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Mais de 100 antes de nascer Pablo Escobar ou El Chapo uma mulher controlava um império de droga tão vasto e lucrativo que fazia Escobar e El Chapo parecerem traficantes de rua, pode ler-se num ensaio na revista Time. A mulher em causa era a Rainha Vitória, que, ao liderar o Império Britânico, geria também um negócio de droga global, com lucros que sustentavam financeiramente o próprio país.

Vitória era consumidora regular de drogas como ópio, a rainha consumia-o sob a forma de lóudano, um tónico líquido feito de ópio diluído em álcool. Era usado como analgésico generalizado, inclusive recomendado a crianças pequenas. Vitória tomava-o diariamente, como parte da sua rotina matinal.  Assim como cocaína que, à época era uma novidade excitante na Europa, a rainha apreciava pastilhas elásticas com cocaína para dores de dentes e vinhos com cocaína, que melhoravam o humor e a confiança. O médico também receitava canábis líquida que usava para aliviar sintomas menstruais. E, por fim, sabe-se ainda que usou clorofórmio durante o parto de um dos seus filhos, e que descreveu a experiência como “deliciosa”. Um historiador citado na Smithsonian Magazine chega a resumir: “A Rainha Vitória, por qualquer padrão, adorava drogas.”

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Quando se tornou rainha em 1837, o grande dilema económico britânico no início do seu reinado era o excessivo consumo de chá chinês pelos britânicos. A China tinha produtos altamente valorizados (chá, seda, porcelana), mas não queria nada que o Reino Unido oferecesse em troca. Isso causava um enorme desequilíbrio comercial. A solução encontrada foi vender ópio, cultivado em abundância na Índia sob domínio britânico. Como era altamente viciante, gerou um mercado vasto e extremamente lucrativo, revertendo o défice comercial com a China.

Apesar do ópio ser ilegal na China, a pressão do vício tornou-o difícil de erradicar. Em pouco tempo, o comércio inverteu-se, a China deixou de receber prata britânica, e passou a entregá-la em grandes quantidades para pagar ópio. A toxicodependência disseminou-se, e o país entrou em crise.

Perante o colapso social, o imperador chinês nomeou Lin Zexu, um alto funcionário respeitado, para acabar com o tráfico. Tentou a via diplomática, escrevendo uma carta à Rainha Vitória, apelando à moralidade e ao bom senso, aludindo ao facto de a China oferecer produtos úteis e culturais, enquanto o Reino Unido retribuía com veneno viciante. Nunca obteve resposta.

Então, Lin Zexu passou à ação: intercetou navios britânicos e destruiu cerca de 2,5 milhões de quilos de ópio, deitando tudo ao mar. Vitória, então com apenas 20 anos, reagiu como uma monarca imperial habituada a não ser contrariada: declarou guerra à China e assim começou a Primeira Guerra do Ópio (1839-1842) que foi brutal. A marinha britânica, muito mais avançada, arrasou as forças chinesas, milhares de civis chineses foram mortos.

A guerra terminou com o Tratado de Nanquim, que impôs condições humilhantes à China, teve que ceder Hong Kong ao Reino Unido, abriu vários portos chineses ao comércio britânico, logo ao comércio de ópio e concedeu imunidade legal a cidadãos britânicos na China. E, claro, nenhuma limitação à venda de ópio.  Este conflito marcou o início daquele que ficou conhecido como o "século de humilhação" para a China.

A Rainha Vitória liderou assim a expansão de um império financiado pela venda de drogas altamente viciantes, sem remorsos pelas consequências humanas. Embora vendesse ópio desenfreadamente, a Rainha Vitória recusou-se a permitir a venda de cocaína à China, porque acreditava sinceramente que era “demasiado benéfica” para ser usada por “outros” uma vez que temia que fosse mal usada. Estima-se que 15 a 20% das receitas anuais da coroa britânica vinham da venda de ópio à China.