
O pequeno Jeramias fez parte do grupo de 16 bebés e crianças da Guiné-Bissau que regressaram a casa hoje depois de vários meses em tratamento em Portugal sem as famílias, mas acompanhadas por várias organizações e entidades oficiais que se juntaram para dar as respostas que faltam no país onde nasceram.
As cardiopatias têm grande incidência e alta taxa de mortalidade na Guiné-Bissau, uma realidade a que a Organização Não Governamental (ONG) espanhola AIDA se dedica no país africano, desde 2006.
A organização vocacionada para a melhoria das condições de vida foi reunindo parceiros e já apoiou, assumindo todos os custos, a transferência para outros países de 740 crianças para tratamento médico.
Como disse hoje Cremilde Dias, coordenadora do programa de evacuações sanitárias da AIDA, a maioria destas transferências, "em torno de 560" são feitas para Portugal e, deste número, cerca de 300 para os hospitais de Coimbra.
Foi lá que foram intervencionadas as 16 crianças que regressaram hoje a Bissau "totalmente curadas das suas cardiopatias", vincou.
A receção no aeroporto foi "um momento de grande orgulho que reflete o trabalho que os parceiros têm feito e mostra também o sucesso de um projeto coordenado, de trabalho em equipa de várias organizações e de dois Estados", acrescentou.
A assistência médica portuguesa resulta do protocolo de junta médica assinado entre Portugal e a Guiné-Bissau, e tem como parceiros a ONG AIDA, a associação portuguesa ANA- Acolher, Nutrir e Amar, o centro pediátrico Renato Grandi, em Bissau, a Embaixada de Portugal em Bissau, o Ministério da Saúde guineense, a Direção-geral da Saúde (DGS) e a Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra, em Portugal.
Os médicos portugueses fazem três missões por ano à Guiné-Bissau, onde, no centro Renato Grandi, "avaliam e selecionam as crianças com bom prognóstico, cujas cardiopatias ainda têm chance de ser curadas e ter uma vida normal", explicou Cremilde Dias.
"A parceria dessas estruturas mostra que um trabalho bem coordenado é possível e dá resultados muito positivos, como estamos a presenciar hoje", enfatizou.
Chegadas à Guiné-Bissau, estas crianças continuam a ter acompanhamento social da AIDA, e clínico no centro pediátrico Renato Grandi, que fornece também medicamentos gratuitos.
No voo da TAP que levou as crianças de volta a casa viajou também Andreia Palma, cardiologista pediátrica na ULS de Coimbra, em Portugal, para integrar mais uma missão, durante uma semana.
Nestas missões, os médicos definem "aquelas [crianças] que podem ser tratadas na Guiné-Bissau com terapêutica médica e aquelas que precisam de ser transferidas para Coimbra [Portugal], nomeadamente para cirurgia cardíaca ou cateterismo cardíaco".
Estas crianças, esclareceu, "não são priorizadas relativamente às crianças do SNS (Serviço Nacional de Saúde) em Portugal".
"Elas são triadas e entram na lista tal como as nossas crianças, não se atrasa nenhum cuidado médico às crianças portuguesas", afirmou.
A grande diferença destas crianças "é a capacidade de adaptação, porque estão algum tempo sem as próprias famílias e rapidamente se adaptam" à nova realidade e "a recuperação é muito rápida".
Além da Guiné-Bissau, Coimbra recebe também doentes de São Tomé e Príncipe e de Cabo Verde.
Enquanto permanecem em Portugal, as crianças guineenses têm "famílias de coração", um apoio da associação ANA, que ajuda crianças nas áreas da cardiologia e oncologia.
Segundo a vice-presidente, Fátima Lourenço, em Portugal têm "as famílias do coração que acolhem estas crianças, porque sem essas famílias não seria possível este projeto funcionar desta forma".
"É a elas que somos eternamente gratos por tudo que têm feito em nos ajudar a ajudar estas crianças porque são elas que acolhem, que têm as despesas", apontou.
São mais de 60 famílias num processo que "é sempre difícil".
"Cá [na Guiné-Bissau], quando as crianças vão, [e] depois é difícil a despedida lá [Portugal]. As famílias tratam-nas como se fossem delas", concretizou.
"Gratificante" é como esta voluntária descreve poder fazer a ponte entre as crianças e as famílias que as acolhem.
Felicidade foi o sentimento comum no dia de hoje de todos os envolvidos no projeto e nas famílias que receberam de volta os filhos.
Viana Sanca, mãe do pequeno Jeramias, estava a duas horas de casa, num bairro de Bissau, à espera da viatura da AIDA, que lhe levou de volta o filho.
"Jeramias está bem, chegou direito, sem problemas", disse, expressando a alegria de ver o filho curado depois de várias tentativas sem sucesso na Guiné-Bissau.
"Estou muito feliz hoje", expressou, enquanto se despedia dos voluntários da AIDA que passaram o resto da tarde deste sábado a entregar às famílias guineenses os filhos que lhes confiaram para tratamento.
*** Serviços áudio e vídeo disponíveis em www.lusa.pt ***
*** Helena Fidalgo (texto), Júlio Oliveira (vídeo), da agência Lusa ***
HFI // MLL
Lusa/Fim
Comentários