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Há pelo menos 4,6 milhões de pessoas incluídas nos grupos de risco da COVID-19, segundo os critérios estabelecidos pela Direção-Geral de Saúde, a mesma entidade que "tem como objetivo proteger entre um e 1,5 milhões de pessoas" até 30 de abril de 2026, data do fim da campanha de vacinação, a decorrer desde 23 de Setembro.

Este número fica muito aquém do público-alvo, representa perto de um terço dos grupos de risco: profissionais e utentes de Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e instituições similares, Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), estabelecimentos prisionais, pessoas com 60 ou mais anos de idade, pessoas com patologias de risco, crianças e jovens dos seis meses aos 17 anos de idade com imunossupressão grave ou moderada, grávidas, profissionais dos serviços de saúde (públicos e privados) e prestadores de cuidados de saúde, estudantes em estágio clínico, bombeiros envolvidos no transporte de doentes, prestadores de cuidados a pessoas dependentes e profissionais de distribuição farmacêutica, bem como sem-abrigo e respetivos profissionais de apoio.

O 24notícias quis perceber o motivo deste desfasamento, mas não obteve qualquer explicação da DGS, que apenas responde que "foram adquiridas vacinas contra a COVID-19 em número suficiente para vacinar toda a população elegível nesta época sazonal".

José Poças, especialista em Doenças Infecciosas e Medicina do Viajante, afirma que 1,5 milhões "é um critério aleatório", já que "metade da população é vulnerável. Deviam ser mais".

Para o antigo coordenador da Comissão de Crise do Centro Hospitalar de Setúbal, a "vacina devia ser estendida à idade pediátrica", uma vez que "as crianças são o maior veículo de transmissão da patologia". É um dado conhecido que, quando há um pico de gripe nas urgências de pediatria, cerca de quinze dias depois há um pico de gripe nas urgências dos adultos. Todos os anos. No entanto, apesar de a vacina sazonal contra a gripe ter sido alargada a crianças entre os seis e os 23 meses (a recomendação vai até aos quatro anos), a da COVID-19 não foi.

Para o especialista em infecciologia não restam dúvidas, "os vulneráveis e os que contatam com vulneráveis, todos devem ser vacinados".

"Escolher não ser vacinado é comprar o pior bilhete da lotaria"

"Vi morrer dezenas de pessoas sem vacinas", recorda José Poças, que coordenou o combate à COVID-19 em quatro unidades de cuidados intensivos. No mundo, morreram 7,5 milhões de pessoas, e foi por causa da vacina que a COVID-19 passou a ser uma doença endémica e deixou de ser pandémica.

"As vacinas não são perfeitas nem 100% seguras", mas "o que se sabe, é que quem é susceptível a efeitos adversos da vacina é ainda mais susceptível à doença", afirma o especialista. "As vacinas são adaptadas aos vírus, mas não são adaptadas a cada hospedeiro e cada pessoa é diferente da outra. Há fatores de risco, mas deve-se correr esse risco e ainda bem que médicos, investigadores, governos correram esse risco".

José Poças é 100% favorável à vacinação. E ilustra: "Se disser a alguém que há dois bilhetes de lotaria e que um tem mil vezes mais probabilidades de ganhar, acredito que seja esse que a pessoa vai comprar. Ao escolher não ser vacinado, está a comprar o pior bilhete da lotaria, a jogar no lado errado".

"Médicos têm de saber propor a vacina".

Ainda sobre as metas da DGS, José Poças questiona: "As vacinas vão chegar ou vão sobrar? Não se sabe, porque há cada vez mais pessoas anti-vacinação e não faz sentido deitar vacinas para o lixo". Também por este motivo é perentório: "Os médicos têm de saber propor a vacina".

A este propósito, o especialista critica as políticas do atual secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., que tem implementado mudanças significativas nas políticas de vacinação contra a COVID-19, alinhadas com a sua visão crítica sobre a segurança das vacinas e a transparência científica.

"É obsceno", considera. "A nova comissão Kennedy [ACIP, em português Comissão Consultiva de Práticas de Imunização] pôs em causa todas as recomendações da OMS [Organização Mundial da Saúde].

Por causa de Robert F. Kennedy Jr., os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos deixaram de recomendar a vacina contra a COVID-19 para crianças saudáveis e mulheres grávidas e a nova comissão diz que a decisão deve ser individual, em conjunto com profissionais de saúde. Especialistas em saúde pública acusam-no de enfraquecer a confiança pública nas vacinas e de promover teorias desacreditadas e sem base científica.

José Poças lembra que ainda recentemente a política nos Estados Unidos era vacinar também os estrangeiros e recorda uma chamada da filha, que quis saber se devia ou não vacinar os dois netos. "Disse-lhe que sim sem sombra de dúvida e vacinou os miúdos".

Número de casos cai para mais de metade em 2025

Ainda não passou uma semana desde que começou a campanha de vacinação sazonal, pelo que não é possível saber o fluxo de vacinação no país. "A comunicação sobre número de doses e coberturas será feita semanalmente à terça-feira", informa a DGS.

"O objetivo é manter as coberturas vacinais do ano anterior, ou seja, proteger 2,5 milhões de pessoas para a gripe e entre um milhão e 1,5 milhões para a COVID", sublinha. A DGS salienta "que a vacinação realizada antes do período festivo [15 de dezembro] permite conferir proteção durante a fase em que se antecipa maior circulação do vírus".

O facto de o período de vacinação se estender e 23 de setembro a 30 de abril de 2026 "tem em consideração a circulação dos vírus da gripe e da COVID-19 durante o período outono-inverno. A vacinação pode, por isso, trazer benefícios em qualquer momento desta época. No entanto, o pico de atividade gripal ocorre habitualmente entre dezembro e janeiro, podendo, em alguns anos, estender-se até fevereiro ou março", esclarece a DGS.

De 1 de janeiro a 21 de setembro deste ano registaram-se 12.149 casos de infeção por COVID-19, com um pico em agosto (3.281 casos), menos 57,4% do que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Direção-Geral de Saúde. Note-se que estes são os casos registados - nem todos chegam ao conhecimento das autoridades.

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