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"Por favor, não te esqueças de não usar o meu nome, suplico-te, porque posso ser presa". O pedido é feito depois de responder a todas as perguntas feitas pelo 24notícias, com tristeza, mas sem hesitação: "Não acredito que Donald Trump fique sem fazer nada, depois de todas as ameaças. Se ficar quieto, vai fazer figura de palhaço", diz Clara, nome inventado para proteger a testemunha.

"O país está muito tenso há meses, todos à espera que aconteça alguma coisa a qualquer momento. O povo está esperançado, mas chega a altura e não acontece nada, parece a história de Pedro e o lobo", desabafa. "Há muito desespero, angústia e tristeza. Muita tristeza".

"O que se passa com a economia é impressionante, as pessoas estão cada vez mais pobres, não têm dinheiro para pagar nada, as empresas não dão, o comércio não dá, a população está cada vez mais indigente, muita gente na rua a pedir comida. É horrível". Este é o retrato traçado por Esther. Como se não bastasse, "as redes de terrorismo e de narcotráfico têm muito poder, estão a dar cabo de tudo".

No meio do desânimo, a esperança: o país parou para ouvir o discurso de María Corina Machado: "A Venezuela será livre". Vencedora do prémio Nobel da Paz, opositora de Nicolás Maduro, fez a sua primeira aparição pública desde há 11 meses, depois de ter deixado o lugar onde vive na clandestinidade, com a ajuda do governo dos Estados Unidos, rumo a Oslo — uma reportagem do "The Wall Street Journal" conta que teve de se disfarçar para passar por dez postos de controlo na Venezuela.

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Num discurso emocionado, María Corina Machado agradeceu "àqueles que arriscaram as suas vidas" para levá-la até à Noruega e garantiu que pretende regressar ao país natal, apesar dos avisos de que será presa se o fizer. "Vim receber o prémio em nome do povo venezuelano e vou levá-lo de volta para a Venezuela no momento certo".

O discurso da cerimónia de entrega do prémio, lido pela filha, Ana Corina Sousa, foi dedicado a Donald Trump, presidente dos EUA, por apelar à intervenção internacional na Venezuela, enquanto o regime de Maduro foi acusado de sequestrar e torturar "para enterrar a vontade do povo".

Numa altura em que o Irão e a Rússia declaram apoio incondicional a Maduro, Clara ainda acredita que a diplomacia estrangeira pode ajudar. Como? "Fazendo muita pressão, pedindo informações sobre tudo, redes de narcotráfico, roubos, terrorismo, maus-tratos, intimidação, verificando o que está a acontecer nas prisões", diz. "O receio principal é que estão a apertar muitíssimo o cerco à oposição, já quase não se pode viver aqui". E lamenta a "invasão" dos russos, dos cubanos, dos iranianos, dos chineses, "que estão a dar cabo do país, a sangrar-nos".

Esther vai mais longe: "Estamos doidos de incerteza. Todos desejamos que Maduro saia e tínhamos a esperança de que fosse agora. Pensámos que este era o dia em que Trump ia tirar Maduro do poder" — "Maduro tem os dias contados", afirmou em entrevista.

"Dizem que Trump quer o nosso petróleo, quer os nossos minerais" — em 2019, quando o presidente dos EUA impôs sanções ao sector petrolífero da Venezuela para pressionar Maduro, as exportações da Venezuela caíram para cerca de 495 mil barris por dia. Seis anos depois, as sanções continuam em vigor, mas as vendas de petróleo voltaram a crescer e rondam o milhão de barris/dia. "Já não nos interessa o que Trump quer, o que queremos é que entre na Venezuela e tire do poder este senhor que nos está a tornar a vida impossível, a fazer-nos a vida miserável".

"Em Portugal queixam-se da saúde", lembra, "não sabem o que é a saúde na Venezuela. Como não sabem que há presos políticos, que as pessoas não podem falar, que há pessoas a serem torturadas. O melhor que podia acontecer era Trump atacar hoje, já. O presidente dos Estados Unidos não pode ficar quieto depois de todas as ameaças que fez, mais cedo ou mais tarde vai ter agir".

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