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"É uma afirmação sem qualquer base científica", diz Miguel Silva Miranda, médico neurologista no Sleeplab e no Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, ao 24notícias.
O sonambulismo é uma doença do sono que se carateriza por comportamentos automáticos, sobretudo durante a primeira metade da noite, com início súbito e durante um fase de sono profundo.
"Durante um episódio de sonambulismo, o doente pode levantar-se, andar, falar, gritar procurar objetos ou até mesmo realizar tarefas como preparar o pequeno-almoço", explica o especialista.
Estes episódios acontecem porque o cérebro dos doentes está parcialmente acordado e parcialmente a dormir, o que causa os comportamentos automáticos e a confusão mental.
A patologia é mais frequente numa idade mais tenra, podendo afetar cerca de 20% das crianças. Nos adultos é mais rara, com uma taxa entre os 2 e os 4%.
"Não sabemos muito bem o que causa estes episódios motores, mas acreditamos que possam ser precipitados, por exemplo, por privação de sono, stress e febre, sobretudo em doentes com predisposição genética", afirma Miguel Silva Miranda.
A genética apresenta um papel determinante no sonambulismo, uma vez que ter um familiar em primeiro grau com este diagnóstico aumenta o risco em dez vezes.
Apesar de acordar um sonâmbulo não lhe provocar gaguez, pode desencadear outros comportamentos curiosos — desde perplexidade extrema até resistência física inesperada.
Há ainda quem diga que pode ser perigoso. No entanto, não há qualquer evidência que mostre que acordar um sonâmbulo pode ter consequências futuras para o doente.
"A nossa preocupação principal são os acidentes. Os sonâmbulos podem cair, sair de casa, utilizar objetos cortantes ou até ferir-se com gravidade sem ser aperceberem".
Quem tem familiares sonâmbulos deve, por isso, garantir um ambiente seguro em casa — retirar objetos perigosos, trancar janelas e portas e, caso sejam crianças, evitar beliches.
Na maioria dos casos pediátricos, o sonambulismo desaparece com a idade. Se os episódios forem frequentes ou persistentes, os pais devem procurar ajuda junto de um médico especialista em patologias do sono.
"Os pais podem recorrer a despertares programados, geralmente 15-20 minutos antes da hora prevista para o episódio. Manter esta estratégia durante duas a quatro semanas pode ajudar a quebrar o ciclo em algumas crianças", afirma o especialista.
Entre os vários mitos que existem à volta do sonambulismo, diz-se ainda que os sonâmbulos "andam sempre de olhos fechados", que "sabem o que estão a fazer" ou que se trata de um "distúrbio psicológico".
Questionado pelo 24notícias, o médico acredita que estes mitos tornam-se populares porque pode ser "desconcertante" e "misterioso" ver alguém a andar enquanto dorme.
"A combinação de comportamentos estranhos com a aparência de estarmos acordados pode levar à ideia de que não devemos interferir", remata.
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