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“Prudente”, “atento”, “metódico” — são alguns dos adjetivos mais usados pelos seus colaboradores para descrever o primeiro papa nascido nos Estados Unidos (com nacionalidade peruana), eleito a 8 de maio para liderar a Igreja Católica.

Francisco gozava de grande popularidade junto dos fiéis, mas enfrentava forte oposição interna. Desde a sua chegada em 2013, o papa argentino rompeu com tradições, trocou o palácio pontifício por uma residência modesta.

Já Leão XIV demonstra-se mais prudente e alinhado com a tradição histórica, evitando discursos que possam ferir sensibilidades.

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Fora das missas e audiências, o Papa surge sorridente e afável, tendo já sido visto a abençoar crianças ou a acompanhar o hino dos Chicago White Sox — a sua equipa de basebol — cantado por adeptos na Praça de São Pedro.

Robert Francis Prevost, poliglota reservado e antigo missionário no Peru, país que considera seu, mantém um estilo moderado e atento ao protocolo.

“O estilo dele é marcado pela simplicidade: a sua presença não se impõe. Com ele, mais do que as aparências, importa o conteúdo”, explica à AFP Roberto Regoli, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

Charles Mercier, professor de História Contemporânea na Universidade de Bordéus (França), nota “uma preocupação com uma certa discrição por detrás da função”.

“Francisco tinha um carisma muito vincado na sua personalidade. Leão parece querer integrar-se na instituição, no cargo pontifício, que o ultrapassa”, salienta.

“Alívio” na cúria

No seio da cúria romana, administração central da Santa Sé, os seus colaboradores descrevem-no como um homem “pragmático”, “de uma calma impressionante”, “comedido e metódico”, “tranquilo” e “reflexivo”, que “se preocupa com o equilíbrio”.

Em apenas dois meses, o Papa devolveu relevância às instituições da Santa Sé, depois de 12 anos de um governo considerado por alguns como demasiado rígido.

“A cúria foi abalada pelo Papa Francisco, com reformas muitas vezes unilaterais ou autoritárias, que nem sempre foram bem recebidas”, disse uma fonte do Vaticano sob anonimato.

“A chegada de Prevost, com boa reputação, trouxe alívio. Pensa-se que as coisas serão mais fluidas, menos personalizadas”, acrescenta.

Uma frase do novo pontífice, durante um encontro com trabalhadores do Vaticano a 24 de maio, marcou posição: “Os papas passam, a cúria permanece”. Uma ideia diferente do tom de Francisco em 2014, quando criticou duramente a mundanidade e hipocrisia do alto clero.

Segundo uma fonte diplomática europeia, o Papa “acarinha” a cúria. “Ele procura a união, exatamente a razão pela qual foi eleito”, observa outro diplomata próximo do Vaticano.

Leão XIV, eleito em pleno Jubileu — o Ano Santo, com inúmeros eventos em Roma —, mantém a continuidade da doutrina católica no celibato sacerdotal, no matrimónio “entre um homem e uma mulher” e nas questões sobre o fim da vida.

No plano diplomático, o Papa de 69 anos reiterou os apelos pela paz na Ucrânia “martirizada” e denunciou, em Gaza, o uso da fome como arma de guerra. Até agora, evitou críticas abertas ao presidente norte-americano, Donald Trump, algo que tinha feito no passado, ainda como cardeal.

Em conversa telefónica com Vladimir Putin a 4 de junho, Leão XIV pediu-lhe que “fizesse um gesto em favor da paz”. Francisco, por sua vez, em conflito com o patriarca ortodoxo Cirilo, aliado de Moscovo, não tinha contacto direto com Putin desde o final de 2021.

Reequilíbrio simbólico

Apesar de receber diariamente bispos, cardeais, diplomatas e chefes de Estado, Leão XIV ainda não fez nomeações significativas, mantendo em suspenso a substituição de titulares de departamentos-chave que atingiram a idade limite.

Também não avançou com indicações sobre o saneamento das finanças deficitárias da Santa Sé nem sobre o combate aos escândalos de abusos sexuais, além de ter apelado à “firmeza” dos bispos.

Enquanto Francisco priorizou rapidamente a questão das migrações, é difícil perceber ainda uma “marca pessoal” de Leão XIV, embora tenha mostrado interesse em temas como justiça social (refletido na escolha do seu nome), sinodalidade ou os desafios da inteligência artificial.

No plano simbólico, contudo, o regresso de Leão XIV a algumas tradições não passou despercebido.

O papa anunciou que regressaria a 6 de julho ao “palácio dos papas” de Castel Gandolfo, perto de Roma, ignorado por Francisco, e que se instalaria em breve nos apartamentos pontifícios do Palácio Apostólico, atualmente em obras, segundo fontes do Vaticano.

Em termos de vestuário, o ex-bispo de Chiclayo retomou o uso da mozeta vermelha — pequena capa curta que cobre costas e peito até aos cotovelos — e da estola.

Estas peças agradam a uma ala da Igreja que acusava Francisco de desvirtuar a função papal, num contexto de tensões entre católicos liberais e tradicionalistas.

“Há uma preocupação com o reequilíbrio simbólico, provavelmente motivada pelo desejo de unir o rebanho católico, que se viu polarizado sob Francisco”, sublinha Charles Mercier.

“Também poderá ser uma estratégia para, oferecendo garantias simbólicas, avançar nos conteúdos”, acrescenta.