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"Ajudem uma mãe sob ataque a manter os seus filhos em segurança", no original "Help a mother under attack keep her children safe". É este o nome da campanha de crowdfunding criada por Ana Gaivão Cordovil na GoFundMe, plataforma online de angariação de fundos, onde explica: "Estou a pedir ajuda financeira porque já não consigo suportar isto sozinha".

A decisão não foi tomada de ânimo leve. Pelo contrário: Ana ponderou bem o assunto e decidiu avançar apenas quando se viu sem alternativas: "Já gastei as poupanças de uma vida, endividei-me e vou ter de me endividar mais para continuar a investir nos meus filhos e na sua segurança. Recuperar a guarda dos meus filhos custou-me mais de 300 mil euros".

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Ana sempre trabalhou. Era sub-diretora de uma das maiores plataformas de emprego na Europa quando correu para Lima à procura dos filhos, em julho de 2024. Prova do seu profissionalismo foi a licença sem vencimento concedida pela empresa. "Quero voltar a trabalhar logo que seja possível", garante. Mas, por agora, as condições não estão reunidas: os dois filhos, de três e seis anos, precisam de mais atenção do que nunca.

Já este ano, Ana procurou trabalho, mas “rapidamente conclui que não conseguiria fazê-lo, quer pelas exigências do meu dia-a-dia atual”, que implicam reuniões constantes com advogados e audiências em tribunal para garantir que não é presa e, novamente, separada dos filhos, quer, sobretudo, pela exigência que é “trazer o máximo de normalidade à vida de duas crianças que foram sujeitas a um trauma fortíssimo”.

Após mais de um ano de separação forçada, desde que os rapazes foram raptados pelo pai e levados ilegalmente de Espanha — onde tinham residência habitual — para o Peru, a mãe conseguiu a guarda das crianças em julho deste ano, mas a situação continua frágil. Sem rendimentos, Ana precisa "urgentemente de ajuda para continuar a lutar em mais de 20 processos judiciais" (há 22 ativos neste momento), instaurados pelo marido e pela família deste, e proteger os filhos.

Entre os processos a correr, dois de divórcio, em que o pai das crianças pede a Ana um milhão e meio milhão de dólares de indemnização por "danos morais", ou um pedido de pensão de alimentos retroativa pelos gastos que teve com os filhos que raptou. "Só no dia 3 de dezembro consegui uma ordem judicial que o obriga a pagar 2.000 euros, mas que provavelmente ele conseguirá adiar até abril de 2026”, explica a mãe.

Há, contudo, outros constrangimentos além dos múltiplos pedidos de indemnização. O filho mais novo, por exemplo, ainda não está na escola “porque o pai continua a ter poder de decisão e a bloquear soluções”. Em vez de aceitar que a criança frequente um infantário perto de casa, só aceita que vá para uma escola que, “além de cara, fica longe e é pouco adequada” para um miúdo que ainda está a superar alguns medos, como a separação da mãe.

Mas houve outros motivos que levaram Ana a hesitar avançar com a campanha internacional de angariação de fundos, como o medo de que o gesto fosse usado contra si pelo pai das crianças, acusando-a de oportunismo ou de se estar a aproveitar publicamente de uma situação dramática.

Todas as declarações à imprensa, nacional ou estrangeira, são escrutinadas e podem servir de arma contra si, ser usadas em tribunal para a prejudicar — são inúmeros os processos de difamação e violência em que é pedida pena de prisão para a mãe. Ainda assim, e confrontada com a necessidade de continuar a proteger os filhos, Ana optou por não se calar.

Inicialmente, a campanha de angariação de fundos dirigia-se aos Estados Unidos, onde Ana Gaivão Cordovil estudou, casou, trabalhou e criou laços profundos, como é visível pelas mensagens de carinho que tem recebido: “Sempre admirei a sua força e resiliência, mas observar a forma como lidou com este último ano e meio mostrou-me o quão extraordinária é. Tem uma comunidade global inteira ao seu lado”, escreve uma ex-colega de trabalho. Muitos torcem para que se faça justiça.

Em dezembro, a campanha foi estendida a Portugal. “Não é fácil pedir ajuda, sobretudo quando se trata de dinheiro. Quando recebi uma notificação, uma amiga avisou-me: olha que estou a receber uma mensagem falsa em teu nome a pedir dinheiro. Não estava. Fiquei, de certa maneira, constrangida quando tive de explicar a minha situação. As pessoas acham que isto só acontece aos outros”, conta Ana.

As contas estão feitas e Ana Gaivão Cordovil discrimina todas as despesas, passadas e futuras, não apenas as da assistência jurídica, mas também as de acompanhamento psicológico especializado para as crianças, entre outras.

Qualquer pessoa pode contribuir, e “um euro já é uma ajuda imensa e que agradeço do fundo do meu coração”. Ana lembra: “só aguentei até aqui porque tenho tido imenso apoio da minha família e amigos, emocional, mas também financeiro”. Apesar de todas as doações e empréstimos, a situação mantém-se “muito complicada”.

Apesar de toda a história, que pode ser lida aqui e aqui, Ana diz que este Natal é "abençoado" e dá "graças a Deus e a todos os anjos" por poder passá-lo novamente com os filhos, ainda que os três sozinhos, longe de toda a família alargada, incluindo avós, tios e primos maternos, com quem tinham uma "relação muito próxima". O pior de tudo, é não saber quando voltarão a estar reunidos com a família e quanto tempo estarão impedidos de sair do Peru legalmente.

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