
Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt
Quem já dividiu a casa com mais de um gato, sabe como as personalidades podem ser diferentes. Um pode miar a pedir comida, ronronar alto ao colo e receber visitas na porta. Outro pode preferir a observação silenciosa à distância.
Um estudo recente, citado pela BBC, liderado pelo investigador de vida selvagem Yume Okamoto e uma equipa da Universidade de Kyoto, no Japão, sugere que parte da resposta pode estar nos genes dos gatos.
Donos de gatos de todo o Japão foram convidados a preencher um questionário sobre os animais (o Questionário de Avaliação e Pesquisa Comportamental Felina) e a recolher uma amostra de ADN da bochecha do animal. A pesquisa incluiu perguntas sobre uma variedade de comportamentos felinos, incluindo ronronar e vocalizações direcionadas a pessoas.
Os investigadores do estudo japonês concentraram-se no gene do recetor de andrógeno (AR) dos gatos, localizado no cromossoma X. Esse gene ajuda a regular a resposta do corpo a hormonas como a testosterona e contém uma secção onde uma sequência de ADN é repetida.
A forma mais antiga de AR surgiu no ancestral comum de todos os vertebrados com mandíbula, há mais de 450 milhões de anos. O AR controla a formação dos órgãos reprodutores masculinos, as características sexuais secundárias e o comportamento reprodutivo. O número dessas sequências altera a resposta do gene. Repetições mais curtas tornam o recetor mais sensível aos andrógenos. Em outras espécies, incluindo humanos e cães, repetições mais curtas no gene AR têm sido associadas ao aumento da agressividade e da extroversão.
Entre 280 gatos castrados ou esterilizados, aqueles com a variante curta do gene AR ronronavam com mais frequência. Machos com a variante também apresentaram pontuações mais altas em vocalizações direcionadas, como miar para serem alimentados ou soltos. Fêmeas com o mesmo gene, no entanto, eram mais agressivas com estranhos. Enquanto isso, gatos com a versão mais longa e menos ativa do gene tendiam a ser mais quietos. Essa variante era mais comum em raças de pedigree, que normalmente são criadas para serem dóceis.
Acredita-se geralmente que a domesticação tenha aumentado o comportamento vocal em gatos, então pode parecer estranho que a versão do gene ligada ao aumento da comunicação e assertividade seja a mesma encontrada em espécies selvagens como o lince.
Porém, este estudo não apresenta uma narrativa direta sobre como a domesticação dos gatos e seleciona características sociáveis. Em vez disso, aponta para um quadro mais complexo, no qual certas características ancestrais, como a agressividade, ainda podem ser úteis, especialmente em ambientes domésticos de alto stresse ou com escassez de recursos.
Alguns animais passam muito tempo perto de humanos porque são atraídos pelos nossos recursos, em vez de serem criados como animais de companhia ou em quintas. As gaivotas urbanas oferecem um exemplo interessante de como a proximidade com os humanos nem sempre torna os animais mais dóceis. Nas cidades, as gaivotas-prateadas e as gaivotas-de-dorso-escuro (ambas frequentemente chamadas de gaivotas-pequenas) tornaram-se mais ousadas e agressivas.
Investigadores da Universidade John Moores de Liverpool descobriram que as gaivotas urbanas tinham menos medo de humanos e eram mais propensas a brigas em comparação com as rurais. Em áreas urbanas, onde a comida é altamente disputada, ser assertivo traz resultados.
Os paralelos com os gatos levantam questões mais amplas sobre como o ambiente e os genes moldam o comportamento. As descobertas de Okamoto e colegas podem refletir uma compensação. Traços ligados à variante AR curta, como maior vocalização ou assertividade, podem oferecer vantagens para atrair a atenção humana em ambientes incertos ou competitivos. Mas esses mesmos traços também podem manifestar-se como agressividade, sugerindo que a domesticação pode produzir uma mistura de traços desejáveis e desafiadores.
Comentários