenda! também não quer ser um. Para Catarina Perpétuo este livro pode ser lido como um guia, mas não daqueles que prometem respostas rápidas. “A ideia é que os pais possam pensar sobre as questões que vão surgindo e descobrir respostas dentro de si, que façam sentido para a sua dinâmica familiar.”

Quando o bebé nasce, há uma tentação de controlar tudo: o sono, a alimentação, o choro, o ritmo de cada dia. Mas, como explica Catarina Perpétuo, há uma parte que escapa sempre, e é nesse espaço que os pais crescem também. “No início, os pais não controlam os ritmos do bebé — nem o sono, nem a alimentação. E também não controlam o que o bebé pensa, porque ele pensa, mesmo sem palavras. Aos poucos, vão percebendo que controlam cada vez menos — e que isso faz parte.”

Esse processo de aceitação não é simples: traz à superfície memórias, medos e histórias antigas. “Os nossos medos e as nossas próprias vivências enquanto bebés participam silenciosamente na parentalidade. Às vezes, o que mais nos angustia num filho é o reflexo de algo nosso, lá atrás.”

A dependência total do bebé, a fragilidade dos primeiros dias, o momento em que começa a andar, tudo são pequenas separações. E cada uma delas é também um ensaio sobre o desapego. “Há pais para quem o mais difícil é a dependência do bebé; outros sentem mais angústia quando o bebé começa a afastar-se, quando já anda, já cai e se levanta sozinho. É um sentimento de perda — quase de abandono — que faz parte do crescimento de ambos.”

Nesta conversa, a psicóloga fala ainda do regresso às aulas e as primeiras separações, outro momento em que pais e filhos aprendem a lidar com o que não podem controlar. “Ir para a escola é uma transição muito desafiante para a criança — e também para os pais. Às vezes é mais difícil para eles do que para o filho. Mas as escolas estão cada vez mais preparadas para conter essas angústias, com diálogo e acompanhamento.”

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Há temas que dominam a atualidade, mas nem sempre são fáceis de entender. Em "Explica-me Isto", um convidado ajuda a decifrar um assunto que está a marcar o momento. Política, economia, cultura ou ciência, tudo explicado de forma clara, direta e sem rodeios. Os episódios podem ser acompanhados no FacebookInstagram e TikTok do 24notícias.

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