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O problema da violência é a sua legitimação. A banalização de comportamentos agressivos e a fraca resposta – caso exista – da justiça, faz com que exista uma impunidade que é alarmante. E os agressores sentem que têm legitimidade para o ser, porque, afinal, quem os vai parar?

Vivemos dias de tensão com um acumular de notícias várias que referem ataques, perseguições, insultos. Falamos, ainda com certa surpresa, de extrema-direita, de movimentos que defendem o indefensável, e que se propagam com a rapidez das pragas.

Um vizinho disse-me há dias que ter a extrema-direita no parlamento e como segunda força política era apenas o primeiro passo para uma existência de terror. “Vamos ter medo de andar na rua, nós que somos gay, tu que és mulher, o teu marido que não é branco, o senhor da mercearia que vem do Paquistão”. O mais triste é que já temos medo há muito tempo, não é um sentimento recente. Porque o estado do mundo é coincidente com essa forma de poder que alguns reivindicam: o medo.

Sendo uma fronteira saudável para algumas coisas, o medo deixa-nos à mercê dos outros, perdemos a liberdade de viver como desejamos, perdemos qualquer sentimento de segurança. O olhar por cima do ombro é um gesto velho para muitas mulheres, em muitos países, incluindo Portugal. O mesmo é válido para a comunidade LGBTQI+. Para aquelas que a imprensa gosta de nomear como as minorias.

O medo implica abdicar do poder de sermos para o entregar a quem quer que sejamos outros. No século XXI? Sim, neste século, como nos anteriores, há sempre quem possa distorcer as coisas certas do mundo em nome do poder. Talvez seja da condição humana, mas resistir também o é. Neste momento, resistir é um gesto para o futuro.