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Kimie, uma bebé de quatro meses, é uma das mais de 3 800 crianças infetadas com sarampo, no Canadá, em 2025. Este número é três vezes maior que os números confirmados nos EUA, que também enfrenta alguns surtos, sendo que proporcionalmente o Canadá é menor em população, diz a BBC.

A província de Alberta é o epicentro deste surto. Os dados levantam questões como o facto do vírus se estar a espalhar mais rapidamente no Canadá do que nos EUA. Os especialistas de saúde dizem ao orgão de comunicação inglês ser difícil identificar a razão para esta discrepância, mas afirmam que em ambos os países, os casos não estarão a ser todos comunicados. Nos EUA, o crescimento do surto pode estar ligado ao discurso generalizado anti-vacinação que agora encontrou novo respaldamento com o secretário da saúde Robert F Kennedy Jr.

Neste momento, o foco está as províncias canadianas mais afetadas são Ontario, segundo relatado pela CBC, com 1 961 casos; Alberta com 1 472 e Manitoba com 146.

Em Ontario, segundo o que as autoridades de saúde relataram à BBC, o surto começou no final de 2024, quando um homem contraiu a doença numa reunião de Menonitas, em New Brunswick, um grupo cristão com raízes no século XVI na Alemanha e Holanda. Desde então deslocaram-se para outras partes do mundo como Canadá, México e EUA. Enquanto uns vivem vidas modernas, outros são conservadores, limitam o uso tecnológico e usam medicamentos só em último recurso.

O surto começou por se espalhar nestas comunidades de lingua alemã no Canadá, onde o nível de vacinação é historicamente baixo uma vez que os membros destas religiões e cultos são contra a imunização. Quase todos os infetados não são vacinados, reportam os dados da Public Health Ontario.

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Catalina Friesen, profissional de saúde que serve uma comunidade menonita perto de Aylmer, Ontario confessa ao jornal britânico BBC ser a primeira vez que vê sarampo na comunidade. Os casos espalharam-se rápido e a partir daí e chegou a um pico de mais de 200 casos por semana em abril.

Se por um lado, os novos casos diminuíram drasticamente em Ontario, em Alberta vive-se o novo pico. Aconteceu tão rápido que os profissionais de saúde não conseguiram perceber onde começou, relata Vivien Suttorp, médica responsável pela zona sul de Alberta. Acrescentando que nunca viu um surto tão elevado nos seus 18 anos de profissão.

A médica da comunidade menonita, Catalina Friesen, acrescenta que notou que o Canadá tem um maior número de comunidades menonitas do que os EUA, o que pode levar ao aumento de casos. Contudo, a comunidade não é monolítica e já começou a vacinar-se.

Outro fator apontado pela médica, pode ser a circulação de desinformação sobre anti-vacinação tanto na sua comunidade como fora, sobretudo, desde a pandemia. Assim como o aumento da desconfiança no sistema de saúde que diz ter ostracizado a sua comunidade. E acrescenta que já foi alvo de discriminação por causa do que assumem ser as suas crenças.

A médica Janna Shapiro, pós-doutorada em imunologia na Universidade de Toronto, alerta para a baixa vacinação como o principal fator dos surtos, uma vez que quando a doença entra numa comunidade que não é vacinada alastra-se rapidamente.

Em geral, os estudos mostram que as dúvidas em relação à vacinação aumentou no Canadá desde a pandemia e os dados refletem isso mesmo. No sul de Alberta, por exemplo, o número de vacinas MMR (Vacina que previne Sarampo, caxumba e rubéola) administradas caiu quase para metade de 2019 a 2024, de acordo com dados.

As perturbações relacionadas com a pandemia também deixaram algumas crianças com as vacinas de rotina em atraso, disse Janna Shapiro.

Não foi esse o caso de Birch, que começou a vacinação de rotina para a sua bebé Kimie assim que se tornou elegível. Mas Kimie era ainda demasiado nova para a vacina contra o sarampo, que é normalmente administrada aos 12 meses em Alberta.

Vivien Suttorp disse que, desde então, Alberta reduziu o limite de idade em resposta ao recente surto, e houve um aumento no número de pessoas que tomam a vacina.

As unidades de saúde de todo o país também tentaram incentivar as pessoas a vacinarem-se através de boletins públicos e anúncios na rádio. Mas, segundo as autoridades sanitárias, a reação é notoriamente mais branda do que durante a pandemia de Covid-19.