
"Deu-me bofetadas na cara, nas costas, nas pernas e com o Evangelho na cabeça. E como foram tantas bofetadas, fiquei sem audição um pedaço de tempo", relatou na segunda-feira Luísa Freitas, uma das noviças da Fraternidade Cristo Jovem, situada em Requião, Famalicão, citada pelo Jornal de Notícias.
Luísa Freitas, hoje com 38 anos e noviça na altura das agressões, contou ao coletivo de juízes do Tribunal de Guimarães, as "coças" e os "castigos" dados por uma "irmã", durante os onze anos em que viveu no convento, bem como as jornadas de trabalho de "15 horas" e o insultos por parte do padre.
"A irmã Arminda bateu-me com o chinelo, deu-me murros, puxou-me o cabelo, deu-me com a disciplina [chicote] e incitou a irmã Joaquina a bater-me", contou. Devido aos gritos, o sacerdote foi ver o que se passava — mas nada fez. "[O padre Milheiro] achou que era necessário, porque Jesus também se sacrificou", afirmou.
Os arguidos são o padre fundador da instituição e três religiosas que asseguravam o funcionamento do convento e a educação e orientação vocacional das noviças que ali entravam para seguir uma vida de “entrega a Deus”.
A acusação sublinha que as arguidas, apesar de se apelidarem como “irmãs”, na realidade não são freiras, pois não têm votos tal como exigido pela Igreja Católica.
A instituição também é arguida e respondem todos por nove crimes de escravidão.
Segundo a acusação, os arguidos resolveram angariar jovens para exercer todas as tarefas diárias exigidas para a conservação e manutenção das instalações da instituição e continuação da sua atividade, “sem qualquer contrapartida e mediante a implementação de um clima de terror”.
Para o efeito, acrescenta a acusação, cortaram-lhes qualquer capacidade de reação, utilizando-as como mera força de trabalho.
“Os arguidos tinham como alvo jovens de raízes humildes, com poucas qualificações ou emocionalmente fragilizadas e com pretensões a integrarem uma comunidade espiritual de raiz católica, piedosas e tementes a Deus”, refere ainda a acusação.
Os arguidos diriam às jovens que “tinham sido escolhidas por Deus, convencendo-as de que deviam seguir a vida religiosa”, e que, caso negassem as suas vocações, teriam castigos “divinos”, problemas familiares e mortes na família.
A acusação diz que, “pelo menos” de 5 de dezembro de 1985 até ao início de 2015, os arguidos sujeitaram as jovens, diariamente, a várias agressões físicas, injúrias, pressões psicológicas, tratamentos humilhantes, castigos e trabalhos pesados.
Comentários