
"Moçambique já não está a ser um país de preferência por parte dos refugiados ou requerentes de asilo, tal como acontecia há seis anos", declarou à Lusa Cremildo Abreu, à margem de uma conferência de imprensa convocada pelo do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no âmbito do Dia Mundial dos Refugiados, que se assinala na terça-feira.
No total, o país conta atualmente com 28 mil refugiados e requerentes de asilo, dos quais pelo menos sete mil estão em Maratane, o único campo para refugiados no país, localizado na província de Nampula, norte de Moçambique.
A maior parte das pessoas que procuram refúgio e segurança no país são provenientes da região dos Grandes Lagos e do Corno de África, com destaque para a República Democrática do Congo, Burundi, Ruanda e Somália.
Para o diretor do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados, a redução do número de pessoas que procuram refúgio em Moçambique é resultado de vários motivos, entre os quais destaca-se o aumento de refugiados que pedem para ser repatriados.
"Um grande número de refugiados de centro de Maratane pediu voluntariamente para regressar ao seu país de origem e nós estamos a atender esses pedidos em coordenação com o ACNUR", indicou Cremildo Abreu.
Com a redução, prosseguiu, nasce a necessidade de uma revisão do sistema usado para acolher refugiados por parte do Governo, como forma de atualizá-lo à nova realidade.
"Estas novas dinâmicas levam-nos também a ponderar sobre a sustentabilidade do centro de Maratane", acrescentou o diretor-geral do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados.
Apesar da redução dos números, o representante do ACNUR em Moçambique, Samuel Chakwera, destacou um "ambiente de proteção favorável" para refugiados em Moçambique.
"Quase todos refugiados ou requerentes de asilo têm um documento que os identifique e isso permite-lhes que possam circular à vontade", notou Samuel Chakwera.
Questionado sobre a situação dos deslocados internos devido à violência armada em Cabo Delgado, o representante do ACNUR destacou que o abrigo continua a ser a prioridade.
"Nós continuamos a trabalhar com parceiros em áreas como abrigo e gestão dos centros. A nossa principal atividade em Cabo Delgado está ligada à proteção das pessoas", acrescentou Samuel Chakwera, sem avançar mais detalhes.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com as Nações Unidas, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
EYAC // VM
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