
Numa carta aberta endereçada ao ministro da Economia e presidente do Conselho Monetário Nacional, Paulo Guedes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou os fatores que levaram a inflação a terminar o ano de 2021 em 10,06%, maior resultado desde 2015 (10,67%) e quase o triplo da meta definida pelas autoridades.
De acordo com Campos Neto, os principais motivos que levaram a esse resultado foram as pressões sobre os preços das 'commodities' (matérias-primas) e nas cadeias produtivas globais; a escassez hídrica e consequente crise energética que atingiu o Brasil no ano passado; e os desequilíbrios entre oferta e procura de consumíveis.
Ainda segundo o presidente da instituição financeira, o crescimento da inflação em 2021 não se restringiu apenas ao Brasil, avaliando tratar-se de "um fenómeno global".
"De facto, a aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenómeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes", frisou na missiva.
Campos Neto defendeu que as pressões sobre os preços das 'commodities' e sobre as cadeias produtivas globais "refletem as mudanças no padrão de consumo causadas pela pandemia, com parcela proporcionalmente maior da demanda direcionada para bens e impulsionada por políticas expansionistas".
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação oficial do Brasil no ano passado (10,06%) ficou muito acima da meta de 3,75%, com o teto máximo a chegar a 5,25%, definida pelo Conselho Monetário Nacional para 2021.
O resultado de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo dos Transportes, que apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto, 4,19 pontos percentuais (p.p.), no acumulado do ano, segundo o órgão de estatísticas do Governo brasileiro.
"O grupo dos Transportes foi afetado principalmente pelos combustíveis", explicou num comunicado Pedro Kislanov, gerente da pesquisa de inflação do IBGE.
"A gasolina acumulou alta de 47,49% em 2021. Já o etanol subiu 62,23% e foi influenciado também pela produção de açúcar", complementou o especialista.
Também influenciaram fortemente o aumento dos preços no país os segmentos de habitação (13,05%), que contribuiu com 2,05 p.p., e alimentação e bebidas (7,94%), com impacto de 1,68 (p.p.).
A subida dos preços medidos no grupo Habitação foi puxada pelo preço da energia elétrica.
"Ao longo do ano, além dos reajustes tarifários, as bandeiras foram aumentando, culminando na criação de uma nova bandeira de Escassez Hídrica. Isso impactou muito o resultado de energia elétrica, que tem bastante peso no índice", explicou Kislanov.
Face ao atual cenário, o presidente do Banco Central ressaltou que o Comité de Política Monetária (Copom) já sinalizou considerar "apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista".
Com isso, Campos Neto indica que os juros devem subir ainda mais este ano, numa tentativa de segurar os preços.
MYMM (CYR)//RBF
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