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A investigação canadiana citada pelo The Guardian mostra ainda que, independentemente do método de conceção, as mulheres com historial de doença mental enfrentam um risco acrescido de desenvolver novas perturbações psicológicas no período da gravidez e pós-parto.
Apesar de as leis sobre gestação de substituição variarem em todo o mundo, a prática é cada vez mais uma solução para quem não pode ter filhos.
Não, contudo, para todos. Segundo a empresa Global Market Insights, o mercado poderá crescer dos 27,9 mil milhões de dólares (cerca de 20,8 mil milhões de euros) em 2025 para 201,8 mil milhões de dólares (150,2 mil milhões de euros) até 2034.
“Os nossos resultados reforçam a importância de uma avaliação cuidada e aconselhamento prévio para potenciais gestantes de substituição, alertando para a possibilidade de surgimento de uma nova doença mental ou agravamento de uma já existente, durante ou após a gravidez”, afirmou a Dra. Maria Velez, investigadora da Universidade McGill, no Canadá, e autora principal do estudo.
“Além disso, o apoio psicológico contínuo durante e após a gravidez pode ser particularmente relevante para estas mulheres”, acrescentou.
O estudo, publicado na revista científica JAMA Network Open, baseou-se na análise de dados relativos a 767.406 partos ocorridos na província de Ontário, entre 1 de abril de 2012 e 31 de março de 2021.
Desse total, 748.732 foram resultantes de conceções naturais, 758 envolveram gestação de substituição e o restante foi obtido através de fertilização in vitro (FIV) em mulheres que carregaram os seus próprios bebés. A maioria dos casos de gestação de substituição no Canadá envolve mulheres sem ligação genética ao bebé.
Foram excluídas da análise inicial todas as mulheres com diagnóstico prévio de doença mental antes da data estimada de conceção.
Surrogates com maior incidência de doenças mentais
A equipa analisou o número de mulheres diagnosticadas com doenças mentais novas a partir da conceção, incluindo perturbações de ansiedade, do humor, episódios de autoagressão ou psicose.
Foram registadas 236 ocorrências entre gestantes de substituição, 195.022 entre mulheres com conceção natural e 4.704 entre as que realizaram FIV.
Em todos os grupos, as perturbações mais comuns foram de humor ou ansiedade, com o diagnóstico a surgir, em média, dois anos e meio após a conceção.
Possível relação com a separação do bebé
O risco manteve-se elevado entre gestantes de substituição, ainda que em menor grau, quando comparadas com mulheres que, um ano após o parto, já não viviam com os seus filhos, o que poderá sugerir que a separação do recém-nascido provoca sentimentos de luto semelhantes aos vividos por quem dá um filho para adoção ou o perde para o sistema de acolhimento.
A investigação também abrangeu mulheres com historial prévio de doença mental e concluiu que todas as mulheres, independentemente do método de conceção, apresentaram taxas mais elevadas de novos diagnósticos do que aquelas sem registo anterior.
Embora o Canadá exija que as candidatas a gestantes de substituição realizem avaliações psicológicas, os dados mostram que 19% das participantes neste estudo já tinham um diagnóstico de doença mental antes da gravidez.
Estes resultados seguem-se a estudos anteriores da mesma equipa que identificaram maior probabilidade de complicações médicas graves entre gestantes de substituição, como hemorragias pós-parto severas e pré-eclâmpsia.
Especialistas defendem mais apoio a longo prazo
Para a Dra. Zaina Mahmoud, especialista em aspetos jurídicos e sociais da gestação de substituição na Universidade de Liverpool, que não participou no estudo, são necessárias mais investigações para perceber se o aumento do risco de doenças mentais se deve ao próprio processo de gravidez ou à experiência emocional de entregar o bebé.
“O estudo não explora em profundidade as causas deste sofrimento psicológico. Sugere-se a hipótese de luto, mas essa variável nem sequer foi medida”, afirmou Mahmoud. Ainda assim, defende o reforço do apoio psicológico, recomendando que se prolongue por mais de dois anos após o parto.
“As conclusões reforçam a necessidade de garantir uma informação clara e processos de consentimento bem estruturados”, concluiu.
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