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Ângelo Fernandes junta-se ao É Desta Que Leio Isto no próximo encontro, marcado para dia 25 de setembro, uma quinta-feira, pelas 21h00. Consigo traz "Neblina", o seu mais recente livro, publicado pela Oficina do Livro.
Neste que é o seu primeiro romance, Ângelo Fernandes, vencedor em 2004 do Prémio Nacional de Escrita Para Teatro e fundador da associação Quebrar o Silêncio, traz uma história crua e perturbadora sobre as sombras que nos habitam e o preço atroz de enterrar uma verdade que, após três décadas, finalmente se recusa a ficar calada.
Em declarações ao 24notícias, conta que a ideia para esta obra "nasceu da vontade de explorar as relações entre os vários elementos de uma família quando estes vivem mergulhados em segredos há muito aprisionados e tensões acumuladas ao longo de anos".
"Quis focar os segredos capazes de revelar o pior que existe nas pessoas. O tema do abuso serve de mote para fazer emergir essas tensões. Daí também ter escolhido começar no Natal, porque é a época em que mais se encena a harmonia familiar, mesmo quando esta não existe, e onde o verniz pode estalar com facilidade. Interessa-me esse contraste entre a mesa decorada e o peso dos silêncios. No fundo, esta família poderia ser qualquer família portuguesa a tentar sobreviver a uma ceia natalícia com ressentimentos e feridas mal cicatrizadas a ressurgirem", desvenda o autor.
Para Ângelo Fernandes, o "foco foi escrutinar os desencontros e as confrontações entre os membros desta família, uns mais diretos, outros mais velados, e deixar ao leitor a interpretação: o que está em causa, o que aconteceu, onde reside a culpa e de quem é, afinal, a responsabilidade".
Contudo, assume, que "não quis apresentar este tema de forma simplista ou maniqueísta. O que quis foi convidar quem lê a refletir sobre a responsabilidade de quem sabe do que acontece e nada faz, a pensar em quem esse silêncio protege realmente e se as boas intenções, quando não passam disso mesmo, podem ter algum desfecho positivo".
Este livro, lançado a 16 de setembro, começa agora a dar os primeiros passos nas mãos dos leitores. "Espero que o 'Neblina' surpreenda e prenda quem o lê. Até agora, a receção tem sido bastante positiva. Saber que houve leitores que o consideraram uma das melhores leituras do ano é para mim um enorme motivo de orgulho", realça.
"Gostaria que o 'Neblina' provocasse alguma reflexão e mexesse com algumas das pré-conceções que todos temos sobre o abuso sexual. Qual é a imagem que se tem de uma pessoa que passou por um trauma desta natureza? E como idealizamos os comportamentos dela? Como se veste, como gere as relações com os outros", acrescenta ainda.
Sendo um tema difícil, Ângelo assume que "algumas pessoas poderão sentir algum desconforto ou reconhecerem algo da sua própria experiência nas personagens, e também isso é algo que pode ser alvo de reflexão". Afinal, é "um romance sobre silêncio, trauma e sobrevivência, e, claro, responsabilidades, e há sempre a expetativa de a leitura poder gerar conversas fora das páginas".
Sobre trazer o tema dos abusos também para a ficção, Ângelo Fernandes considera que "depende sempre de quem escreve, da história e do objetivo do autor ou da autora".
"O abuso sexual é um tema complexo, emaranhado em ideias erradas, crenças, mitos e estigmas. Há cuidados muito distintos a ter quando se trata de escrever não-ficção e quando se trata de um romance", aponta. "A ficção tem uma força particular: permite ao leitor sentir-se dentro, através das personagens, aquilo que um ensaio só pode explicar. Isso carrega um risco, pode sensibilizar, mas também pode chocar ou até mesmo até trivializar. Por isso, a abordagem exige um enorme cuidado".
"No meu caso, não escrevi com o objetivo de fazer ativismo — para isso tenho o meu trabalho na associação Quebrar o Silêncio e aquilo que publico em não-ficção. Mas claro que tive imenso cuidado em tratar o tema com o respeito e a seriedade que merece. A ficção deve, acima de tudo, ser uma forma de arte e de entretenimento; se da leitura resultar também um momento de aprendizagem ou de reflexão, é um extra muito bom, mas será sempre um extra", nota.
Ângelo Fernandes, que se tivesse de viver dentro de um livro "gostaria de habitar num livro entre o universo de Stanisław Lem e o de Leïla Slimani", mostra-se "bastante entusiasmado" para o clube, "embora também sinta alguma ansiedade e um nervosismo miudinho".
"Através da Quebrar o Silêncio, estou habituado a falar em público e a lidar com pessoas, algo de que gosto muito, mas nunca o faço a partir de mim próprio. Falar sobre o 'Neblina' obriga-me a trazer a minha pessoa para a conversa, e essa parte costuma estar protegida pelo trabalho", confidencia.
"Creio que este nervosismo inicial desaparecerá assim que o clube começar. Os clubes de leitura são uma oportunidade única para o autor ouvir os leitores de forma direta e receber feedback que de outra forma não teria acesso. Tenho a certeza de que será uma experiência muito boa", remata.
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