
O programa “Impactful entrepreneurship for inclusion and diversity in Africa” visa fomentar os setores agroalimentar e informático, dirigido a jovens com "competências técnicas e o desenvolvimento de soft skills para negociar, liderar equipas ou resolver conflitos", explicam, em comunicado.
Espera-se a integração de cerca de 45 jovens entre os 14 e os 18 anos, desafiados a aprender a transformar ideias simples em pequenos negócios na zona do Dundo e em Luena, no nordeste de Angola. Estas são zonas marcadas por uma enorme vulnerabilidade económica, que resulta da exploração desenfreada de diamantes e com principal impacto nos direitos das crianças.
As aulas vão debruçar-se na capacitação técnica de empreendedorismo, no desenvolvimento de competências interpessoais essenciais como a comunicação, a integridade, a resiliência, o trabalho em equipa e princípios de tomada de decisão.
No final das dez ações de capacitação previstas até 2027, espera-se que os participantes sejam capazes de desenvolver um negócio desde o início: elaborar orçamentos, planear a produção, definir preços, negociar com parceiros e apresentar ideias com clareza.
Fora das sessões, os encontros semanais na sede da USEPHA, no Dundo, traduzem-se em momentos de convívio complementar à formação e indispensáveis para a adoção das 'soft skills', exploradas durante o curso. Procura-se também o domínio das ferramentas informáticas e utilização estratégica das redes sociais.
"O objetivo é empoderar estes adolescentes para eles alcançarem a sua plena autonomia e sustentabilidade financeira, rompendo ciclos geracionais de exclusão e
assumindo um papel ativo no futuro das suas comunidades", acrescenta a organização.
Renato Pereira, Associate Dean for Internationalization and Research da Iscte Business School e coordenador deste projeto, defende que o grupo "está a trabalhar com jovens com enorme potencial, criatividade e desejo de mudança, mas que vivem em contextos profundamente adversos, sem acesso a educação formal de qualidade ou a oportunidades económicas mínimas”.
A formação vai ser dada pela Iscte Business School em parceria com a USEPHA, uma ONG angolana especializada na capacitação para a gestão de micro e pequenos negócios, durante o mês de agosto.
Zonas de exploração e pobreza
Segundo Renato Pereira, “a atividade mineira, em muitos locais totalmente informal e sem regulação adequada, tem agravado fenómenos como o trabalho infantil, os casamentos forçados e o recrutamento de adolescentes por redes criminosas”.
“A nossa metodologia parte da realidade local e procura responder a necessidades concretas, de forma realista e aplicável”, afirma o Associate Dean
da Escola de Gestão do Iscte. “Focamo-nos em setores críticos, como o agroalimentar, que além de representar uma oportunidade económica, tem um
impacto direto na segurança alimentar das comunidades”.
Para o diretor, o objetivo não é apenas criar negócios, "mas fundamentalmente construir respostas enraizadas nos territórios, uma vez que a sustentabilidade
de qualquer iniciativa, sobretudo nestes contextos, depende da sua capacidade de mobilizar e empoderar as comunidades locais e de gerar confiança”.
Esse esforço passa também por envolver instituições e empresas locais, que colaborem e alimentem a vontade de desenvolver estes resultados, em última análise, ajudando a criar pontos de apoio dentro das comunidades.
“Estes jovens não serão apenas microempreendedores: podem vir a ser líderes locais, mentores e referências para os que virão a seguir”, termina.
“No essencial, esta iniciativa visa restaurar a capacidade de sonhar e de agir, mesmo em lugares onde a esperança foi esmagada por décadas de
exclusão”, conclui o docente da Iscte Business School, Renato Pereira.
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