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A Rainha Santa Isabel é uma das figuras mais veneradas da história portuguesa, não apenas pela sua posição como rainha consorte de D. Dinis, mas sobretudo pelo seu legado de caridade, piedade e diplomacia. Uma admiração que "extravasa as fronteiras da cidade de Coimbra", defende Bruno Costa, irmão da Confraria da Rainha Santa Isabel, em entrevista ao 24notícias.

Nascida em 1271, filha do rei Pedro III de Aragão, Isabel de Aragão casou-se com o rei de Portugal aos 12 anos e rapidamente se destacou pelo seu caráter generoso e profundo sentido de justiça social. O altruísmo e a humanidade são valores que sustentam tudo o que a imagem da Rainha Santa defendeu, sendo conhecida por dedicar grande parte da sua vida a ajudar os mais pobres, fundar hospitais e apoiar ordens religiosas.

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O episódio mais célebre da sua vida — o chamado “Milagre das Rosas” — tornou-se um símbolo do seu espírito benevolente: segundo a tradição, a rainha levava pão escondido no regaço para distribuir aos pobres, mas, ao ser confrontada pelo rei, os pães transformaram-se em rosas. A representação da empatia concedeu-lhe, há 400 anos, a dignidade de santa.

Para Bruno Costa, Isabel "é maior do que rainha, é maior do que mulher política, é maior do que santa, e cada pessoa tem nela uma referência no campo que mais lhe chama a atenção".

Foi canonizada em 1625 pelo Papa Urbano VIII e é hoje a padroeira da cidade de Coimbra, onde todos os anos é celebrada com devoção, especialmente a 4 de julho, data da sua morte.

Além da sua obra de caridade, a Rainha Santa Isabel foi uma mediadora de conflitos, desempenhando um papel crucial na pacificação de disputas familiares e políticas, nomeadamente entre o marido e o filho, o futuro rei D. Afonso IV. Após a morte de D. Dinis, retirou-se para o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, onde continuou a sua vida de oração e serviço até à sua morte, em 1336.

Em Coimbra "é madrinha", uma expressão do poeta Afonso Lopes Vieira, pela ligação especial "de carinho e proteção aos seus", explica o devoto. Contudo, fora da cidade continua a ser um exemplo de como o poder pode ser exercido com compaixão e serviço ao próximo: "Mesmo nos que não são de Coimbra, ou que já cá não vivem, ou até nos que têm mais ou menos fé, permanece uma certa devoção à figura social e política de paz que foi a Rainha Santa Isabel".

A mão milagrosa

Anos depois da sua morte, durante um processo de transladação, ou seja, de mudança do local do túmulo para o atual Mosteiro de Santa Clara, o seu corpo foi encontrado incorrupto. Não havia sinais normais de decomposição, o que, na tradição católica, é considerado sinal de santidade.

Este fenómeno foi interpretado como um milagre e reforçou a veneração popular e religiosa em torno de Isabel, contribuindo para a sua canonização.

Um dos detalhes mais mencionados nas crónicas religiosas é que, aquando da abertura do túmulo, o corpo estava envolto em mortalhas, mas uma das mãos terá aparecido visível e preservada. Há relatos de que essa mão estava associada a milagres, nomeadamente curas, quando tocada ou venerada.

Em datas especiais, a mão está em exposição na igreja do Mosteiro, destapada e visível a olho nu. Este ano esteve até ao dia 2 de julho. Dentro do túmulo, aos pés da Rainha Santa, também está uma coroa de flores, intacta, que os irmãos da confraria dizem ser a original, sepultada junto com o corpo.

Pelos vidros do caixão, a pele ressequida, acastanhada, da mão da Rainha, é completamente reconhecível.

"A próxima vez [em exposição]? Pois, não podemos dizer quando será, porque não sabemos, podemos especular. Há uma possibilidade, talvez 2036, que será quando a cidade assinalar os 700 anos da morte da Rainha Santa", respondeu Bruno Costa, quando questionado sobre quando seria possível voltar a ver a mão.

Comemorações em Coimbra

Para a celebração das duas datas redondas, a Confraria da Rainha Santa Isabel tem preparado, além do programa habitual dos anos pares, um "conjunto de atividades, principalmente do ponto de vista cultural, concertos, recreações históricas, para preparar as pessoas".

O tríodo preparatório está a ser celebrado na igreja desde terça-feira pelo cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, e terminou esta quinta-feira. Esta sexta-feira, dia 4 de julho, às 16h00, a missa solene que decorre durante a manhã vai ser presidida pelo Senhor Bispo e, à tarde, às 16h00, a missa da Real Ordem de Santa Isabel vai contar com a presença de D. Isabel de Herédia.

Na próxima semana acontecem as procissões tradicionais de quinta (10) e de domingo (13), que juntam milhares de pessoas, vindas de diferentes cantos do país. "Depois de Fátima, talvez sejam o fenómeno da piedade popular portuguesa de maior relevância social", defende o devoto. Na quinta-feira, quando a Rainha Santa chegar ao Largo da Portagem, a saudação será proferida pelo Padre Manuel Carvalheiro, pároco de Santa Clara e Capelão da Confraria.

Este ano organizam-se, também, os casamentos da Rainha Santa Isabel, no dia 6 de julho, uma tradição que se tinha perdido e regressou no ano passado, durante as festas da cidade.

Na freguesia de Trouxemil, assinala-se a passagem da Rainha Santa a caminho de Santiago de Compostela, com a inauguração do monumento à Rainha Santa Peregrina.

"A dimensão do que se pretende, acima de tudo, é comemorar um acontecimento histórico, porque, independentemente do ano, as festas celebram-se sempre com a mesma dignidade e com o mesmo carinho de qualquer outro ano", termina Bruno Costa.