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Falta pouco para as 12h30, hora prevista de chegada dos ciclistas ao Hospital de Santa Marta, em Lisboa. Os muitos que aqui esperam para os receber vieram de longe, mais precisamente, de Vila de Conde.

Não é um dia qualquer, e não são apenas meros ciclistas. José Coelho e Augusto Ferreira são transplantados pulmonares, e para homenagear as vítimas de doenças pulmonares, decidiram vir do Hospital de São João, no Porto, até Lisboa, de bicicleta.

Foram quatro dias a pedalar e cerca de 526 quilómetros, numa celebração antecipada do Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação, que acontece no dia 20 de julho.

Para além dos quatro ciclistas, familiares e amigos, que os acompanharam nesta viagem, contam ainda com um autocarro com mais de 50 pessoas para os apoiar.

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Todos estão vestidos a rigor, com uma t-shirt da iniciativa "Pedalar com Propósito", que os trouxe até cá. Entre eles, há vários outros transplantados, que também vieram até Lisboa celebrar a sua segunda vida.

Ernâni Pereira, de 60 anos, é um deles.

"É uma emoção estar aqui. Também sou transplantado bipulmonar, e temos que fazer tudo para quem está na lista e quem vai ser operado. Temos que lhes dar força, como nós tivemos, que é o que é preciso", conta ao 24notícias.

Ernâni admite que "passou um bocadinho" entre o Porto e Lisboa, durante o processo de transplantação que mudou a sua vida. No entanto, ganhou também uma "família nova", de médicos e enfermeiros que o ajudaram durante a jornada.

"Quando estive doente, a minha cabeça fugia era para o outro lado. Não me convencia. Só depois comecei a ter força", disse.

Hoje, Ernâni encara a vida de forma diferente e diz estar aqui para provar que o mais importante é não baixar os braços.

Quatro dias depois, a chegada à meta

É ainda antes da hora marcada que José e Augusto chegam finalmente ao Hospital de Santa Marta, quatro dias depois da partida.

São recebidos com aplausos, flores, lágrimas e muitos abraços. Todos querem felicitar os dois atletas, que pela segundo ano, fazem este trajeto em nome de uma causa maior.

"Foi mais fácil do que a primeira vez", admite José ao 24notícias.

Apesar de agora ser mais fácil, nem sempre foi assim. Tanto José como Augusto contam que quando fizeram o transplante, nunca pensaram em vir a realizar este percurso um dia.

"Eu nunca fui pessoa de deitar a toalha ao chão. Fiz alguns sacrifícios para me poder mexer e fazer algum tipo de desporto que me pudesse ocupar o tempo e a mente", disse José.

Um desportista nato, José conta que sempre levou uma vida muito ativa. Praticava remo, andava de bicicleta e participava em todas as meias maratonas da cidade do Porto.

Em 2017, foi diagnosticado com fibrose pulmonar idiopática, uma doença crónica e progressiva.

"Senti a terra a sair-me debaixo dos pés", confessa.

Esteve dois anos à espera para fazer o transplante, e só em 2019, quando se viu obrigado a parar de trabalhar, conseguiu realizar a operação.

"Imagine o que é uma pessoa que gostava de ajudar tudo e todos e de ser um bom profissional ter que parar assim, de um momento para o outro", conta.

José trabalhou em Lisboa 22 anos, mas admite que nunca pensou voltar à capital para ser internado durante quatro meses e quatro dias.

"Passado um mês voltei ao hospital para me partirem o esterno, porque não estava bem. Portanto, na realidade, foram cinco meses", explica.

"É a nossa segunda vida. Eu senti-me no lado de lá, e graças a Deus, estou cá".

A vida que chegou tarde

Já Augusto traz consigo uma história completamente diferente. Ainda em bebé, foi diagnosticado com bronquiectasia, uma doença caracterizada por dilatações irreversíveis dos brônquios e bronquíolos, e responsável por condicionar grande parte da sua vida.

"Durante a minha infância, nunca pude brincar com outras crianças. Não pude brincar com os meus filhos, porque cansava-me muito", conta.

Em janeiro de 2019, os pulmões de Augusto deixaram de funcionar. Esteve ligado a um ventilador e a receber oxigénio.

"Quando estamos doentes, nunca mostramos que estamos piores. Mas eu sei que não chegava a dezembro. Eu já dormia sentado na cama."

No dia 11 de setembro de 2019, Augusto foi transplantado aos dois pulmões.

"A partir daí, foi viver a vida que eu nunca tinha vivido".

Augusto nunca tinha andado de bicicleta. Hoje, completou, pela segunda vez, 526 quilómetros.

Pedalar por quem espera

Augusto admite que esta viagem foi feita em homenagem a Carlos Lima e Ana Silva, dois utentes que estão atualmente a receber oxigénio, uma circunstância que diz que irá sempre sensibilizá-lo.

"Já lhes disse que para o ano estão cá a pedalar connosco".

Já José diz que pedalou até Lisboa para dar força a todos os que estão na lista de espera para o transplante.

"Não desanimem, eu sei que é doloroso mas a força de vontade é o principal".