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O processo foi penoso e demorado, mas, 20 anos depois do início da obra, ficou concluída a primeira etapa do novo sistema de drenagem da capital, no âmbito do Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL). "Hoje é um dia histórico para Lisboa, porque esta é a maior obra da Europa", exclama o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), na cerimónia de inauguração, em Santa Apolónia, em êxtase com o feito.

Apesar de a conclusão da obra estar prevista para o “início de 2025”, como referia repetidamente um vídeo promocional do PGDL, em exibição durante o evento, só agora, em julho, foi concluído o túnel que une a zona de Campolide a Santa Apolónia, a dois meses das eleições autárquicas.

Com um orçamento global próximo dos 250 milhões de euros, o projeto, inicialmente lançado em 2006, começa a ganhar forma. Teve avanços significativos em 2015, durante o mandato de Fernando Medina (PS), mas as obras de maior escala, como os túneis, arrancaram apenas em 2023, já sob a liderança de Carlos Moedas (PSD).

A equipa municipal da Câmara de Lisboa terminou, assim, a escavação do primeiro túnel, que começou a ser construída em dezembro de 2023, com recurso a uma tuneladora de grande porte apelidada de H2O, já em funcionamento no terreno.

Esta infraestrutura “invisível” está totalmente subterrânea, abaixo da linha do metro, e contempla um conjunto de intervenções, como a construção de novos canais e a adoção de soluções sustentáveis para a gestão e rentabilização da água.

Durante a sessão estiveram também presentes a Ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, e a Comissária Europeia do Ambiente, Resiliência Hídrica e Economia Circular Competitiva, Jéssica Roswall, que reforçaram a notabilidade do avanço tecnológico para a cidade, servindo de exemplo para o resto da Europa.

"Uma das grandes prioridades do atual governo é a água, e isso passa pela luta pela reutilização da água, mas também pelo combate dos efeitos das alterações climáticas, protegendo as nossas cidades, a nossa população, contra eventos extremos, como as cheias que temos visto noutras partes do mundo", explicou a ministra.

Ao que a comissária europeia acrescentou: "Nós temos tomado a água por garantida, mas acredito que projetos como este são o exemplo de que sabemos o que fazer, só precisamos de alguma ação. E, por termos tomado iniciativa, eu também estou muito feliz de estar aqui".

Como funciona o novo sistema de drenagem?

Ao longo de cerca de um ano e meio, uma máquina de perfuração de grande porte escavou discretamente sob a cidade de Lisboa, desde Campolide até à zona ribeirinha de Santa Apolónia. Avançando cerca de 10 metros por dia, este equipamento percorreu um total de 4,6 quilómetros, criando um túnel profundo que servirá como uma via de escoamento de águas pluviais em situações de chuva intensa, um problema que todos os invernos tem gerado problemas na capital.

O objetivo desta infraestrutura subterrânea é simples, mas crucial: captar o excesso de água que se acumula durante temporais e encaminhá-lo diretamente para o rio Tejo, aliviando a pressão sobre os sistemas de drenagem tradicionais e prevenindo inundações em zonas críticas da cidade.

Durante a escavação, que atingiu profundidades até 63 metros, foram montados mais de dois mil anéis de betão para reforçar o túnel, num processo que implicou a remoção de cerca de 140 mil metros cúbicos de terra. Paralelamente, o projeto inclui uma grande bacia de retenção com capacidade para armazenar 17 mil metros cúbicos de água.

"Vamos poupar muita água porque construímos este projeto não só para proteger [a cidade] das cheias, mas também para ter um reservatório de 17 mil
metros cúbicos, onde a água da chuva vai poder ser reutilizada. Reutilizada para quê? Para lavar as ruas, regar os nossos jardins, para utilizações que não são para água potável", explicou o autarca aos jornalistas e convidados presentes na sessão.

Assim, a água recolhida poderá ser tratada na ETAR de Alcântara e reaproveitada para tarefas como lavagem urbana ou uso operacional por bombeiros.

De acordo com Carlos Moedas, Lisboa gasta, por ano, 2,8 milhões de metros cúbicos de água, em atividades que não requerem água potável. Este plano vai permitir "fechar o ciclo da água", uma ambição alinhada com a estratégia europeia para os recursos naturais, como sugere a ministra Graça Carvalho.

É previsível que, nos próximos anos, continue a ser aplicado o investimento em trabalhos ainda por executar, como a rede de canalização de águas a montar ao longo do túnel, para usos vários na cidade. A câmara não se compromete com uma data para finalização do plano, que incluirá ainda um segundo túnel, de um quilómetro de extensão, entre o Beato e o rio.

Nem tudo é um mar de rosas

A fase final da construção do novo túnel de drenagem de Lisboa revelou complicações inesperadas junto à estação de metro de Santa Apolónia, avançou o jornal Público. O solo que envolve aquela área revelou-se menos estável do que se previa, o que vai obrigar à realização de obras de reforço estrutural dentro da estação do metro. Como consequência, a circulação da Linha Azul será interrompida naquele troço durante vários meses.

A intervenção está prevista para arrancar em setembro e deverá prolongar-se até abril do próximo ano, obrigando ao encerramento completo da estação de Santa Apolónia durante cerca de sete a oito meses, revelou José Silva Ferreira, director-geral do PGDL. Durante esse período, a ligação entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia será feita através do reforço dos autocarros, mas o plano de transportes alternativos ainda não foi divulgado.

A fragilidade dos terrenos junto à estação foi identificada durante os últimos metros da escavação. Em declarações aos jornalistas, o diretor-geral do plano explicou que o problema foi inesperado: "Constatado este problema, havia duas maneiras de o resolver. Ou segurávamos as terras em volta do túnel ou o fazíamos por dentro. Como se percebeu que as terras não são boas, vamos ter de segurar a estação por dentro, colocando grandes argolas, para segurar as paredes".

Uma obra que é também dos trabalhadores

Carlos Moedas dedicou parte da sua intervenção a Carmona Rodrigues, antigo presidente da Câmara de Lisboa responsável pela criação do plano de drenagem. O atual presidente do Grupo Águas de Portugal também esteve presente na sessão, a quem foi deixado um agradecimento especial, em nome de todos os dirigentes e trabalhadores envolvidos.

“Devemos-lhe esta obra”, reforçou Carlos Moedas, de frente para o engenheiro, com o Tejo como pano de fundo, "sei que sonhou com esta obra". Apesar de não nomear as razões para ter demorado tanto a ser concretizada, o autarca apontou as cheias de 2022 como o ponto de viragem - duas catástrofes ambientais que acontecem apenas de 100 em 100 anos. "Foi aí que tomámos essa decisão, com coragem".

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No momento de concretização do primeiro túnel, além dos devidos agradecimentos institucionais à União Europeia, ao ministério, ao executivo camarário e às empresas parceiras, Carlos Moedas deixou uma palavra especial aos trabalhadores: "Esta obra foi feita por pessoas de todo o mundo, o que representa a nossa cidade. Dormiram e comeram dentro do túnel".

O presidente pediu um último aplauso aos imigrantes portugueses que saíram do país para lutar por uma vida melhor e aos que vieram para Portugal para trabalhar e contribuir para o país.

"Aqui está a Europa visível", termina, reforçando: "Num ano e meio, viemos por baixo de Lisboa, invisivelmente, a criar uma solução para o futuro da cidade".

Atualmente, o município está a pagar a obra através de financiamento contraído junto do Banco Europeu de Investimento (BEI) até 2030.