"Estamos atentos a estas manobras que visam tirar ânimo aos agentes eleitorais para os fragilizar e, ato contínuo, serem seduzidos para práticas de atos ilícitos eleitorais", disse Fernando Mazanga, em conferência de imprensa, em Maputo.

Mazanga afirmou que, cinco dias após o início do recenseamento para as eleições gerais de 09 de outubro, os agentes envolvidos no registo de votantes e os membros da polícia que protegem a operação ainda não receberam o subsídio a que têm direito, incluindo para a alimentação, considerando que essa falta de pagamento é uma estratégia que visa torná-los vulneráveis à prática de delitos eleitorais.

"Instamos a Procuradoria-Geral da República a não ignorar estas suspeitas no sentido de ver quem é que trava o financiamento aos órgãos e sonega o cumprimento do [orçamento] aprovado pela Assembleia da República, sobretudo para as eleições gerais de 2024", declarou.

O vice-presidente da Renamo na CNE sublinhou que deve ser evitada a alegada fraude ocorrida nas eleições autárquicas de 11 de outubro último, ganhas pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.

"Queremos apelar aos concorrentes para libertar os órgãos eleitorais e os tornar profissionais, os moçambicanos merecem eleições livres, gerais e transparentes", enfatizou Fernando Mazanga.

Mazanga acusou o ministro da Economia e Finanças, Max Tonela, de estar a libertar os fundos necessários ao processo eleitoral "a conta-gotas", tornando o orçamento anunciado para a operação numa "miragem".

"Não se faz omelete sem ovo, não é possível fazer eleições sem dinheiro", frisou.

Reforçando a acusação de que há um esquema para debilitar os órgãos eleitorais, apelou à comunidade internacional para ter um "papel mais interventivo nos assuntos das eleições", através de um "apoio à monitoria dos fundos" que disponibiliza aos processos eleitorais.

Na atual composição da CNE, a Renamo tem um vice-presidente e a Frelimo também indica um vice-presidente, sendo o presidente uma figura proveniente da sociedade civil.

A Lusa tentou sem sucesso obter uma reação do Ministério da Economia e Finanças sobre as acusações feitas por Fernando Mazanga.

No dia 15, arrancou o recenseamento eleitoral, que vai decorrer até 28 de abril em Moçambique e a partir de 30 de março e até 28 de abril no estrangeiro, num processo que vai custar quase 20 mil milhões meticais (288 milhões de euros), segundo os últimos dados avançados pela CNE.

O órgão eleitoral espera inscrever mais de sete milhões de pessoas este ano, num processo que conta com, entre outros, 9.165 postos de recenseamento e 6.330 brigadas.

Moçambique realiza eleições gerais em 09 de outubro deste ano, incluindo presidenciais, às quais já não pode concorrer o atual chefe de Estado e líder da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), Filipe Nyusi, por ter atingido o limite constitucional de dois mandatos.

 

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