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Em 2026 o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) criou o GelAvista um programa de ciência cidadã responsável pela monitorização dos organismos gelatinosos em toda a costa portuguesa, Açores e Madeira. Lançado em fevereiro de 2016, o objetivou é envolver a comunidade no desenvolvimento da ciência, colmatando assim a falta de conhecimento sobre as espécies que existem em Portugal.
O programa reúne informação acerca destes animais, com a participação de cidadãos que reportam avistamentos destas espécies em praias, estuários, rios, marinas, e outros durante atividades de lazer ou profissionais.
Segundo esta plataforma, que reúne vários especialistas em todo o país em alforrecas, é possível concluir que "algumas espécies de medusa podem picar, injetando veneno e causando reações locais e, no caso da caravela-portuguesa, efeitos sistémicos ocasionais".
"Estas espécies têm cnidócitos, células usadas para alimentação e defesa, que são como minúsculas seringas que injetam substâncias tóxicas por contacto com outros animais", referem.
"Os cnidócitos encontram se essencialmente nos tentáculos. No caso dos humanos, o nível de toxicidade depende da espécie e da quantidade de veneno injetada. Os cnidócitos permanecem ativos mesmo após a morte do animal. A maioria dos contactos é acidental e ocorre na praia. Por isso, é importante evitar tocar nos organismos arrojados, especialmente nos seus tentáculos", acrescentam.
Porém, sobre o mito de se é urinar numa picada efetivamente ajuda a curar os sintomas do envenenamento, em resposta ao 24notícias o GelAvista refere que esta crença se trata de uma mentira. "Experiências efetuadas e cujos resultados foram publicados em revistas da especialidade, verificaram que o uso de ureia [composto orgânico da urina] não produziu qualquer diferença notável em comparação com os casos não tratados", afirmam.
O que fazer em caso de contacto?
- Lave a zona afetada com água do mar, sem esfregar;
- Remova com uma pinça os possíveis vestígios do organismo na pele.
Com uma caravela-portuguesa:
- Aplicar compressas quentes (40º C) durante cerca de 20 minutos ou, Vinagre sem diluir;
- Se estiver em choque, com dificuldades em respirar ou a dor persistir, consulte o seu médico ou farmacêutico.
Com uma medusa ou água-viva:
- Aplicar compressas de gelo durante cerca de 15 minutos;
- Se a dor persistir, consulte o seu médico ou farmacêutico.
O que não fazer?
- Não usar água doce, vinagre (à exceção de contacto com caravela-portuguesa), álcool, ou amónia;
- Não usar ligaduras ou pensos rápidos.
Quais as espécies da nossa costa?
Physalia physalis (Caravela-portuguesa)
A caravela-portuguesa, P. physalis é um sifonóforo. "Trata-se de uma colónia de indivíduos especializados em diferentes funções que, em conjunto, formam um único organismo. Flutua na superfície do mar impulsionado por ventos e correntes, com a ajuda do pneumatóforo, um flutuador em forma de balão. Os seus tentáculos podem atingir até 30 metros de comprimento. Esta espécie ocorre com frequência ao longo da costa portuguesa, incluindo Açores e Madeira e é a mais perigosa de todas as que ocorrem em Portugal", esclarece a GelAvista.

Velella velella (Veleiro)
Distingue-se da caravela-portuguesa por apresentar o flutuador em forma de vela. "O veleiro flutua à superfície e é influenciado por ventos e correntes superficiais. Cosmopolita, vive nos mares tropicais e temperados dos oceanos. É uma espécie comum nas águas portuguesas, ocorrendo no final do inverno e nos meses de primavera. Estes organismos podem formar agregados densos à superfície da água, e cobrir vastas áreas de areal quando dão à costa. Os seus tentáculos são curtos e ligeiramente urticantes, pelo que se recomenda evitar o contato direto", aponta a GelAvista.

Catostylus tagi (Medusa-do-tejo)
É a medusa mais comum em Portugal continental, podendo ser facilmente observada em portos e marinas, especialmente nos rios Tejo e Sado. "Esta medusa tem origem no rio Tejo, daí o seu nome. É uma espécie de grandes dimensões, com tentáculos espessos em forma de cacho e com as gónadas em forma de cruz, visíveis através da campânula. O seu poder urticante é considerado fraco, no entanto, aconselha-se precaução", diz a GelAvista.

Pelagia noctiluca (Água-viva)
Conhecida como água-viva nos Açores e Madeira onde ocorre com muita frequência, durante a primavera e o verão é considerada a medusa mais comum no Mar Mediterrâneo. "Os seus tentáculos podem chegar aos dois metros de comprimento e é muito urticante. As suas células urticantes estão concentradas nos tentáculos, mas existem também na sua campânula. Esta é uma espécie bioluminescente, significa por isso que emite luz quando estimulada pelas ondas do mar ou pelas embarcações e visível durante a noite", sublinha a GelAvista.

Rhizostoma luteum (Medusa-tambor)
É uma espécie relativamente comum, que ocorre na costa portuguesa, no estreito de Gibraltar e na costa oeste Africana, com relativa frequência. "É uma medusa de grandes dimensões cuja campânula pode chegar aos 60 cm de diâmetro. É facilmente reconhecida pelos seus braços orais curtos e folhosos, com longos apêndices de coloração escura nas extremidades. É considerada como ligeiramente urticante", indica a GelAvista.

Chrysaora hysoscella (Medusa-compasso)
Considerada muito urticante, ocorre ocasionalmente na costa portuguesa, com particular incidência na costa algarvia. "Distingue-se facilmente pela sua simetria radial com a presença de bandas castanhas-escuras projetando-se a partir do centro da campânula, em forma de V", informa a GelAvista.

Aurelia aurita (Medusa-da-lua)
É uma espécie considerada cosmopolita, que ocorre nas zonas costeiras de águas quentes e temperadas de todos os oceanos, sendo frequentemente registada em portos, marinas, lagoas costeiras e estuários. "É facilmente distinguida pelo seu aspeto translúcido com as suas gónadas em forma de ferradura, visíveis no centro da campânula. É rara em Portugal. É considerada ligeiramente urticante, devendo-se evitar o contacto direto com a pele", apresenta a GelAvista.

Phacellophora camtschatica (Medusa-ovo-estrelado)
Esta é uma medusa de grandes dimensões. "Possui uma campânula esbranquiçada de 30 a 60 cm de diâmetro e uma gónada central amarelada, dando-lhe um aspeto de ovo estrelado. Apresenta 16 grupos de tentáculos longos, podendo atingir os seis metros de comprimento. Esta espécie é rara e ocorre nas águas dos Açores e da Madeira durante a primavera e o verão. É considerada ligeiramente urticante", denota a GelAvista.

Salpa
São organismos gelatinosos do grupo dos cordados, não são medusas e apresentam-se em todos os mares e oceanos. "Exibem um ciclo de vida complexo, com uma fase solitária e uma fase colonial. Alimentam-se principalmente de fitoplâncton, podendo ocorrer em grandes números em zonas muito produtivas. Criam, na sua fase colonial, cadeias que atingem vários metros de comprimento. Não são urticantes", refere a GelAvista.

Pyrosoma atlanticum (Pirosoma)
"Estes organismos são cordados e coloniais, e apesar de cada organismo ter apenas alguns milímetros de tamanho, constituem estruturas rígidas semelhantes a um cilindro oco, com uma das suas extremidades aberta. Habitam as águas rasas e quentes do oceano aberto, mas podem ser encontrados em grandes profundidades. Não são urticantes", sublinha a GelAvista.
Pleurobrachia spp. (Groselha-do-mar)
Este ctenóforo conhecido como groselha-do-mar. "Trata-se de um pequeno organismo gelatinoso globular ou ovoide e transparente com um par de longos tentáculos que servem para apanhar as presas. O corpo apresenta quatro pares de fileiras longitudinais de cílios (finos filamentos) montados em placas transversais curtas que são bioluminescentes. Não são urticantes", destaca a GelAvista.
Bolinopsis
Estes ctenóforos e quase transparentes de forma oval que exibem bandas longitudinais com cílios bioluminescentes. "Possuem tentáculos, que são usados para alimentação. Os seus avistamentos em Portugal são raros e acontecem principalmente em estuários de rios. Não são urticantes", esclarece a GelAvista.

O que fazer quando se encontra uma alforreca?
O IPMA pede que todos os cidadãos participem na recolha de informação sobre este tipo de organismos e qualquer um pode participar enviando os avistamentos através da aplicação da GelAvista em Android ou IOS ou enviando informação para plancton@ipma.pt
Devem ser enviadas as seguintes informações depois de um avistamento:
- Data e hora do avistamento;
- Localização do avistamento;
- Fotografia do(s) organismo(s), se possível com algum objeto que sirva de referência de escala;
- Número de organismos avistados na mesma zona (0; 1-5; 6-10; 11-50; + de 50; + de 100; + de 1000).
A recolha de informação pode ser acompanhada através das redes sociais da GelAvista onde são partilhados os avistamentos na costa portuguesa.
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