
Quem tem casas vazias a ganhar pó pode viver de “alugueres”. E quem tem carteiras de luxo encostadas ao armário também — pelo menos é nisso que acredita Marta Mendes Pinto, fundadora e CEO da aplicação Rent Your Bag.
A ideia surgiu há dois anos, a partir de uma reflexão sobre uma sociedade cada vez mais consumista e centrada na imagem, alimentada pelas redes sociais, onde repetir a mesma carteira ao fim de poucas semanas é quase mal visto.
“Cada vez mais temos um consumo absurdo, e as redes sociais amplificam isso. As pessoas querem variedade, mas não têm poder de compra. Do outro lado, há quem tenha gasto dois ou três mil euros numa mala e a use quatro vezes por ano”, exemplifica Marta.
Com formação em marketing, Marta identificou um mercado inexplorado: o das malas de luxo em segunda mão com potencial para gerar rendimento passivo.
Um Airbnb das carteiras de luxo
O modelo é consumer-to-consumer, a Rent Your Bag não tem stock próprio e por isso, a app funciona apenas como intermediária.
“O negócio é das pessoas. Quem aluga decide o preço por dia, o valor da caução (se quiser), os dias disponíveis e a quem aluga”, explica a empreendedora.
Há uma verificação rigorosa, é obrigatório anexar o cartão de cidadão, ter mais de 18 anos, um cartão de crédito associado e os pagamentos são processados via Stripe. “Tentamos minimizar ao máximo problemas e fraudes.”
Também existem avaliações dos utilizadores. “Se alguém tem duas estrelas em cinco, podes recusar o aluguer. Se tem cinco em cinco, talvez aceites. A escolha é tua.”
As entregas são feitas via DPD, com etiqueta gerada automaticamente na aplicação. “É como a Vinted: escolhes o ponto de pickup mais próximo e deixas lá a mala.”
Para quem?
O público-alvo são mulheres com carteiras de luxo que já não usam regularmente. “Gastaram dinheiro com elas, mas hoje preferem ter o dinheiro do que a mala. E a mala já nem vale o que custou. Pagaram dois mil euros, hoje vale 500.”
A ideia também serve quem quer aceder, pontualmente, a peças exclusivas sem fazer um grande investimento. “Há malas que as pessoas adoravam usar, mas não faz sentido comprar. Assim, podem alugar por uns dias ou semanas.”
Além disso, pode ser uma oportunidade para influencers em fase inicial, que recebem muitos produtos, mas ainda não geram rendimento. “Com esta aplicação, podem começar a ganhar dinheiro com o que já têm.”
A barreira da cultura
O maior desafio foi lidar com o “não” tipicamente português. “As pessoas dizem logo: ‘alugar carteiras é muito pessoal, nunca vi, nunca vai resultar’. Mas quando explicamos, muitas voltam atrás e dizem: ‘ah, até alugava’”, analisa a CEO da RYB.
Além disso, na construção da aplicação teve de lidar com alguns obstáculos técnicos: encontrar um programador, desenvolver o backoffice, criar parcerias logísticas.
Mas dois anos depois a aplicação está pronta para ser utilizada.
Uma assistente de styling com IA
O desenvolvimento da aplicação foi feito de raiz, com recurso a outsourcing técnico. Quando tudo tiver mais consolidado, o plano passa por evoluir para uma nova fase: introduzir inteligência artificial.
Em versões futuras, a aplicação deverá incluir uma assistente de styling com IA que ajude os utilizadores a fazer combinações e decisões de compra.
“Muita gente não sabe como conjugar uma mala encarnada ou amarela. A IA vai sugerir looks, cores, estilos.”, antecipa a fundadora.
A funcionalidade está ainda em fase de planeamento, mas faz parte da visão.
“Não queremos apenas ser uma plataforma de aluguer. Queremos ser uma assistente pessoal de luxo — um ponto de contacto entre tecnologia, moda e sustentabilidade”, resume Marta
Entrar nos principais mercados da moda
Por agora, a prioridade é consolidar o mercado nacional, aumentar o stock disponível e criar confiança entre as utilizadoras.
Mais tarde, o plano passa por escalar para outros países europeus, começando por mercados com forte cultura de moda e luxo, como França, Espanha ou Itália.
Marta Mendes Pinto está confiante no futuro, acredita que a Rent Your Bag está alinhada com as tendências do consumo: a economia circular e o consumo colaborativo.“Uma mala que está guardada num armário pode ser um ativo. É uma forma de transformar o luxo em rendimento. No fundo, de fazer as malas trabalhar por nós”, conclui.
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