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Um estudo liderado por investigadores portugueses e espanhóis projeta mudanças significativas na distribuição geográfica das principais espécies de atum no Oceano Atlântico, como consequência das alterações climáticas. A investigação, publicada na revista Biodiversity and Conservation, alerta para a migração destas espécies para latitudes mais elevadas, com potenciais impactos ecológicos e socioeconómicos relevantes.
Realizado por cientistas do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), em colaboração com o CESAM e o Instituto de Investigaciones Marinas (CSIC, Espanha), o estudo recorreu a modelos ecológicos para antecipar o impacto de três cenários climáticos — de otimista a severo — nas próximas décadas, centrando-se em cinco espécies de atum, entre elas o atum-rabilho (Thunnus thynnus) e o atum-patudo (Thunnus obesus).
As projeções indicam uma diminuição da adequabilidade do habitat nas regiões equatoriais, acompanhada por um aumento nas zonas temperadas. Esta tendência poderá afetar zonas de desova e locais tradicionais de pesca, com consequências especialmente graves para comunidades tropicais dependentes da pesca do atum. Os investigadores alertam para o risco de extinção local em áreas onde estas espécies hoje são abundantes.
“Este tipo de projeções é essencial para antecipar mudanças e apoiar a gestão adaptativa das pescas”, sublinha Priscila Silva, investigadora do MARE-ULisboa/ARNET e primeira autora do estudo.
A investigação identificou a temperatura da superfície do mar, o oxigénio dissolvido e a salinidade como os principais fatores a moldar a distribuição futura dos atuns. A mudança poderá estar a ocorrer já e prolongar-se até 2050, com perdas expressivas de habitat nas zonas tropicais e deslocações para áreas mais a norte, o que representa um desafio crescente para a sustentabilidade da pesca.
Francisco Borges, coautor e também investigador do MARE-ULisboa/ARNET, defende que “integrar cenários climáticos na tomada de decisão poderá ser fundamental para garantir a resiliência dos ecossistemas marinhos e das comunidades que deles dependem”.
Com capturas mundiais superiores a 8,3 milhões de toneladas em 2022 — o valor mais alto de sempre — os atuns representam um dos recursos marinhos mais valiosos do planeta. Qualquer alteração significativa na sua distribuição pode ter reflexos no mercado global e no sustento de milhares de pessoas.
O trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), com apoio do European Research Council.
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