Dois deles deram voz à situação dos docentes, na altura, sob anonimato, por temerem represálias, e hoje disseram à Lusa que ainda vivem com incerteza sobre o futuro.

"Eles [Ministério da Educação] pagaram -- de dezembro a fevereiro --, mas ainda não nos disseram quando é que o nosso contrato vai sair no Boletim Oficial", contou à Lusa um dos docentes.

A situação faz com que continue com "um pé atrás", desconfiado, numa clima de dúvida que, segundo o Sindicato de Professores (Sindep), afeta os 250 professores que começaram a dar aulas este ano letivo no ensino público do arquipélago.

Os contratos foram assinados há quase sete meses, no início das aulas, mas o Governo e entidades da administração pública têm feito um pigue-pongue de justificações ligadas a questões burocráticas, sem conseguir resolver a demora.

"Receio que as coisas possam piorar porque, se até julho [o contrato] não sair, os colegas vão reunir-se e não vamos lançar as notas. A nossa única força é isto", referiu.

"O trabalho do professor, hoje em dia, não está a ser valorizado", acrescentou.

Além disso, vive com a incerteza de não poder receber o salário do mês de março, mesmo trabalhando todos os dias.

Outra colega, na mesma situação, a tentar "sobreviver" e suportar despesas extra (renda de casa, água e eletricidade) como professora deslocada da ilha de residência, disse à Lusa que recebeu o que estava em atraso.

Ainda assim, a professora, que pediu igualmente para não ser identificada, com receio de represálias, continua a classificar a situação da classe docente como "desanimadora".

"Pagaram os meses que nos deviam" e agora é esperar para ver se "a partir de março vão começar a pagar normalmente", apontou, acrescentando que aguarda também pela cobertura de saúde do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), enquanto vive sozinha, numa ilha desconhecida e a passar por dificuldades.

As queixas dos docentes recém-contratados representam uma parte das reclamações da classe docente em Cabo Verde. 

Um outro grupo de professores anunciou há quatro dias que vai reter as notas deste trimestre até que o Ministério da Educação aceite debater as reivindicações que têm sido feitas desde outubro de 2023.

Aleida Semedo, representante dos docentes, disse na sexta-feira, na Praia, que a decisão representa "um grito de alerta".

Apesar das negociações do Governo com os sindicatos, só "uma minoria" tem sido contemplada com benefícios, disse.

Para a generalidade da classe, continuam sem resposta as reivindicações relativas a aumentos salariais, promoções e subsídios.

O alerta inclui um docente que, no início de fevereiro, contava à Lusa as razões do seu desânimo: sofria com dores de dentes, sem dinheiro, nem cobertura do INPS para marcar uma consulta.

Com a regularização dos salários em atraso, já tem "consulta marcada para dia 27", disse à Lusa.

Depois, é esperar que os vencimentos continuem a chegar à conta bancária, antes de qualquer problema de saúde.

*** Rosana Semedo, da agência Lusa ***

ROZS/LFO // JMC

Lusa/Fim