O problema começa nos sistemas informáticos, que não comunicam eficazmente com os centros de saúde, revela a SIC Notícias. Muitos pedidos são selecionados manualmente, em papel, sem registo digital nem indicação clara da prioridade clínica. Esta prática torna impossível o controlo rigoroso das listas de espera, permitindo que doentes recentes sejam atendidos antes de outros em espera há meses ou anos.

Entre os casos detetados, há registos de utentes referenciados em 1996 e 1997 que ainda constavam em lista de espera por erro administrativo. Outros episódios incluem doentes prioritários que ultrapassaram largamente os prazos legais de atendimento, como uma mulher com suspeita de cancro que esperou mais de seis meses por uma consulta de Oncologia.

Em especialidades como Psiquiatria, Urologia e Oncologia, praticamente não há processos com grau de prioridade registado.

A IGAS sublinha que 97,8% das quase 230 mil consultas realizadas em 2024 não tinham prioridade clínica definida, o que compromete a equidade no acesso e abre espaço a favorecimentos. Foram também detetados casos em que utentes foram atendidos no mesmo dia em que o pedido entrou no sistema, sem critério que o justificasse.

Além disso, a falta de articulação entre o hospital e os centros de saúde tem dificultado o esclarecimento de dúvidas por parte dos médicos de família, o que contribui para o bloqueio do sistema. Houve também episódios de pedidos de consulta mal preenchidos, que permaneceram pendentes por anos sem correção.

No total, a IGAS emitiu 25 recomendações à administração da ULS Amadora-Sintra. Até ao momento, a direção do hospital recusou gravar entrevista.