
A decisão do Sport Lisboa e Benfica de abandonar, a 8 de julho de 2025, o grupo de trabalho que prepara a centralização dos direitos televisivos é, acima de tudo, um sinal de desconfiança. Depois de quatro anos a oscilar entre o apoio de princípio e o ceticismo sobre o modelo em discussão, o clube assume agora, sem rodeios, que não acredita no rumo seguido. A direção encarnada alega atrasos estruturais, metas de receitas pouco realistas e, sobretudo, a ausência de um plano estratégico que garanta mais valor do que o sistema atual.
Na missiva endereçada à Liga, o Benfica afirma que o processo está desatualizado face à realidade internacional, recorda os contratos renegociados em baixa noutros campeonatos e aponta a concentração do mercado português num único operador como obstáculo à concorrência. Mais do que reivindicar mudanças, exige que o relógio volte atrás: quer suspender o calendário, reunir com o Governo e todos os partidos, criar um fundo de emergência para os clubes que sintam dificuldades durante a transição e investir, antes de qualquer decisão, em tecnologia, combate à pirataria e revisão fiscal. A mensagem implícita é clara: sem salvaguardas e reformas profundas, o Benfica não cederá o controlo dos seus direitos.
O momento escolhido para este corte também não surge do nada. O futebol profissional do clube vive uma reconfiguração acelerada – Luisão regressou ao Brasil, Lourenço Coelho foi para a Federação e Rui Pedro Braz prepara a saída, enquanto Joaquim Milheiro foi nomeado apressadamente para liderar o Seixal. Em ano eleitoral, a direção sente a necessidade de apresentar firmeza num dossiê mediático, projetando para fora uma imagem de vigilância e de defesa dos interesses encarnados. Há, contudo, o risco de que este gesto se confunda com mera manobra de sobrevivência política num contexto de turbulência interna.
As consequências são delicadas. Ao retirar‑se da mesa de negociações, o Benfica abdica de influenciar diretamente o modelo que, inevitavelmente, continuará a ser trabalhado. Se Porto, Sporting e a maioria das SADs se mantiverem no grupo de trabalho, o processo avançará sem a voz do clube que gera as audiências mais valiosas do campeonato. Voltar mais tarde poderá significar negociar em desvantagem, quando as regras do jogo estiverem praticamente definidas. Num setor que gera mais de mil milhões de euros anuais e sustenta milhares de empregos, o custo de um recuo prolongado pode ultrapassar o ganho político de um protesto sonoro.
Fica, pois, a interrogação central: esta posição do Benfica é um passo estratégico para melhorar o processo ou apenas uma pausa tática ditada pela pressão eleitoral? Liderar não se esgota em apontar falhas: exige permanecer na discussão e apresentar soluções viáveis. Se o clube quer realmente moldar o futuro dos direitos televisivos, terá de decidir rapidamente se prefere ser arquiteto do novo modelo ou espectador crítico de um resultado que, entretanto, outros irão construir.
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