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Eram 18h37 quando um comboio Sud-Expresso internacional com destino a Paris e um Regional vindo da Guarda em direção a Coimbra chocaram de frente, provocando muitas mortes e mais de 170 feridos, a maioria emigrantes que regressavam a Portugal.

O acidente ficou a dever-se a erro humano e a CP responsabilizou quatro ferroviários pelo acidente: os dois chefes de estação, o agente do posto de comando em Coimbra e a guarda de passagem de nível, aplicando penalizações que foram desde a baixa de categoria até ao despedimento. O tribunal de Mangualde, contudo, viria a absolvê-los.

Para explicar melhor o acidente, há 40 anos, só as linhas do Norte, de Sintra e de Cascais tinham sistemas automáticos nos caminhos de ferro, os restantes, como este de Alcafache, eram feitos com base em meios humanos, nomeadamente através de um sistema de cantonamento telefónico, em que os encarregados ligavam para as estações colaterais para pedir o avanço dos comboios.

Uma alteração à rotina provocou o maior desastre ferroviário de sempre, como conta o jornal Público, que teve acesso a relatórios da altura. "É neste contexto que, faz nesta quinta-feira 40 anos, os ferroviários em serviço nas estações de Nelas e Alcafache cometeram um erro crasso, em parte provocado por uma alteração à rotina. Havia dois comboios que deveriam ter-se cruzado na estação de Mangualde. Um vindo do Porto com destino a Hendaya (França) e outro vindo da Guarda com destino a Coimbra. Mas o Internacional atrasou-se e o posto regulador de Coimbra decidiu alterar o cruzamento para a estação de Nelas. Falhas de comunicação entre os ferroviários levaram a que os chefes de Nelas e Alcafache pedissem o avanço e expedissem os seus comboios um contra o outro, convencidos de que estavam a fazer um procedimento de rotina, limitando-se a trocar horas, números de referência e números de comboios sem usar a linguagem técnica obrigatória, a qual, se fosse aplicada, teria alertado para o erro que estava a ser cometido", lê-se.

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Este acidente levou ao avanço na modernização desta linha, tendo sido instalados sistemas mais avançados de segurança, sinalização e controlo de tráfego, como o Controlo de Velocidade, permitindo uma maior eficiência e segurança nas operações ferroviárias, e fazendo com que acidentes como este sejam praticamente impossíveis de acontecer. Foi também introduzidos sistemas de rádio-solo, que permitiu uma comunicação directa entre os maquinistas e as centrais de controlo, e foi proibida a utilização de materiais que facilitem a propagação de chamas nos comboios.

Inauguração de uma capela

Este domingo, junto ao local onde foi enterrado um número incerto de vítimas, vai ser inaugurada uma capela em homenagem aos emigrantes.

Há vários anos que existe um memorial de homenagem às vítimas e, nos últimos meses, foram feitas obras que deram “mais dignidade” ao local, disse à Lusa José Augusto Sá, que lidera a comissão que tem organizado as homenagens anuais, desde 2002.

“Será inaugurada uma capelinha, com a imagem da Nossa Senhora dos Emigrantes”, contou Augusto Sá, explicando que se trata de uma imagem inspirada na imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, mas que, em vez da proa de um barco, tem uma esfera a simbolizar o globo terrestre.

A capela foi construída na lateral do memorial já existente e permitirá o recolhimento necessário para orações pelas vítimas.

No local, foi também instalada uma placa toponímica com a inscrição “Travessa do 11 de Setembro de 1985 – Tragédia ferroviária” e aplicado o pavimento há muito pedido.