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“Enquanto os olhos do mundo estavam voltados para as recentes hostilidades entre Israel e o Irão, o genocídio de Israel continuou inabalável em Gaza”, afirmou a secretária-geral da organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos, Agnès Callamard, citada num relatório hoje divulgado.

Segundo a Amnistia Internacional, a ajuda prestada pelo sistema de distribuição imposto por Israel “é muito inferior às necessidades humanitárias da população” que, além disso, continua a sofrer “bombardeamentos quase diários nos últimos 20 meses”.

A ONG dá conta de 17 testemunhos recolhidos junto de pessoal médico, pais de crianças hospitalizadas por desnutrição e palestinianos deslocados que lutam para sobreviver e que “pintam um quadro horrível de níveis agudos de fome e desespero em Gaza”.

Os seus relatos “fornecem mais provas do sofrimento catastrófico causado pelas restrições contínuas de Israel à ajuda humanitária e pelo seu esquema militarizado de ajuda mortal, juntamente com deslocações forçadas em massa, bombardeamentos implacáveis e destruição de infraestruturas essenciais à vida”, sublinhou a Amnistia Internacional neste novo documento dedicado ao conflito entre as forças israelitas e grupo extremista palestiniano Hamas, em curso desde outubro de 2023.

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As acusações feitas no relatório da Amnistia Internacional já foram rejeitadas pelo Governo israelita.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel denunciou o documento, afirmando que a organização “uniu forças com o Hamas e adotou integralmente todas as suas mentiras de propaganda”.

Segundo o relatório, “no mês seguinte à imposição por Israel de um esquema militarizado de ‘ajuda’ gerido pela Fundação Humanitária de Gaza (FHG), centenas de palestinianos foram mortos e milhares ficaram feridos, seja perto de locais de distribuição militarizados, seja a caminho de comboios de ajuda humanitária”, acusou a ONG.

“Ao continuar a impedir a ONU e outras organizações humanitárias importantes de distribuir certos bens essenciais, como pacotes de alimentos, combustível e abrigo, dentro de Gaza, e ao manter um esquema de ‘ajuda’ militarizado, mortal, desumanizante e ineficaz, as autoridades israelitas transformaram a procura por ajuda numa armadilha para palestinianos desesperados e famintos”, afirmou ainda a secretária-geral da Amnistia Internacional.

Para a ONG, Israel criou “uma mistura mortal de fome e doença, levando a população ao limite”.

“Como potência ocupante, Israel tem a obrigação legal de garantir que os palestinianos em Gaza tenham acesso a alimentos, medicamentos e outros bens essenciais à sua sobrevivência”, lembrou, adiantando que, em vez disso, o país “desafiou descaradamente as ordens vinculativas emitidas pelo Tribunal Internacional de Justiça em janeiro, março e maio de 2024, para permitir o fluxo desimpedido de ajuda a Gaza”.

“Isto tem de acabar agora. Israel deve levantar todas as restrições e permitir o acesso livre, seguro e digno à ajuda humanitária em toda a Gaza, imediatamente”, exigiu Agnès Callamard.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mas cujos dados são considerados fiáveis pela ONU, afirma que mais de 500 palestinianos foram mortos nos centros de distribuição da FHG ou nas suas proximidades no último mês.

Os centros são protegidos por empresas de segurança privadas e estão localizados perto de posições militares israelitas.

Autoridades palestinianas e testemunhas acusaram as forças israelitas de abrir fogo sobre multidões que se deslocavam perto dos locais.

Israel rejeita estas alegações, tendo o exército admitido que disparou tiros, mas garantindo que foram só de aviso, para controlar multidões, e que só dispara contra pessoas que estejam “a agir de forma suspeita”.

Na semana passada, o jornal israelita Haaretz revelou várias declarações de elementos das Forças Armadas de Israel, oficiais e soldados, que admitiram que receberam instruções para atirar contra as pessoas que procuram ajuda em zonas de distribuição em Gaza.