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O roubo de livros raros de Alexander Pushkin e Nikolai Gogol, perpetrado entre 2022 e 2023, abalou bibliotecas de toda a Europa, escreve o The Guardian. Entre os alvos destacam-se a Universidade de Varsóvia, a Biblioteca Nacional da Letónia e a Biblioteca Nacional de França.
A escala do crime – com obras avaliadas em mais de 2,8 milhões de euros – e a sofisticação das técnicas usadas colocam questões sobre se estes atos foram apenas oportunismos ou parte de um esquema mais amplo.
Em Varsóvia, a 16 de outubro de 2023, um jovem casal entrou na sala de leitura com nomes falsos e solicitou oito livros da coleção do século XIX da universidade. Fotografavam páginas, mediam dimensões e, após uma pausa, cinco livros desapareceram misteriosamente. Entre eles estava "Os Irmãos Ladrões", de Pushkin, sugerindo uma escolha deliberada e simbólica.
Investigações subsequentes revelaram que, nos meses anteriores, outros 74 livros tinham sido furtados e substituídos por fac-símiles de qualidade duvidosa.
O padrão repetiu-se por toda a Europa: dois indivíduos pediam livros raros sob identidades falsas, distraíam os funcionários e retiravam os volumes. Em Riga, afirmaram ser refugiados ucranianos; em Helsínquia, polacos; em Paris, búlgaros interessados na literatura russa do século XIX. O modus operandi, embora simples, demonstrava planeamento e audácia.
O primeiro suspeito a ser detido foi Beqa Tsirekidze, cidadão georgiano, com antecedentes em comércio de antiguidades e furtos. ADN encontrado em livros roubados na Letónia e Estónia ligou-o aos crimes. Julgado em 2024, foi condenado a três anos e meio de prisão. Contudo, as autoridades continuaram sem resposta definitiva sobre quem estava a coordenar os furtos, suspeitando que existisse uma força maior por detrás.
O Eurojust criou uma equipa conjunta com França, Lituânia, Polónia e Suíça para investigar os crimes transnacionais.
Testemunhos de envolvidos permitiram perceber que o esquema era algo caótico: várias gangues competiam, trocando livros reais por cópias e confundindo os investigadores. Isto levou à conclusão de que, ao contrário de um único esquema centralizado, os furtos funcionaram quase como uma farsa, com rivalidades internas e duplicações de ações.
As autoridades descobriram que os livros roubados circulavam em circuitos privados, possivelmente através de intermediários russos como a livraria Staraya Kniga ou o mercado Litfund, embora não haja provas diretas de que estes tenham encomendado os roubos.
Alguns suspeitos alegaram ter vendido as obras a compradores russos por criptomoedas, enquanto outros fabricaram fac-símiles para enganar colegas e investigadores. Até hoje, nenhum dos originais desaparecidos foi recuperado e a cooperação com entidades russas revelou-se inexistente.
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